tag:blogger.com,1999:blog-20311855510199280382024-03-13T12:42:52.591-03:00Literatura em vida 2Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.comBlogger129125tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-69283880689456771392019-05-19T12:15:00.003-03:002019-05-19T12:15:49.694-03:00<span style="font-size: large;">EM DEFESA DA ESCOLA PÚBLICA, DESDE A PRÉ-ESCOLA ATÉ AS UNIVERSIDADES. DIA 30/05/2019, TODA A SOCIEDADE TEM DE ESTAR NAS RUAS, PROTESTANDO.</span>Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-22127605619491954982016-10-05T16:48:00.010-03:002020-12-21T11:13:55.292-03:00Parte IV - Os fenômenos fundamentais da Criação Literária<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span face=""verdana" , sans-serif">O gênero Lírico<br /><br />Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais) <br /> </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span face=""verdana" , sans-serif">A presente postagem terá como objetivo fazer uma análise de três poemas – gênero lírico – sob o ponto de vista da teoria defendida por Käte Hamburguer, a estudiosa alemã, que já vimos examinando. É interessante relembrar que a tese de seu livro sempre citado é de que há uma “lógica da criação literária”, identificável em seus aspectos linguísticos. Aqui enfatiza-se, resumidamente, alguns pontos levantados antes.<br />1. Exame da tensão conceitual entre “criação literária” e “realidade”, sendo que “realidade” aparecerá apenas em seu sentido de confronto ou relação com a ficção (o modo criado e representado pela literatura narrativa – romance, conto etc – e dramática): a narração, que faz as personagens falarem por si, de maneira mimética, no sentido aristotélico (não incluindo o gênero lírico) .<br />2. Como estratégia, a teórica, que deseja estabelecer a estrutura da linguagem poética (referindo-se à da ficção e do drama), examina os critérios da linguagem não poética – a comprometida com a realidade –, ou seja, o sistema enunciador da linguagem. A noção de enunciado de realidade (e não da realidade em si, observemos) fornece o critério decisivo para a classificação dos gêneros literários. <br />3. O enunciado, desse sistema enunciador da linguagem, que sempre é um enunciado de realidade, é a enunciação de um sujeito-de-enunciação sobre um objeto-de-enunciação (o conteúdo). O caráter e a função do enunciado são reconhecidos pelo enfoque no sujeito-de-enunciação. Atenção: a presença desse sujeito-de-enunciação (expressão da realidade) indica que não há ali gênero narrativo ou dramático.<br />4. Mas a fórmula da enunciação (sujeito-de-enunciação sobre um objeto-de-enunciação) é válida para a criação lírica também. O gênero lírico seria um enunciado de realidade, portanto.<br /><br />Como a atual postagem será sobre o gênero lírico, é importante atentar para alguns dados importantes:<br />A. Haverá a presença de um sujeito-de-enunciação sobre um objeto-de-enunciação. Haverá, como a estudiosa nomeia em suas aplicações sobre os textos, um polo-sujeito relacionado a um polo-objeto. Ou seja, um poema lírico é experimentado como o enunciado de um sujeito-de-enunciação (o tão discutido eu lírico).<br />B. Se o princípio estrutural do lírico é um sujeito-de-enunciação enunciando sobre um objeto (como enunciado de realidade), esse gênero não pode ser comparado com os gêneros épico e dramático (não constituídos por um sujeito-de-enunciação). Seu lugar na criação literária se situaria no sistema enunciador da linguagem. <br />Aceitos esses elementos como formadores do gênero lírico – enunciado de um sujeito sobre um objeto –, tal qual os outros enunciados de realidade, certas particularidades específicas desse gênero, porém, devem ser observadas:<br />. Mesmo um título de poema, indicando referência objetiva, não significa que as enunciações do poema visem o objeto<span face=""verdana" , sans-serif">.</span><br />. E o seu inverso: em toda enunciação lírica, se conserva uma referência objetiva: o objeto não desaparece, mesmo não sendo mais o alvo prático da enunciação, mesmo não sendo inteligível em sua substância real. O objeto permanece ponto de referência da enunciação lírica, não por seu valor próprio, mas como núcleo para ser produzida a associação de sentidos. <br />. Outro dado fundamental: a enunciação, no lírico, pode se libertar do relacionamento real com o objeto, parcial ou quase totalmente, para voltar a si mesma, ao polo-sujeito. Retira-se para o que Hamburguer chama de “contexto sem compromisso de seu poema”, libertando a enunciação de qualquer obrigação para com a realidade objetiva. <br />. O eu lírico (o sujeito-de-enunciação) tem o poder de formar uma enunciação que não vise o objeto ou o real, mas não tem o poder de eliminar-se como sujeito autêntico, real, dessa enunciação: o sujeito tem influência sobre o polo-objeto, mas não sobre o polo-sujeito. O objeto, o possível relacionamento com o real, pode ser transformado pelo sujeito. Porém<span face=""verdana" , sans-serif"> </span>o sujeito-de-enunciação não pode ser alterado. <br /><br />Experimentamos, nesse caso, o poema lírico como o campo vivencial do sujeito-de-enunciação, pois o enunciado não visa o polo-objeto, mas atrai seu objeto para a esfera vivencial do sujeito e o transforma. <br /><br />Então é importante enfatizar a diferença fundamental entre os gêneros;<br />1. A literatura ficcional é <i>mimese</i> da realidade, porque não é enunciado, é configuração, é “imitação”. É <i>mimese</i>, porque a realidade humana é o seu material. A criação literária ficcional – e aí também a dramática – transforma a realidade em não realidade, ela inventa a “realidade”. A realidade invencionada é idêntica à não realidade, à ficção. Tal mundo fictício não é o campo da experiência do autor, do narrador ou dramaturgo, mas o mundo de seres fictícios, que agem e falam por si. <br />2.<span face=""verdana" , sans-serif"> </span><b>A transformação realizada pelo sujeito-de-enunciação lírico no objeto de sua enunciação é diferente. Ele transforma a realidade objetiva em realidade subjetiva vivencial, mas que permanece como realidade</b> (como essa afirmativa é fundamental para o que vem a seguir, foi colocada em negrito).<br /><br />A teórica em questão passa, então, em seu livro já citado, a fazer a investigação de uma série de poemas sob os aspectos apresentados a respeito do gênero lírico. A presente postagem utilizará tais aspectos, igualmente, em poemas da literatura brasileira. Foram selecionados três poemas em que o objeto-de-enunciação é muito semelhante, o que facilita a comparação e ressalta os dados examinados com mais precisão, sob a visão da teoria <span face=""verdana" , sans-serif">ora</span> estudada. <br /><br />Madrugada na roça<br /><br />Luiz Guimarães Junior<br /><br />Dentro da sombra matinal os campos<br />Riem-se ao fresco pranto da Alvorada;<br />Sobre a planície verde e perfumada<br />Voa o bando dos tardos pirilampos…<br /><br />O arrieiro, inda tonto de preguiça,<br />Desperta apenas. Ao bulir das matas<br />Vêm misturar-se o eco das cascatas<br />E os lentos dobres da primeira missa.<br /><br />Sob o véu orvalhado, os olhos dela<br />Brilham fitando os meus; ao divisá-los<br />Cuido que Deus perdeu mais de uma estrela…<br /><br />Rincham, pulando os nossos dois cavalos,<br />E, através da manhã cheirosa e bela, <br />Ouve-se o canto festival dos galos!<br />(ESTRADA, Osório Duque. <i>Tesouro poético brasileiro</i>. 2. ed. Rio de Janeiro. São Paulo. Belo Horizonte: Livraria Francisco Alves. Paulo de Azevedo & Cia., 1926, p. 205.)<br /><br /><br />A expressão “madrugada na roça”, que é justamente o polo-objeto do poema, elemento da realidade objetiva, aparece uma única vez no título, mas há logo uma clara referência a ele na primeira estrofe com o termo “Alvorada”. E, ao final do poema, a pessoa leitora não terá dúvida em reconhecer esse objeto, que vai, indiretamente, sendo construído por enunciações, também referidas à realidade, ao longo das estrofes: “sombra matinal”;“Voa o bando dos tardos pirilampos…”; “tonto de preguiça”;“Desperta”;“dobres da primeira missa”; “o véu orvalhado”; ”manhã cheirosa e bela”;“o canto festival dos galos”. Tais enunciações são todas clamente identificáveis com o polo-objeto (conteúdo), elementos da realidade. Se o “pranto” da Alvorada, no segundo verso, pode criar uma certa dúvida de sentido – o que o ligaria menos ao objeto do real e mais, como associação de sentido, ao polo-sujeito –, o termo “orvalhado”, na terceira estrofe, ligado a ele, desfaz a dúvida de interpretação. <br />Há, então, algumas reflexões, que precisam ser feitas. A produção de Luiz Guimarães Junior – e o poema em questão – pertence ao Estilo de Época nomeado como Romantismo e caracterizado pelo subjetivismo, como se sabe. Nas duas últimas estrofes, o uso dos pronomes “meus” e “nossos” e do verbo “cuido”, na primeira pessoa, garante a presença desse sujeito. No entanto a análise superficial dos elementos utilizados pelo sujeito-de-enunciação aponta para o fato de que a relação estabelecida com seu objeto-de-enunciação, elemento do real, a forma de lidar com ele e caracterizá-lo, se dá de uma forma bastante objetiva: as referências trazidas ao texto para configurar “madrugada na roça” são todas bastante conhecidas por serem elementos da realidade e tradicionalmente ligadas<span face=""verdana" , sans-serif">,</span> <span face=""verdana" , sans-serif">sob a</span> experiência de quem lê, <span face=""verdana" , sans-serif">a</span>o objeto. Não são construções privativas do sujeito-de-enunciação do poema examinado. <br />O único momento mais subjetivo, ou seja, mais preso ao polo-sujeito, seria a terceira estrofe, quando os olhos da amada são comparados a estrelas (saliente-se ainda aqui que tal comparação já é uma associação de sentido de domínio geral). Porém, observe-se, a amada não é o polo-objeto do texto, mas a madrugada. <br /><br /><br />Madrugada<br /><br />O canto dos galos rodeia a madrugada<br />de altas torres de música chorosa.<br /><br />O canto dos galos sobe do mundo<br />ajudando a separação da noite e do dia.<br /><br />É melancólico levar a lua para longe do horizonte,<br />e destruir da noite estrelada as últimas flores.<br /><br />O canto dos galos incansáveis sustenta a hora indecisa.<br />Somente o esplendor da montanha ofusca as vozes <br />[que plangiam.<br /><br />Por quem plangiam essas vozes vagarosas,<br />no vasto lamento, simultâneas e isoladas? <br /><br />Pela noite – ainda inclinada para o ocidente em sono?<br />ou pelo sol – que arranca a terra ao convívio das estrelas?</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span face=""verdana" , sans-serif">(MEIRELES, Cecília. <i>Flor de poemas</i>. (Mestres da literatura brasileira e portuguesa. Rio de Janeiro. São Paulo: Record/Itay, 1983. p. 136)<br /> </span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span face=""verdana" , sans-serif">No presente poema, o termo “madrugada” do título – polo-objeto do poema, elemento da realidade objetiva – só aparece outra única vez na primeira estrofe. Novamente, ao final do poema, quem faz a leitura não terá dúvida em reconhecer esse objeto, que, igualmente ao texto anterior, vai, indiretamente, sendo construído por enunciações ao longo das seis estrofes: “ separação da noite e do dia”; “levar a lua para longe do horizonte”; “hora indecisa” etc. Algumas dessas enunciações são bastante claras. Outras, porém, como caracteriza a própria estudiosa alemã, não formam conexão objetiva, isto é, não mantêm relação direta com o objeto, são algo diferentes do uso comum, por serem associações de sentido: “… destruir da noite estrelada <u>as últimas flores</u>” (grifo meu); “...ou pelo sol – que arranca a terra ao convívio das estrelas (observe-se a personificação do astro). Já podemos apontar o fato, referido pela autora, de que tais enunciações líricas não estão orientadas pelo objeto, elemento da realidade, estando presas ao polo-sujeito, são peculiares a ele. <br />No entanto a mesma intromissão de outro conteúdo do real do poema romântico anterior, “o canto dos galos” constitui-se, no poema de Cecília Meireles, um dado marcante a ser considerado como principal sinal, no poema da escritora, desse objeto do real “madrugada”. Se, no primeiro poema, o canto dos galos é caracterizado como um canto “festival”, comemoração do início de um novo dia, atributo geralmente aderido a esse elemento do real, ou seja, <b>consequência</b> natural do surgimento da “madrugada na roça”, no poema da escritora modernista, o canto dos galos passa a ser “música chorosa” – a associação de sentido evidencia uma clara mudança avaliativa por parte do sujeito-de-enunciação em relação ao do poema romântico – e aparece como <b>causa</b> – a mudança também está nitidamente focada na visão do sujeito em relação a esse objeto – para o fenômeno da madrugada: “O canto dos galos sobe do mundo/ajudando a separação da noite e do dia”.<br />Ao contrário do poema de Luiz Guimarães Junior, em Cecília, tal intromissão traz em si um paradoxo que se caracteriza por ser um traço do gênero lírico: trazido como objeto do real para ajudar a caracterizar o enunciado “madrugada”, descaracteriza-o como elemento do real, caracteriza-o como elemento lírico, por atraí-lo do polo-objeto para a esfera do polo-sujeito, fazendo com que a conexão direta ao objeto escape imperceptivelmente. <br />Então, a relação objetiva do canto dos galos, que ecoa pela madrugada, desfaz-se inteiramente, em proveito de uma relação subjetiva e improvável estabelecida pelo eu lírico. Pois “O canto dos galos” - separação da noite e do dia – metamorfoseia-se em “vozes que plangiam”, em “vozes vagarosas”, em “vasto lamento”. <br />A primeira estrofe já introduz uma enunciação – observe-se aqui de novo o aspecto de “causa”– inteiramente estranha ao polo-objeto principal “madrugada” e, por se organizar, através de conteúdos que não se harmonizam com o objeto real, são uma visão estritamente subjetiva desse sujeito-de-enunciação em seu polo-sujeito: “… rodeia a madrugada de altas torres de música chorosa.” <br />Assim, volta-se à questão do sujeito-de-enunciação: embora não detectável, no poema, por formas linguísticas específicas de primeira pessoa, como no poema anterior, sua presença, ao contrário do poema romântico, tradicionalmente definido como subjetivo, domina a natureza das enunciações, as escolhas linguísticas para referir-se aos dois objetos do real - “madrugada” e “canto dos galos” – subjetivando-os por meio de um processo que atrai as enunciações do polo-objeto – por estranhas ao real – para o universo do polo-sujeito. Todo o exame anterior comprova a presença e domínio da vivência de realidade desse sujeito-de-enunciação e comprova o poema como um enunciado de realidade. <br /><br />Tecendo a manhã<br /><br />Um galo sozinho não tece uma manhã:<br />ele precisará sempre de outros galos.<br />De um que apanhe esse grito que ele<br />e o lance a outro; de um outro galo<br />que apanhe o grito que um galo antes<br />e o lance a outro: e de outros galos<br />que com muitos outros galos se cruzem <br />os fios de sol de seus gritos de galo,<br />para que a manhã, desde uma teia tênue,<br />se vá tecendo, entre todos os galos.<br /> <br /> 2.<br /><br />E se encorpando em tela, entre todos,<br />se erguendo tenda, onde entrem todos,<br />se entretendendo para todos, no toldo<br />(a manhã), que plana livre de armação.<br />A manhã, toldo de um tecido tão aéreo<br />que, tecido, se eleva por si: luz balão. <br />(MELO NETO, João Cabral de. <i>Poesias completas</i> – 1940-1965. 2. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1975. )<br /><br />Na criação de João Cabral, o elemento da realidade “madrugada”, dos dois textos anteriores, não aparece explicitado, mas pode ser identificado na ideia de processo sendo realizado com a forma nominal gerúndio em “tecendo” do título e do futuro em “precisará”: uma manhã é “tecida”, para usar o termo do sujeito-de-enunciação, durante a madrugada. <br />Outro aspecto da realidade presente no texto e que é ligado <span face=""verdana" , sans-serif">a</span> “manhã” (madrugada) são os galos e seu canto, que agora é nomeado como “grito”. Observe-se que essa substituição (“festival” em Guimarães e "plangente" em Cecília) não é gratuita, mas valorativa também: esvazia-se todo o peso tradicional do som do galo como algo harmônico e poético – o dicionário Aulete digital define “grito” como “som agudo e estridente” – para algo contundente e que fere os ouvidos. Mais objetividade do que os outros? <br />De início, ao se fazer a leitura da primeira estrofe, percebe-se de imediato a supressão, por elipse, no segundo e quarto versos, do termo “lançou”. Na segunda estrofe, há um intenso jogo de palavras, por semelhança de som, como a preposição “entre” e o verbo “entrem”; o substantivo “tenda” e o verbo “entretendendo”; o substantivo “tecido” e o particípio “tecido”; uma quase aliteração através de “tela”, “todos”, “tenda”, “toldo”, “tecido”, o que cria – a par de um efeito espetacular, é verdade! – uma dificuldade na leitura, com consequente dificuldade de interpretação. Isso não é objetividade, como se discrimina a seguir. <br />No poema cabralino, como em Cecília, os galos e seus gritos são novamente agentes, são eles que “tecem a manhã”, num movimento voluntário de som entre todos eles. Se, na escritora, o canto choroso dos galos separa a noite do dia, isola a madrugada com altas torres, em Cabral a construção de uma tenda, de um toldo, de um balão luminoso, se dá pelo trabalho artesanal e coletivo dos galos. A visão de ambos, plangência na primeira e tessitura de um toldo que “plana livre de armação”,<span face=""verdana" , sans-serif"> </span>sobre a madrugada ou manhã, no outro, é eminentemente uma visão restritiva aos sujeitos-de-enunciação, que abandonando arbitrariamente as características de seu objeto-de-enunciação, exilando-se do polo-objeto, reorganizando conteúdos que não se relacionam com ele, refugiam-se em seu polo-sujeito. As “altas torres de música chorosa”, que rodeiam a madrugada, no segundo poema, equivalem aos “fios de sol de seus gritos” com que os galos tecem a manhã, no terceiro poema. Isso é a vivência de realidade desses eu líricos, é subjetividade. Não há conexão objetiva com os objetos, o que há são livres associações de sentido desses eu líricos. </span></span><span style="font-weight: normal;"><span style="font-size: large;"><span face=""verdana" , sans-serif"> </span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-weight: normal;"><span style="font-size: large;"><span face=""verdana" , sans-serif">E esse é um dado bastante interessante sobre a poética de Cabral - e novo, eu diria!-, pois a constante conclusão a que se chega sobre a poética de Cabral é, por tradição, inteiramente contrária à conclusão acima estabelecida, como se vê na análise de Benedito Nunes, em seu livro <i>João Cabral de Melo Neto</i>. (Coleção Petas Modernos do Brasil/1, Petrópolis: Ed. Vozes/Instituto Nacional do Livro, 1971),: </span></span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span face=""verdana" , sans-serif"><br /><span style="font-size: small;">Nesse sentido, o racionalismo radical que o poeta proclama está bem de acordo com o tom impessoal de sua linguagem. Vem precisamente disso o que há nele de <b>clássico</b>, tomando-se a palavra como designativo do estilo de pensamento ou da atitude criadora que não se fundamenta na individualidade feita valor supremo. (grifo do autor. p. 18)</span><br /><br /><br />O estudo dos poemas “Tecendo a manhã”, que faz parte do livro <i>Educação pela pedra</i>, considerad<span face=""verdana" , sans-serif">o</span> uma poética racional e objetiva, e “Madrugada na roça”, do romântico Luiz Guimarães Junior – subjetividade em um; relativa objetividade, em outro –, sob o prisma da análise lógica de Käte Hamburguer sobre o gênero lírico, evidenciou aspectos desses dois poetas bastante diferentes dos repetidos de forma tradicional, o que revela possibilidades inimaginadas e perspectivas desconhecidas para o aprofundamento do estudo literário. <br /><br /><br />Gostaria de receber comentários dos visitantes. Saber quem são e os motivos que os trouxeram aqui. </span></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span face=""verdana" , sans-serif"><br />I would like receiving comments of the visitors. To know who they are and the motives that brought them here. Students of Letters can leave e-mails. <br /><br /><br />Convido à visitação de meus blogues <span style="color: #741b47;"><i><b>Poema Vivo</b></i> </span>(<a href="http://poemavida.blogspot.com/">link</a>) e <span style="color: #741b47;"><i><b>Conto-gotas</b></i></span> (<a href="http://conto-gotas.blogspot.com/">link</a>). </span></span></div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-67800577208618843052016-09-17T13:53:00.000-03:002016-09-17T13:53:07.762-03:00<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Houve uma ausência prolongada, mas isso se deve apenas ao fato de que está sendo preparada uma postagem em breve sobre o gênero lírico, ainda sob a visão de Käte Hamburguer. Aguardem. Até breve.</span></span></div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-35357179667475007792016-03-12T10:18:00.001-03:002016-09-29T09:55:57.997-03:00 Parte III - Os fenômenos fundamentais da Criação Literária<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-jNXik4tvR_A/VuQU1Q2P1vI/AAAAAAAAAzU/BEcvPYuHr6A0Z-X95nXAWjUPDVBobpT4w/s1600/9788527303460.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-jNXik4tvR_A/VuQU1Q2P1vI/AAAAAAAAAzU/BEcvPYuHr6A0Z-X95nXAWjUPDVBobpT4w/s1600/9788527303460.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:link { }</style>
</div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Eliane
F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - Rio de
Janeiro)</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Resumo
das postagens anteriores sobre o pensamento de Käte Hamburguer:</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">1.
ENUNCIADO DE REALIDADE: <b>A presença de um sujeito-de-enunciação
caracteriza um enunciado de realidade.</b> Não é o conteúdo de
realidade que marca tal enunciado. Mesmo que se identifiquem
elementos “invencionados” ali, fantasiados, isso não
descaracteriza a realidade, porque <b>o sujeito-de-enunciação é
sempre real.</b></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">2.
TEXTO FICCIONAL: <b>É a presença de personagens em suas ações, em
suas </b><b>próprias </b><b>falas</b> – a <i>mimese </i>aristotélica
–, que indica o texto ficcional. O narrado deixa de estar no campo
da experiência ou de vivência do sujeito-de-enunciação e passa
para o campo da vivência de personagens.</span><br />
<br /></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">3.
Há aspectos linguísticos – nomeados “sintomas” pela escritora
–, que são identificados por ela e que estabelecem, então, a
“lógica” da criação literária – tese do livro estudado –,
os quais, dependendo de sua natureza, tanto mostram o enunciado de
realidade (a não ficção), como o contrário, o texto ficcional.</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Nesta
postagem, serão mostrados os elementos que Käte Hamburguer aponta
para identificar um sujeito-de-enunciação e seu enunciado de
realidade X o texto de ficção, o que realmente interessa ao leitor.
Tal estudo foi direcionado aqui para textos de Literatura Brasileira
(ALMEIDA, Manuel Antônio. <i>Memórias de um sargento de milícias.
</i>Ed. Crítica de Cecília de Lara. Rio de Janeiro:livros Técnicos
e Científicos, 1978. p. 5) (biblioteca Universitária de literatura
brasileira: Série C, ficção, romance e conto; v. 2), acessíveis,
portanto, a todos os leitores brasileiros. </span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Texto
1</span><br />
<br /></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;">
</span></div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: small;">Uma
das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda,
cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo – <i>O canto dos
meirinhos </i>–; e bem lhe assentava o nome, porque era aí o lugar
de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava
então de não pequena consideração). Os meirinhos de hoje não são
mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses
eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um
dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o
Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós um elemento
de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos
se tocam, e estes, tocando-se fechavam o círculo dentro do qual se
passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões
principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se
chamavam o <i>processo</i>.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: small;">Daí
sua influência moral. (pág. 6)</span></div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<br /></div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<br /></div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-size: large;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-weight: normal;">Inicialmente,
observemos o dado curioso de que e</span><span style="font-weight: normal;">ste
</span><span style="font-weight: normal;">recorte</span><span style="font-weight: normal;">
de romance apresenta a mesma estrutura linguístico-lógica que o
trecho</span><b> </b><span style="font-weight: normal;">da </span><span style="font-weight: normal;">biografia
</span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">do
escultor Michelangelo Buonarroti, </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">por
exemplo</span></span></span><span style="font-weight: normal;">.
É</span><b> </b><span style="font-weight: normal;">construíd</span><span style="font-weight: normal;">o</span><span style="font-weight: normal;">
de tal modo que poderia ser proveniente </span><span style="font-weight: normal;">de
um relato histórico. Se nos fosse apresentado esse </span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">segmento,
desligado do romance, compreenderíamos aquele local retratado como </span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">o
campo de experiência do sujeito relator, podendo ser esse
considerado um sujeito-de-enunciação </span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">teórico,
como</span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
</span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">no
caso d</span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">a
biografia de </span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">Michelangelo
Buonarroti.</span></span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
Havendo no texto acima um sujeito-de-enunciação, esta</span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">mos</span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
no caso de um enunciado de realidade </span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">e
não de um </span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">texto
de ficção, segundo a autora em questão</span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">.</span></span></span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-size: large;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Se
lermos, porém, esse trecho, sabendo que é o começo de um romance,
supomos que a paisagem não faz parte do campo de experiência desse
e passa a ser cenário de outras figuras – as personagens
fictícias, as figuras de romance –, cuja entrada em cena
aguardamos. </span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-size: large;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-style: normal;">Mas
o problema não é tão simples assim. Na verdade, enfim, esse
trecho, apesar de fazer parte de um romance, segundo </span><span style="font-style: normal;">os
critérios da </span><span style="font-style: normal;">teórica,
configura-se, sim, como um enunciado de realidade. </span><span style="font-style: normal;">Comecemos
observando o dêitico “aí” (linha 3), que marca uma localização
no espaço em oposição a um hipotético “aqui”, </span><span style="font-style: normal;">não
escrito, mas</span><span style="font-style: normal;"> local de onde
fala o sujeito enunciador e que não se refere a personagens </span><span style="font-style: normal;">que
surgirão</span><span style="font-style: normal;">, mas a ele mesmo. </span></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: black; font-size: large;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-style: normal;">Examinemos
</span><span style="font-style: normal;">também </span><span style="font-style: normal;">os
tempos verbais – presentes (“formam”, “são”) e pretéritos
(“chamava”, “assentava”, “eram” etc) – e as expressões
</span><span style="font-style: normal;">temporais</span><span style="font-style: normal;">
“nesse tempo”, “de hoje”, “</span><span style="font-style: normal;">então”,
</span><span style="font-style: normal;">“do tempo do rei”: fica
bastante claro que </span><span style="font-style: normal;">as formas
temporais </span><span style="font-style: normal;">estão </span><span style="font-style: normal;">fixadas</span><span style="font-style: normal;">
em relação à experiência d</span><span style="font-style: normal;">o</span><span style="font-style: normal;">
sujeito-de-enunciação: </span><span style="font-style: normal;">o</span><span style="font-style: normal;">bserve-se
a localização precisa da esquina de “hoje”</span><span style="font-style: normal;">
– tempo atual d</span><span style="font-style: normal;">esse</span><span style="font-style: normal;">
sujeito </span><span style="font-style: normal;">e sua importância
relativamente à lembrança de</span><span style="font-style: normal;">le</span><span style="font-style: normal;">
ao que era no passado. </span><span style="font-style: normal;">O uso
das relações temporais está preso, estritamente, </span><span style="font-style: normal;">ao</span><span style="font-style: normal;">
</span><span style="font-style: normal;">conceito</span><span style="font-style: normal;">
descrito nas gramáticas: </span><span style="font-style: normal;">pretérito,
presente e passado são tempos estabelecidos por um sujeito</span><span style="font-style: normal;">.
</span><span style="font-style: normal;">Faz parte de um enunciado de
realidade, portanto, mesmo que a pessoa leitora já saiba que
entrarão, adiante, as personagens de uma ficção.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Texto
II</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;">
</span></div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: small;">Mas
voltemos à esquina.</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: small;">
…<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">......................................................................................................................</span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: small;">Entre
os termos que formavam essa equação meirinhal pregada na esquina
havia uma quantidade constante, era o Leonardo-Pataca. </span>
</div>
<span style="font-size: small;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: small;">
…<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">......................................................................................................................</span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: small;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Sua
história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe em
Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao
Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou
o emprego de que o vemos empossado, e que exercia, como dissemos,
desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei
fazer o que, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças
de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitota. O Leonardo, fazendo-se-lhe
justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, e
sobretudo maganão. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à
borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto
dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no
pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se
como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um
tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. (Mesmo romance,
ainda pág. 6) </span></span>
</div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<br /></div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">No
trecho, há muitos detalhes a serem observados. Várias expressões
ainda denunciam a presença daquele mesmo sujeito-de-enunciação
acima: “como dissemos”, “não sei fazer o que”, além do
advérbio “aqui” (X Lisboa), que demonstra, ainda sem sombra de
dúvidas, o local de onde se posiciona o sujeito narrador. A presença
desse sujeito, segundo o conceito expresso da estudiosa alemã, ainda
denuncia um enunciado de realidade, mesmo com fortes indícios da
presença do “invencionado”, do “fingido”. Seguindo a
conceituação aristotélica, a <i>mimese </i>ficcional só se
apresenta como tal, quando a personagem age, pensa, fala. Ainda não
seria o caso.</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Mas
a atenção de quem lê já dispara, pois não se pode deixar de
observar o significado dos verbos “aborrecera-se” (l.7) e
“fingiu”, que são os chamados verbos de <b>processos internos</b>,
processos esses que uma pessoa de fora não tem conhecimento sobre
outra pessoa em um cont<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">eú</span>do de realidade, mas somente em narrativas
ficcionais. Esse é um “sintoma” ou aspecto linguístico-semântico
marcante, quanto à ficção, que faz parte do que a teórica vem
nomeando como “lógica” literária.</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Outro
detalhe a ser anotado é o emprego dos <b>verbos situacionais</b>.
Käte Hamburguer chama a atenção para o fato de que, em um
enunciado de realidade, transcorrido no passado autêntico, tais
verbos, do tipo “sorrir”, “andar”, “deitar”, ou seja, de
significado extremamente momentâneo, são impossíveis de serem
usados. Eles não cabem em situações passadas reais. Registremos as
ações situacionais em “assentou-lhe uma valente pisadela no pé
direito”; “sorriu-se como envergonhada...”; “deu-lhe também
em ar de disfarce um tremendo beliscão...”. Só a narrativa
ficcional, como se vê, prevê e permite o uso largo de tais verbos.
Diz lá a autora:</span></div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;">
</span><span style="font-size: small;"><br />
</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: small;">Em
asserções sobre situações reais empregamos tais <i>verbos de
situação </i>no imperfeito somente com referência a situações
temporais próximas, porque designam uma situação concreta, ainda
visualizável e lembrada pelo enunciador. (p. 67)</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<br /></div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Já
se pode perceber, desse modo, que os verbos no passado listados nos
dois casos deixam de ser tempos gramaticais, pois
não têm mais uma
ligação específica com o sujeito de enunciação, perdendo sua
função e capacidade marcadora do passado, para serem apenas
recursos ficcionais. Têm
ligação com as personagens. O
enunciado de realidade passa
a dar lugar ao texto narrativo ficcional. Os aspectos temporais
deixam de ser os gramaticais – reais,
autênticos –, ao se
esvaziarem
do
campo da vivência do sujeito-de-enunciação, porque a narrativa
entra no campo da experiência das personagens épicas,
que fazem a literatura narrativa.</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Transcrevamos
alguns trechos das próprias palavras da estudiosa em seu citado
livro:</span></div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<br /></div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: small;">Pois
não tinha sido posto em discussão que o pretérito possa deixar de
ser, em algum lugar qualquer da manifestação verbal, a expressão
de acontecimentos passados. (p.46)</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: small;"><br /></span>
</div>
<span style="font-size: small;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: small;"><i>A
mudança de significação, porém, consiste em que o pretérito
perde a sua função gramatical, que é a de designar o passado</i><span style="font-style: normal;">.
(em itálico no livro, p. 46)</span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: small;"><br /></span>
</div>
<span style="font-size: small;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: small;"><span style="font-style: normal;">Pois
é somente a entrada em cena, ou seja, a expectativa da entrada da
eu-</span><i>origo </i><span style="font-style: normal;">fictícia dos</span><i>
</i><span style="font-style: normal;">personagens do romance, a razão
para o desaparecimento da eu-</span><i>origo </i><span style="font-style: normal;">real
e concomitantemente, em consequência lógica, para a destituição
pelo pretérito da sua função de passado. (eu-</span><i>origo </i><span style="font-style: normal;">é
um termo pelo qual a autora substitui, agumas vezes,
sujeito-de-enunciação ou sujeito/personagem </span><span style="font-style: normal;">por
questões epistemológicas</span><span style="font-style: normal;">.
p. 53)</span></span></div>
<span style="font-size: small;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: small;"><br /></span>
</div>
<span style="font-size: small;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: small;">(…)
o que significa do ponto de vista da Teoria Literária a noção de
personagem fictício e por que é apenas a sua entrada em cena que dá
à narração o caráter de não-realidade, tirando,
consequentemente, ao imperfeito o seu significado de passado. (p. 53)</span></div>
<span style="font-size: small;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: small;"><br /></span>
</div>
<span style="font-size: small;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: small;"><span style="font-style: normal;">Pois
nenhum texto pode esclarecer mais nitidamente que com este imperfeito
desaparece a eu-</span><i>origo</i><span style="font-style: normal;">
do narrador, retira-se da narração, dando lugar às eu-</span><i>origines</i><span style="font-style: normal;">
fictícias dos personagens. </span></span>
</div>
<span style="font-size: small;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">A
expressão “</span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">não
era nesse tempo de sua mocidade” </span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">n</span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">ão</span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
</span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">marca</span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
um tempo em relação ao presente do sujeito-de-enunciação, porém
em relação ao próprio tempo da narrativa de Leonardo-</span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">Pataca</span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">,
personagem que já começa a</span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
</span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">surgir
como ser agente, quando a </span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><i><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">mimese</span></span></i></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
aristotélica começa a ser introduzida. </span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">Na
mocidade, ou já na velhice, </span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">muitos</span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
</span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">anos
depois,</span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
Leonardo-Pataca continua a ser narrado no passado, </span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">que
mostra assim o enriquecimento ficcional conseguido com esse tempo
épico, em detrimento de sua temporalidade gramatical. </span></span></span></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;"> </span></span></span></span>
</div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: small;">Daqui
em diante aparece o reverso da medalha. Segui-se a morte de D. Maria,
a do Leonardo-Pataca, e uma enfiada de acontecimentos tristes que
pouparemos aos leitores, fazendo aqui ponto final. (<i>Memórias de
um sargento de milícias</i>. p. 209) </span>
</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Alguns
dados acima, secundados pela teoria da escritora alemã, devem ser
destacados e resumidos:</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">1.
Um enunciado de realidade é comandado por um sujeito-de-enunciação,
que é sempre real. Um “aqui” espacial real – lugar de onde
esse sujeito enuncia – e verbos com seus aspectos temporais também
reais, por acontecerem em relação a um “sujeito que fala”, como
conceituam as gramaticas, são exemplos linguísticos desse
sujeito-de-enunciação. Quando surge um pretérito, o tempo é
realmente pretérito. </span><br />
<br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"> </span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">2.
Há uma lógica da criação literária, da ficção, que é
construída – e identificada, posteriormente, – por aspectos
línguísticos, além da presença de personagens que agem e falam
por si mesmos:</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">a.
verbos situacionais e de processos internos – impossíveis de
serem usados em enunciados reais – que surgem na narrativa. </span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">b.
verbos que estruturalmente estão no pretérito, mas são vazios de
sua intencionalidade temporal. São mecanismos narrativos. Fazem
parte do processo mimético aristotélico, ou seja, realizam-se na
presença das personagens que agem e falam. </span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><span style="font-size: large;"></span>
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:link { }</style>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">O
estudo superficial feito aqui sobre toda a conceituação da “lógica”
literária, feita por Käte Hamburger, não substitui o mergulho em
seu livro. A intenção é apenas aguçar a curiosidade da/do visitante
e incentivá-l<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">a</span> (lo) a estudos mais aprofundados, para enriquecimento da
pessoa leitora, chegando-se até à possibilidade de questionamentos
ou refutação dos argumentos e conclusões da teórica.
Possivelmente farei, em uma outra ocasião, um estudo sobre suas
concepções sobre a narrativa em primeira pessoa, interessantes e
inovadoras, sobre as quais tenho claras discordâncias. </span><br />
<br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"> </span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Gostaria
de receber comentários dos visitantes. Saber quem são e os motivos
que os trouxeram aqui. Como não posso atender a esclarecimentos
pessoais pelo blogue, peço que estudantes de Letras, que desejarem,
postem seus e-mails, que não serão, claro, publicados. </span>
</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Convido
a quem me visita a ir, também, a meus blogues<span style="color: purple;"><b><i> Poema Vivo</i></b></span> (<a href="http://poemavida.blogspot.com/">link</a>) e<span style="color: purple;"><i><b>
Conto-gotas</b></i></span> (<a href="http://conto-gotas.blogspot.com/"> link</a>).</span></div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<br /></div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-43679576085322376742016-01-20T16:58:00.000-02:002016-01-20T16:58:15.933-02:00Parte II - Os fenômenos fundamentais da Criação Literária<div style="text-align: justify;">
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:link { }</style>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Eliane
F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - Rio de
Janeiro) </span></span>
</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Hoje
vou fazer a segunda postagem sobre a teoria de Käte Hamburger, a
estudiosa alemã sobre a qual se falou anteriormente. Serão
colocados aqui alguns pontos fundamentais anteriores, embora
resumidos, para que a/o visitante consiga acompanhar o que vem pela
frente.</span></span>
</div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">1.
Ela segue o caminho da “lógica” da criação literária, em
detrimento da busca estética. Esse encontro da “lógica” se dá,
essencialmente, por aspectos linguísticos. </span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">2.
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">Na
busca dessa lógica, f</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">ocalizará
</span></span></span><span style="font-style: normal;">a
tensão conceitual entre “criação literária” </span><span style="font-style: normal;">(apenas
como </span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">literatura
narrativ</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">a
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">e
dramática) </span></span></span><span style="font-style: normal;">e
“realidade” </span><span style="font-style: normal;">(</span><span style="font-style: normal;">“realidade”
em seu sentido de confronto ou relação com a ficção</span><span style="font-style: normal;">).</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">3.
Ela segue, ainda, o pensamento aristotélico da <i>mimesis </i>(como
sinônimo de <i>poiesis</i>) como ficção em que a personagem surge
no texto através <b>de suas próprias ações e </b><b>de sua </b><b>voz</b>.
</span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">4.
Propõe que se estude e estabeleça a linguagem da criação
literária justamente pela diferença com a linguagem da realidade.</span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">5.
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">Para
isso, vai pelo caminho inverso: </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">examina</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><b>
os critérios da linguagem não poética, </b></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><b>ou
seja, </b></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><b>da
linguagem comprometida com a realidade</b></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">,
o </span></span></span><i><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">sistema
enunciador da linguagem</span></span></i><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">,
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">do
</span></span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><b><span style="font-size: large;">enunciado
de realidade</span></b></span></span><span style="font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">.</span></span></span></span></span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;">
</span><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span>
</div>
<div align="center" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">xxx</span></span></div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span>
</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">Faremos,
então, a partir daqui um estudo do enunciado de realidade </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">-
“ </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">toda
enunciação é uma expressão da realidade”</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">,
disse a escritora –, usando para isso textos </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">pub</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">l</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">icados
aqui no </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">Brasil,
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">para
maior entendimento da pessoa leitora brasileira e porque, em síntese,
é a nossa </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">cultura</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
que nos interessa, afinal</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">.
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">Para
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">tal</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">,
n</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">o
entanto, é necessário que se </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">entre
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">antes</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
em contato com</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
certos conceitos</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
estabelecidos pela estudiosa</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">.</span></span></span></span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Enunciado
</span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">O
enunciado, que sempre é um enunciado de realidade, é a enunciação
de um sujeito-de-enunciação sobre um objeto-de-enunciação (o
conteúdo). O caráter e a função do enunciado são reconhecidos
pelo enfoque no sujeito-de-enunciação. </span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Enunciação</span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">Apresenta-se
como a estrutura sujeito/objeto da língua. No enunciado “eu
enuncio algo” (enunciação em si): o enunciado é a enunciação
de um sujeito (eu) sobre o objeto (algo). A fórmula de enunciação,
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">segundo
a filósofa alemã,</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><b>não
é válida para a criação do gênero narrativo</b></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">,
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">o
que é um dado</span></span></span><span style="font-style: normal;"><u><span style="font-weight: normal;">
extremamente relevante como diferencial para se conhecer o genêro
narrativo</span></u></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">.
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">Mas
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">ela</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
é</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
válida em todo o domínio restante da linguagem. A estudiosa também
reconhece a validez da fórmula da enunciação para a criação
lírica. Como afirma que toda enunciação é uma expressão da
realidade e fundamento para determinar a diferença “realidade” X
“criação literária”, já podemos inferir que Käte, então,
aparta o gênero lírico da criação literária e o aproxima da
realidade. </span></span></span></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">G</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">uardemos
esses dois dados:</span></span></span></span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">1.
A presença da</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
fórmula de enunciação </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">(expressão
da realidade)</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">indica
que </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><b>não</b></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
há ali</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><b>
gênero narrativo</b></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">.</span></span></span></span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">2.
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">Há
validez da fórmula da enunciação (expressão da realidade) para a
criação lírica </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">também</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">.
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><b>O
gênero lírico estaria próximo da realidade e longe da criação
literária. </b></span></span></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Objeto-de-enunciação</span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><b>O
objeto é o conteúdo da enunciação</b></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
em qualquer modalidade proposicional (enunciativa/declarativa;
exclamativa; interrogativa etc). </span></span></span></span></span>
</div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span>
</div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span>
</div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Sujeito-de-enunciação:
</span>
</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">Não
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">confundi-lo
com o </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">eu-emissor
da comunicação </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">que</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
se opõe a um “tu-receptor”, fora do texto
(eu-emisso</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">r</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">/tu-receptor).
O sujeito-de-enunciação sempre enuncia exclusivamente em relação
a seu objeto-de-enunciação </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">(sujeito/objeto).
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><b>O
su</b></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><b>jei</b></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><b>to-de-enunciação
é o elemento estrutural da estrutura da linguagem.</b></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">A
análise do sujeito-de-enunciação converte o enorme campo
temático-material dos enunciados em um sistema de três categorias:</span></span></span></span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">a.
sujeito histórico – definido, individual. ex.: presente em uma
carta.</span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">b.
sujeito teórico: geral, interindividual. ex.: responsávelpor uma
sentença matemática, texto científico ou lógico; texto teórico,
enfim.</span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">c.sujeito
pragmático: quer algo referente ao objeto-de-enunciação. ex.:
pergunta, ordem, pedido. </span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">E</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">xaminemos
o texto abaixo, retirado de </span></span></span><i><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">Michelangelo</span></span></i><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">,
da Coleção “Mestres da pintura”, da Abril Cultural, 1 ed, 1977,
página 6, </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">e
que é identificado, no final do livro como </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">de
José Arrabal Fernandes Filho, respons</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">áv</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">el
também pela pesquisa. </span></span></span></span></span>
</div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span>
</div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">Nos
seus 89 anos de vivência no mundo das artes e no universo social
europeu, Michelangelo ascendeu a uma estatura jamais alcançada
anteriormente por qualquer outro artista. Viveu um tempo de gênios e
de obras grandiosas, numa época de grandes transformações nas
mentalidades, na economia e na política. </span></span>
</div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span>
</div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Objeto-de-enunciação:
biografia do escultor Michelangelo Buonarroti.</span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Sujeito-de-enunciação:
um biógrafo (sabe-se depois), que pesquisa e escreve o texto, por
encomenda da Coleção “Mestres da pintura”. É um
sujeito-de-enunciação geral, interindividual. Está de tal modo
indefinido, que seu nome nem aparece encabeçando o texto e só ao
final da publicação, por uma questão legal, provavelmente, é
citado. Tal sujeito-de-enunciação teórico, entretanto, apesar
dessa busca pela objetividade textual, por seu apagamento, também é
um sujeito real. </span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Começamos
a reconhecer que esse é um <b>enunciado de realidade</b>. Mas,
conforme nos ensina a teórica, não é a realidade do objeto o que
dá a esse enunciado seu caráter de realidade, senão a do
sujeito-de-enunciação, sujeito identificado como real.</span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Nesse
caso, como é um enunciado e de realidade, com um
sujeito-de-enunciação real, já podemos afirmar, com Käte
Hamburguer, que não é um texto de criação literária. </span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">Para
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">enfatiz</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">ar
e esclarecer isso</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
melhor, fazendo um paralelo com o que diz </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">a
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">estudiosa</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">,
devemos nos reportar ao filme documentário “Cinco vezes Chico –
o velho e sua gente”, recentemente lançado, em que vários
pescadores, seguindo o ritual da “mentira”, fazem relatos
flagrantemente imaginativos </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">e
grandiosos</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">,
para delícia dos espectadores. </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">Pois
bem, esses relatos, ao contrário do </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">texto
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">lido
acima, embora </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">tenha
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">objetos-</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">de-enunciação</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><b>invencionados</b></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">,
</span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">termo
da própria escritora, </span></span></span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">são
enunciados de realidade, porque seus sujeitos-de-enunciação são
reais, eles são o fator decisivo. Como a escritora afirma na página
30:</span></span></span></span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;">
</span><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span>
</div>
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><i>A
enunciação sempre é real, porque o sujeito-de-enunciação é
real, porque, com outras palavras, uma enunciação somente pode ser
constituída por um sujeito-de-enunciação real, autêntico. </i></span></span>
</div>
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span>
</div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">É
somente com o esclarecimento da noção de realidade concernente ao
sujeito-de-enunciação que se pode iluminar a estrutura do enunciado
de realidade (…). </span></span>
</div>
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span>
</div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Então,
invencionado ou real, não é o objeto o marcador do enunciado, mas o
sujeito-de-enunciação. </span>
</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">No
prefácio de Manuel Bandeira a</span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
</span></span><i><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">Cartas
a Manuel Bandeira</span></span></i><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">,
de Mário de Andrade, </span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">provavelmente
livro póstumo, da Ediouro, Coleção Prestígio (sem indicação de
data ou edição), diz o poeta: </span></span></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">Tive
com Mário de Andrade uma correspondência epistolar que se iniciou
em 1922 e se prolongou sem interrupção até a sua morte. Mário
escreveu milhares de cartas. Nunca deixou carta sem resposta. Creio,
no entanto, que as de nossa correspondência têm importância
especial, porque comigo ele se abria em toda a confiança, de sorte
que estas cartas valem por um retrato de corpo inteiro, absolutamente
fiel. (p. 13)</span></span></span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">A</span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">qui
também temos um enunciado de realidade, cujo objeto-</span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">de-enunciação</span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">
são as cartas do escritor modernista Mário de Andrade e um pouco de
sua personalidade. Mas, continuemos a entender </span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">que,
</span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">o
que faz esse compromisso com a realidade, é a enunciação de um
sujeito real, aqui classificável como sujeito histórico, porque
definido, individual. Notemos a presença dos verbos e pronomes de
primeira pessoa, </span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">ali,
</span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">personalíssimos.
</span></span><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">Como
diz Käte Hamburger, na página 34: “</span></span><i><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">o
que foi enunciado é o campo da experiência ou de vivência do
sujeito-de-enunciação</span></span></i><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">.”</span></span></span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;">
</span><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span>
</div>
<div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">A
próxima postagem irá analisar, finalmente, textos narrativos,
ficcionais. Confrontando-os com os argumentos caracterizadores do
enunciado (de realidade), ressaltar e definir a “lógica” da
criação literária.</span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Gostaria
de receber comentários dos visitantes. Saber quem são e os motivos
que os trouxeram aqui. Como não posso atender a esclarecimentos
pessoais pelo blogue, peço que estudantes de Letras, que desejarem,
postem seus e-mails, que não serão, claro, publicados. </span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">I
would like receiving comments of the visitors. To know who they are
and the motives that brought them here. Students of Letters can leave
e-mails. </span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><div align="justify" style="font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm; text-decoration: none;">
<span style="font-size: large;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Convido
à visitação de meus blogues <span style="color: #4c1130;"><i><b>Poema Vivo </b></i>(<a href="http://poemavida.blogspot.com/">link</a>)<i><b> </b></i>e<i><b> Conto-gotas
</b></i>(<a href="http://conto-gotas.blospot.com/">link</a>).<i><b> </b></i></span></span></span>
</div>
</div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-24554472418826786282015-12-05T18:08:00.002-02:002015-12-23T13:47:25.128-02:00Os fenômenos fundamentais da Criação Literária - parte I<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-RfTwkroxXuw/VmNEBCQqOvI/AAAAAAAAAys/8E2t5pl2vz4/s1600/K%25C3%2584TE%2BHAMBURGER.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-RfTwkroxXuw/VmNEBCQqOvI/AAAAAAAAAys/8E2t5pl2vz4/s1600/K%25C3%2584TE%2BHAMBURGER.png" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:link { }</style>
</div>
<span style="font-size: small;">(Imagem da Internet) </span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Eliane
F.C.Lima (Registrado no Escritório de D<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">ireitos Autorais - Rio de Janeiro)</span></span><br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Conforme
anunciei, vou começar a postar alguns comentários sobre a teoria de
Käte Hamburger (1896/1992), filóloga, filósofa e teórica
literária alemã – primeira mulher a ganhar um grau de
pós-doutorado em estudos literários alemães –, desenvolvida no
livro <i>A lógica da criação literária</i><span style="font-style: normal;">,
2.ed, de 2013, da Editora Perspectiva. Minha tentativa será
exemplificar com escritores da Literatura Brasileira, para maior
entendimento e aproveitamento. </span><span style="font-style: normal;">Para
maiores informações sobre a estudiosa, remeto ao <a href="https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=https://en.wikipedia.org/wiki/K%25C3%25A4te_Hamburger&prev=search">link</a><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"> (Atenção: este link pode levar a um site com cookie.<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">/<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">Please: this link can <span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">lead to a site with cookie). </span></span></span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; direction: ltr; color: rgb(0, 0, 0); line-height: 120%; }p.western { font-family: "Liberation Serif","Times New Roman",serif; font-size: 12pt; }p.cjk { font-family: "Droid Sans"; font-size: 12pt; }p.ctl { font-family: "Lohit Hindi"; font-size: 12pt; }a:link { </style></span></span></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span lang="en-US"></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">
</span></span></span></span><br />
<div class="western" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"></span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;">Para
conhecer os critérios da linguagem poética, a autora reconhece uma
“lógica da criação literária” e opta pelo estudo desse
caminho, visitando, indiretamente, uma lógica da <i>poiesis
</i><span style="font-style: normal;">aristotélica, destacando-a da
estética da Arte Literária, diferentemente do que sói acontecer
com os teóricos dessa área. </span><span style="font-style: normal;">Vale
a pena ler seus trechos abaixo. </span></span>
</div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: medium;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"></span></span></span></span><br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:l</style><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;">A
lógica da Arte Literária tem por objeto a relação da obra com a
linguagem , mas relação diferente daquela compreendida pelas
teorias acima [a Lógica, a Filosofia, a Teoria do pensamento etc].
</span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;">Não
considera a linguagem em sua função descritiva e expressiva </span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;">nem</span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;">
por conseguinte o fato mais ou menos trivial de que a Literatura é a
arte da linguagem no sentido verbal. É antes desenvolvida a partir
da circunstância de que a linguagem como material configurativo da
criação literária é ao mesmo tempo o veículo através do qual se
realiza a vida humana propriamente dita. (VIII) </span></span></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;"> </span></span></span>
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:link { }</style>
</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;">A
lógica ou lógica linguística da criação literária (…) pode
ser designada com maior precisão como </span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><i>teoria
da linguagem</i></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;">,
que tem por objetivo examinar se e até que ponto a linguagem que
produz as formas literárias (afirmação que por ora aceitamos) é
</span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><i>funcionalmente</i></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;">
diferente da linguagem usual de pensamento e de comunicação. (</span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;">VIII</span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;">)</span></span></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;">A
lógica literária deve ser compreendida, portanto, no sentido de
</span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><i>teoria
linguística</i></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;">,
sendo que esta teoria linguística será desenvolvida a seguir como
teoria do enunciado </span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;">(...)</span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;">(IX). </span></span></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;"> </span></span></span>
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:link { }</style>
</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">Esse
afastamento que Käte faz da “estética”, optando pe</span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">lo
estudo da estrutura</span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">
“lógica”, </span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">da
regularidade </span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">da
criação literária, fica claro quando a autora mostra que as leis
lógicas de tal criação são absolutas, ou seja, </span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">a
linguagem origina literatura </span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">tanto
</span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">n</span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">uma
obra como </span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><i>O Otelo</i></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">,
de </span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">Shakespeare</span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">,
</span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">como
num conto ruim, por exemplo, sem se prender ao sentido estético. As
leis lógicas são objeto do conhecimento e desconhecem a noção de
positivo ou negativo. Nisso se afastam das leis estéticas, que, ao
contrário, são relativas. São conceitos de valor. </span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">O
tema fundamental da “lógica” estudada pela teórica alemã é a
tensão conceitual entre “criação literária” e “realidade”,
que sempre serviu de base às considerações da Teoria Literária. A
novidade é que, no livro em questão, “realidade” aparecerá
apenas em seu sentido de confronto ou relação com a ficção: </span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">de
um lado, o modo da realidade da vida humana e, de outro, o modo
criado e representado pela Literatura, o “conteúdo” das obras
literárias. </span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">Começa
aqui um dado interessante do texto em questão: Käte Hamburger,
inicialmente, chama a atenção para o fato de que essa tensão
“criação literária X “realidade” aponta na direção da
literatura narrativa (romance, conto etc) e dramática (teatro), não
incluindo o gênero lírico. A justificativa está no estudo de
Aristóteles, a sua Poética. Ao contrário do que </span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">modernamente</span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">
se entende, para o filósofo grego, o gênero lírico, a que
costumamos chamar de “poesia”, não pertenceria à </span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><i>poieses</i></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">,
mas a outro domínio das obras literárias. </span></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">O
argumento está em que Aristóteles usava, com identidade de sentido,
os termos </span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><i><span style="text-decoration: none;">poiesis
e mimeses</span></i></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">,
uso idêntico, segundo a autora, na obra de Auerbach, </span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><i><span style="text-decoration: none;">Mimesis</span></i></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">.
Para o grego, a palavra </span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><i><span style="text-decoration: none;">mimesis</span></i></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">
não significaria apenas “imitação” da realidade, mas a
introdução de personagens com seus caracteres, paixões e ações:
o escritor deveria falar o menos possível e dar voz livre às
personagens, que assumiriam, por si mesmas, suas falas. Isso seria
</span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><i><span style="text-decoration: none;">mimesis</span></i></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">:
o autor narra</span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">ria</span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">
de maneira mimética, quando </span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">os</span>
deix<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">a</span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">sse</span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">
falar por si. </span></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">Como
já se antecipa, o gênero lírico não se utiliza de personagens e
que falam prioritariamente por si. A natureza de tal gênero, segundo
ela, seria bem outra. </span></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">Então
já se deve registrar aqui uma primeira conclusão: uma forma
literária – literatura ficcional ou mimética, entenda-se –, que
faz agentes que falam por si, ou seja, seres fictícios vivendo no
modo da </span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><i><span style="text-decoration: none;">mimesis
</span></i></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">e
não da realidade (diferentemente da “lírica”), está no sistema
global da Arte Literária. Essa diferença entre narrativa-drama X
lírica tem significado para a estrutura lógica do sistema
literário. </span></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;"></span>
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:link { }</style>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">Como
se disse a princípio, a estudiosa alemã escolhe estabelecer os
critérios da linguagem poética:</span></span></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:link {</style><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">Mas,
conforme já o estabelecemos como um problema na introdução, é de
fato o material linguístico da criação literária que estabelece
finalmente o conceito de realidade e ficção e, através disso, o
conceito e o sistema da c</span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">ria</span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">ção
literária em si. (p. 6)</span></span></span></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"> </span></span></span></span>
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%; }a:link { }</style>
</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">Käte
propõe que se estude e estabeleça a diferença entre a linguagem da
criação literária e a linguagem da realidade para que surja a
estrutura que denunciará de que maneira a ficção se distingue da
realidade. É aí que se estabelece a tensão conceitual entre
criação literária e realidade. Isso propicia tanto a iluminação
da fenomenologia da criação literária quanto a da </span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">própria
</span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">realidade.
</span></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">Então,
há um dado a que se deve prestar uma atenção fundamental neste
momento e daqui para a frente: como a teórica deseja estabelecer a
estrutura da linguagem poética – entendida, veja bem, como da
ficção e do drama – começa a </span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">examinar</span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><b>
os critérios da linguagem não poética – da linguagem
comprometida com a realidade –</b></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">,
ou seja, o </span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><i><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">sistema
enunciador da linguagem</span></span></i></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><span style="font-weight: normal;">,
conforme declara na página 22: </span></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><b>
</b></span></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;"><span style="text-decoration: none;">… <span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-style: normal;">toda
enunciação é uma expressão da realidade, obtendo-se um fundamento
para determinar exatamente a relação da linguagem, e, com ela, da
criação literária, com a realidade. </span></span></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">Acrescenta
adiante “que não é a noção de realidade em si, mas a do
</span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><b>enunciado
de realidade </b></span></span></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">que
fornece o critério decisivo para a classificação dos gêneros
literários. (p. 29 – grifo meu). </span></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="justify" style="font-weight: normal; line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;">Em
nossa próxima postagem, fixaremos algumas noções, como a de
enunciado, a de enunciação, a de sujeito-de-enunciação e de
objeto-de-enunciação, todas referentes a esse primeiro conceito de
realidade. </span></span></span></span><br />
<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #4c1130;"><b>Gostaria
de receber comentários dos visitantes. Saber quem são e os motivos que
os trouxeram aqui. Como não pos<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">so atender a <span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">esclarecimentos</span> pessoais pelo blogue, peço que e</span>studantes de Letras<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">, que<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"> <span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">desejarem, postem seus</span></span></span> e-mails, que não serão<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">, claro, <span style="font-family: "verdana" , sans-serif;">publicados</span></span>. </b></span></span></span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #4c1130;"><b>I
would like receiving comments of the visitors. To know who they are and
the motives that brought them here. Students of Letters can leave
e-mails.</b></span></span></span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: large;"> </span><br /><span style="font-size: large;">Convido à visitação de meus blogues <span style="color: #0c343d;"><b><i>Poema Vivo</i> </b></span>(<a href="http://poemavida.blogspot.com/">link</a>) e<i><span style="color: #0c343d;"><b> Conto-gotas</b></span></i> (<a href="http://conto-gotas.blogspot.com/">link</a>).</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span></div>
<br />
<div style="left: -99999px; position: absolute;">
Gostaria de receber
comentários dos visitantes. Saber quem são e os motivos que os trouxeram
aqui. Estudantes de Letras podem deixar e-mails. I would like receiving
comments of the visitors. To know who they are and the motives that
brought them here. Students of Letters can leave e-mails. Convido à
visitação de meus blogues Poema Vivo (link) e Conto-gotas (link).
Copy the BEST Traders and Make Money : http://bit.ly/fxzulu<br />
<br />
Copy the BEST Traders and Make Money : <a href="http://bit.ly/fxzulu">http://bit.ly/fxzulu</a></div>
<br />
<br />
<br />
<div style="left: -99999px; position: absolute;">
Gostaria de receber
comentários dos visitantes. Saber quem são e os motivos que os trouxeram
aqui. Estudantes de Letras podem deixar e-mails. I would like receiving
comments of the visitors. To know who they are and the motives that
brought them here. Students of Letters can leave e-mails. Convido à
visitação de meus blogues Poema Vivo (link) e Conto-gotas (link).
Copy the BEST Traders and Make Money : http://bit.ly/fxzulu<br />
<br />
Copy the BEST Traders and Make Money : <a href="http://bit.ly/fxzulu">http://bit.ly/fxzulu</a></div>
</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
</div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;"></span><br />
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
</div>
<span style="font-size: large;">
</span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><br /></span></span>
<br />
<div align="center" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<br />
<style type="text/css">p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 120%;</style><span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-style: normal;"></span></span></span></div>
</div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-14385158746759713802015-10-23T18:31:00.002-02:002015-10-23T18:40:45.545-02:00FUTURA POSTAGEM <span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"> Caros amigos,</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Não tem havido muitas postagens, nos últimos meses, neste espaço. Isso se deve, unicamente, ao estudo a que tenho me dedicado de uma nova teórica literária, que desenvolve aspectos interessantes e inovadores nessa área. Pretendo usar o resultado de sua teoria em futura postagem. Abraços a todos. Agradeço a continuação da visita. </span></span><br />
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-18818732579606853142015-06-11T14:02:00.001-03:002015-12-05T18:36:33.038-02:00O inédito no recorrente, um dos traços da trama criativa de Marina Colasanti – PARTE II<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: large;">Eliane F.C.Lima<br /><br />Novo processo pode ser surpreendido no livro de contos citado na postagem anterior, de Marina Colasanti. Aliás, outros autores já se aproveitaram desse aspecto como ponto de partida. Leiamos o conto primeiramente.<br /><br />A busca da razão<br /><br />Sofreu muito com a adolescência.<br />Jovem, ainda se queixava.<br />Depois, todos os dias subia numa cadeira, agarrava uma argola presa ao teto e, pendurado, deixava-se ficar.<br />Até a tarde em que se desprendeu esborrachando-se no chão: estava maduro. <br />(COLASANTI, Marina, p. 65)<br /><br /><br />O que chama logo a atenção é o título, que mantém, indiscutivelmente, um diálogo com o romance de Jean-Paul Sarte (1905-1980), filósofo francês existencialista, livro publicado em 1945, denominado <i>A idade da razão</i>, primeiro volume da trilogia <i>Os Caminhos da Liberdade</i>. A idade da razão seriam aqueles anos em que se atinge a maturidade, provavelmente nunca antes dos quarenta anos. <br />Mas aqui há que se chamar a atenção para dois conceitos importantes no que se refere ao uso das palavras e expressões: seu sentido denotativo e conotativo. Utilizemos, novamente, o excelente espaço on-line E-Dicionário de termos literários, de Carlos Ceia, para as definições de denotação e conotação.<br /><br /><span style="font-size: small;">Se denotação pode ter uma definição simples, podemos dizer que se trata do uso da palavra em seu sentido usual ou literal. O valor referencial ou denotativo da linguagem ocorre, portanto, quando lhe atribuem o sentido dos dicionários, quando designa determinado objeto, referindo-se à realidade palpável. (Alessandra Vieira – <a href="http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=1156&Itemid=">link</a> ) </span><br /><br /><br /><span style="font-size: small;">A conotação remete para as ideias e as associações que se acrescentam ao sentido original de uma palavra ou expressão, para as completar ou precisar a sua correcta aplicação num dado contexto. Por outras palavras, tudo aquilo que podemos atribuir a uma palavra para além do seu sentido imediato e dentro de uma certa lógica discursiva entra no domínio da conotação. (<a href="http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=694&Itemid=2">link</a> )</span><br /><br />Sendo assim, a palavra “maduro”, denotativamente, refere-se a legumes e frutas, quando, completado seu ciclo, estão em ponto de serem colhidos e consumidos. Conotativamente, “maduro” pode referir-se a uma ideia ou projeto, quando estão num ponto ideal de acabamento; a sentimento, quando se refere, por exemplo, a um relacionamento seguro entre duas pessoas; a uma pessoa, quando atinge uma idade em que as decisões ou atitudes sempre se dão após uma reflexão saudável. <br />Ao iniciar a leitura do conto, induzida pelo título e pela presença da personagem humana, a pessoa leitora seria levada ao “maduro” conotativo, se não fosse surpreendida – e atropelada interpretativamente – pela denotação do “pendurado” e do “se desprendeu esborrachando-se no chão”, o que leva à ideia de fruto e seus atributos naturais ao termo analisado. A força literária do conto está exatamente aí, nesse jogo denotação/conotação, na interseção desses dois níveis semânticos no desenvolvimento do tema. Essa interseção, do mesmo modo que no conto analisado na postagem anterior, deixa quem lê no instável território do <i>nonsense.</i> <br />Vale a pena se observar ainda que, mais frequentemente, o recurso literário está em atribuir um campo conotativo ao denotativo, como se viu no conto “No mar sem hipocampos”. No lido acima, a escritora surpreende pela ousadia: ao final da leitura, confusamente, quem lê, percebe que a personagem cair de maduro não se daria por sensatez da idade, isto é, pelo recurso da conotação, mas pela mesma motivação de um fruto consumível, qual seja, um fato marcado pela denotação. Tal conclusão, porém, ainda é precipitada e não se instala, porque não se confirma: o pretenso uso, marcado pela denotação, por ser atribuído a um ser humano, acaba sendo surpreendido como uma verdadeira acrobacia conotativa de criação literária. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #4c1130;"><b>Gostaria
de receber comentários dos visitantes. Saber quem são e os motivos que
os trouxeram aqui. Estudantes de Letras podem deixar e-mails.</b></span></span></span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #4c1130;"><b>I
would like receiving comments of the visitors. To know who they are and
the motives that brought them here. Students of Letters can leave
e-mails.</b></span></span></span><br />
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><span style="font-size: large;"> </span><br /><span style="font-size: large;">Convido à visitação de meus blogues <span style="color: #0c343d;"><b><i>Poema Vivo</i> </b></span>(<a href="http://poemavida.blogspot.com/">link</a>) e<i><span style="color: #0c343d;"><b> Conto-gotas</b></span></i> (<a href="http://conto-gotas.blogspot.com/">link</a>).</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif;"><br /></span></div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-5219166586905896742015-05-31T12:46:00.000-03:002015-06-11T14:01:45.835-03:00O inédito no recorrente, um dos traços da trama criativa de Marina Colasanti - parte I<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Eliane F.C.Lima<br /> </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;">Hoje pretendo comentar um aspecto que considero bastante relevante: de onde quem escreve pode partir para criar um texto literário. Conforme comentário meu em outra postagem, já tínhamos percebido que o ponto de partida de Machado de Assis, em <i>Dom Casmurro</i>, era o <i>Otelo</i>, de Shakespeare, inclusive, a citação ao texto anterior sendo frequente no próprio romance. <br />Esse olhar sobre algo pré-existente à obra, ao qual me referirei agora, é apenas uma possibilidade para a/o artista da palavra, claro. Não se deve tomar como norma e se passar a procurar sempre uma pré-existência como gênese de um texto literário. Tal procedimento, entretanto, pode ser identificado, com frequência, no livro <i>Contos de amor rasgados </i>– Rio de Janeiro, editora Rocco, 1986 –, de Marina Colasanti, e deve ser entendido, apenas, como uma característica de tal obra, sem generalizações sobre a autora nem sobre a literatura como um todo. Deve ser percebido, além disso, que esse “recorrente”, ou seja, o material que é chamado aqui de “pré-existente” e do qual parte a escritora para criar o seu “inédito”, tem naturezas as mais diversas, as quais serão analisadas em momentos diferentes.<br />Nesta parte I, iremos fazer uma leitura de dois contos, onde se podem identificar, como ponto de partida, duas expressões que são corriqueiras, fazem parte do senso comum e não trazem em si nada de extraordinário. Extraordinário, porém, serão os textos que Marina constrói e o efeito que obtém.<br /><br /><br />Melhor um mágico na mão do que dois voando<br /><br />Discretamente maquilado, sorri o pálido rosto do mágico debaixo dos refletores, enquanto no alto a mão volteia, se espalma, e em gesto de quase dança mergulha seca na cartola. <br />Mas algo parece retê-la lá dentro. Esforça-se o mágico, puxa, joga para trás o peso do corpo. Tenta sorrir para o público. E já o antebraço afunda na cartola, some o cotovelo. Ainda luta cravando a outra mão no tampo da mesinha. Depois os pés. Inútil. O ombro é tragado no vórtice das abas, nem se salvam o pescoço esticado, a cabeça. Diante da platéia expectante que acredita tratar-se de um novo truque, todo o corpo desaparece pouco a pouco, num último adejar das caudas do fraque.<br />No fundo de cetim preto, triunfa o coelho. Pela primeira vez, conseguiu botar um mágico na cartola. </span><br /><span style="font-size: large;">(COLASANTI, Marina, p. 149)<br /><br />O título do conto já nos remete à anterioridade do ditado “Mais vale um pássaro na mão do que dois voando”. Mas o texto em si parte de antigo e conhecidíssimo truque dos mágicos de tirarem coelhos de suas cartolas. Nada de excepcional. O final, no entanto, inverte a lógica da ação. Como se perceberá, essa é uma das técnicas dos contos da obra. É o uso novo sobre o velho, digamos assim, que surpreende quem lê: a subversão torna-se o literário. Podemos ir além e surpreender uma vingança (gostará um coelho de ficar preso em uma cartola e ser retirado pelas orelhas?) do “explorado”, chamemos desse modo. Vê-se que aquele “melhor” do título, mais do que uma escolha do narrador, já é um atributo subjetivo do “vingador” antecipando o que virá no conto. O final de um outro conto – “Com a chegada da primavera”, p. 79 – é também bastante enfático e esclarecedor nesse aspecto:<br /><br />Aproximou-se o homem com seu canivete e, escolhendo as mais bonitas, degolou-lhes o caule, empunhando o buquê que levaria para enfeitar alguma casa. Não teve tempo de fazê-lo. Antes que deixasse o jardim, as flores o</span> <span style="font-size: large;">arrancaram, daninho. <br /><br />Como se vê, o ditado “Um dia é da caça, outro do caçador” – ditados são exemplos concretos da sabedoria coletiva anterior a qualquer texto – pode ter uma realização literária. <br /><br />O segundo conto também parte de uma ação corriqueira e que acompanha o ser humano, desde o primitivo: pescar peixes. Mas a escritora consegue criar um texto atual, que, mais do que ficcional, tem um forte apelo poético.<br /><br />No mar sem hipocampos<br /><br />Assim que anoiteceu, saiu para pescar. Peixes não, estrelas.<br />Afastou-se da casa, atravessou um campo até o seu limite. <br />Na linha do horizonte, sentado à beira do céu, abriu a caixa das frases poéticas que havia trazido como iscas. Escolheu a mais sonora, prendeu-a firmemente na rebarba luzidia.<br />Depois, pondo-se de cabeça para baixo, lançou a linha no imenso azul, deixando desenrolar todo o molinete.<br />E paciente, enquanto a Lua avançava sem mover ondas, começou a longa espera de que uma estrela viesse morder o seu anzol.<br />(COLASANTI, Marina, p.159) <br /><br /><br />De início, podemos observar o título novamente. O termo “hipocampo” substitui a palavra “peixes”, que seria o esperado. Então, a quebra do “que seria o esperado” já começa a instaurar o <i>nonsense</i>, que é a grande marca dos textos abordados e domina o acima do mesmo modo. E não é só o significado do hipocampo natural – cavalo-marinho – que devemos procurar: hipocampo é também uma personagem fantástica mitológica, metade cavalo, metade peixe, o que nos remete ao gênero “maravilhoso” da literatura. O espaço on-line E-Dicionário de termos literários (<a href="http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=456&Itemid=2">link</a>), de Carlos</span> <span style="font-size: large;">Ceia, em texto de Isabel Mascarenhas, nos dá uma descrição.</span><br /><br />MARAVILHOSO<br /><br />Género da literatura do (sobre)natural teorizado por Tzvetan Todorov em Introduction à la littérature fantastique (1970). Segundo este autor, o maravilhoso é o género onde se incluem as obras nas quais não é possível qualquer explicação racional para os fenómenos (sobre)naturais. O herói e o leitor implícito de uma narrativa maravilhosa aceitam sem surpresa novas leis da natureza. A definição do género maravilhoso é determinada na relação que Todorov estabelece com os géneros que lhe são próximos, isto é, o género fantástico em que o herói e o leitor mantém a hesitação entre uma explicação natural e (sobre)natural dos fenómenos ao longo da narrativa e o género estranho onde é fornecida uma explicação racional dos fenómenos insólitos, mantendo-se desse modo intactas as leis da natureza. Seguindo o critério dicotómico racionalidade/irracionalidade, os três géneros distribuem-se esquematicamente em género estranho/fantástico/maravilhoso.<br /><br /><span style="font-size: large;">Vemos, logo, que esse “mar sem hipocampos” é o céu e mesmo não sendo marcado por tais seres naturais e/ou mitológicos, através da ação da personagem que pesca, mantém seu aspecto de maravilhoso: as expressões “pescar”, “iscas”, “linha”, “molinete”, “ondas”, “morder o seu anzol” são alteradas em sua “normalidade” por outras, que, relacionadas a elas, pertencem a outro campo semântico </span></span><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;"> –</span></span>“estrelas”, “sentado à beira do céu”</span></span><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;"> –</span></span> e, acompanhadas de outras expressões </span></span><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;">–</span></span> “frases poéticas”, “a mais sonora”, “de cabeça para baixo”, “a Lua avançava sem mover ondas” </span></span><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;">–, inauguram outra isotopia</span></span>.*<br />A poeticidade do texto, então, está no fato de que, para pescar estrelas, é necessário frases poéticas como iscas. Não menos, a humanidade da pessoa leitora. </span></span><br />
<br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;">* Para outro nível de interpretação e leitura. </span></span><br />
<br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #4c1130;"><b>Gostaria de receber comentários dos visitantes. Saber quem são e os motivos que os trouxeram aqui. Estudantes de Letras podem deixar e-mails.</b></span></span></span><br />
<br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;"><span style="color: #4c1130;"><b>I would like receiving comments of the visitors. To know who they are and the motives that brought them here. Students of Letters can leave e-mails.</b></span></span></span><br />
<br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;"> </span><br /><span style="font-size: large;">Convido à visitação de meus blogues <span style="color: #0c343d;"><b><i>Poema Vivo</i> </b></span>(<a href="http://poemavida.blogspot.com/">link</a>) e<i><span style="color: #0c343d;"><b> Conto-gotas</b></span></i> (<a href="http://conto-gotas.blogspot.com/">link</a>).</span></span></div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-89617144898429805852015-04-07T16:48:00.000-03:002015-04-07T17:01:27.159-03:00"O QUINZE": testemunho da seca, da exploração social e da ultrapassagem dos limites ficcionais de uma mulher - PARTE II<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">O romance <i>O quinze</i>, de Rachel de Queiroz, tem como tema a seca, mas traz também duas personagens principais – os primos Conceição e Vicente –, que, por assim dizer, conduzem tal enredo. Todas as outras personagens estão a elas ligadas, de uma forma ou de outra. Pertencem os dois, diferentemente do colono retirante, a estrato social privilegiado, pois proprietários de fazenda. <br />Conceição é professora e, apesar de ter a avó que a criou, morando na fazenda, vive na cidade, onde trabalha. É delineada como diferente das mulheres de sua classe e de seu tempo, pois é culta, lê livros não normalmente dirigidos a moças solteiras e se interessa pela análise de questões sociais e pelas pessoas desvalidas pela sorte. Seu perfil literário apresenta, assim, alguém especial em relação ao conjunto das demais personagens. <br /><br /><br /><span style="font-size: small;">Todos os anos, nas férias da escola, Conceição vinha passar uns meses com a vó (que a criara desde que lhe morrera a mãe), no Logradouro, a velha fazenda da família, perto do Quixadá.<br />Ali tinha a moça o seu quarto, os seus livros, e, principalmente, o velho coração amigo de Mãe Nácia.<br />Chegava sempre cansada, emagrecida pelos dez meses de professorado; e voltava mais gorda com o leite ingerido à força, reposta de corpo e espírito graças ao carinho cuidadoso da avó.<br />Conceição tinha vinte e dois anos e não falava em casar. As suas poucas tentativas de namoro tinham-se ido embora com os dezoito anos e o tempo de normalista; dizia alegremente que nascera solteirona. <br />Ouvindo isso, a avó encolhia os ombros e sentenciava que mulher que não casa é um aleijão...<br />– Esta menina tem umas ideias!<br />Estaria com a razão a avó? Porque, de fato, Conceição talvez tivesse umas ideias; escrevia um livro sobre pedagogia, rabiscara dois sonetos, e às vezes lhe acontecia citar o Nordau ou o Renan da biblioteca do avô.<br />Chegara até a se arriscar em leituras socialistas, e justamente dessas leituras é que lhe saíam as piores das tais ideias, estranhas e absurdas à avó. (p.5)</span></span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"> </span><br /><span style="font-size: small;">Vicente riu, abanando a cabeça. Depois perguntou já sério:<br />– Foi por causa da doença que veio só?<br />Ela riu de novo:<br />– Só? Eu sempre ando só! Tinha que ver, de cada vez que fosse à escola, arranjar companhia...<br />– Pois eu pensei que não se usava uma moça andar só, na cidade.<br />Dona Inácia ajuntou:<br />– Agora é assim... eu também estranhei... (p.47-48)</span></span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"> </span><br /><span style="font-size: small;">Conceição estava na escola.<br />Saía de casa às dez horas e findava a aula às duas. Da escola ia para o Campo de Concentração, auxiliar na entrega dos socorros.<br />E só chegava de tardinha, fatigada, com os olhos doloridos de tanta miséria vista, contando cenas tristes que também empanavam de água os óculos da avó. (p.45)</span></span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"> </span><br /><span style="font-size: small;">– Por que Conceição não aparece?<br />– Está na escola; isto é, a estas horas deve estar no Campo de Concentração.<br />– Fazendo o quê?<br />– Ela faz parte do grupo de senhoras que distribuem comida e roupa aos flagelados. (p.47)</span></span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"> </span><br /><span style="font-size: small;">Dona Inácia tomou o volume das mãos da neta e olhou o título:<br />– E esses livros prestam para moça ler, Conceição? No meu tempo, moça só lia romance que o padre mandava...<br />Conceição riu de novo:<br />– Isso não é romance, Mãe Nácia. Você não está vendo? É um livro sério, de estudo...<br />– De que trata? Você sabe que eu não entendo francês...<br />Conceição, ante aquela ouvinte inesperada, tentou fazer uma síntese do tema da obra, procurando ingenuamente encaminhar a avó para suas tais ideias:<br />– Trata da questão feminina, da situação da mulher na sociedade, dos direitos maternais, do problema... (p. 80)</span></span></span><br />
<br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"> </span><br />O primo Vicente também se apresenta como uma individualidade em relação às demais personagens. Ao contrário do irmão Paulo, com carreira universitária, sustentado pelos pais em seus estudos e divertimentos na cidade, Vicente entrega-se ao trabalho extenuante, gerindo os colonos, enfrentando a seca para fazer a fazenda render e sustentar os pais e o luxo do irmão, que, formado, lá fica. Forte e bonito, tímido e sério, diferentemente de muitos outros donos de terra, luta para manter seus rebanhos e seus empregados, reconhecendo sua penúria e direitos.<br /><br /><br /><span style="font-size: small;">– Por falar em deixar morrer... O compadre já soube que a Dona Maroca das Aroeiras deu ordem pra, se não chover até o dia de São José, abrir as porteiras do curral? E o pessoal dela que ganhe o mundo... Não tem mais serviço pra ninguém.<br />Escandalizado, indignado, Vicente saltou de junto da jurema onde se encostava:<br />…............................................................................................................ – E se a rama faltar, então se pensa noutra coisa. Também não vou abandonar meus cabras numa desgraça dessas... Quem comeu a carne tem de roer os ossos... (p.6)</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"> </span><br />Quem lê a trama naturalmente se depara com a aproximação de Conceição e Vicente, atraídos pela afinidade de seus temperamentos independentes e de seu entendimento sobre a injustiça das disparidades sociais. Aquela dessemelhança de cada um dos dois em relação às demais personagens torna-se a semelhança que os aproxima. <br /><br /><span style="font-size: small;">Havia de ser quase um sonho ter, por toda a vida, aquela carinhosa inteligência a acompanhá-lo. E seduzia-o mais que tudo a novidade, o gosto de desconhecido que lhe traria a conquista de Conceição, sempre considerada superior no meio das outras, e que se destacava entre elas como um lustro de seda dentro de um confuso montão de trapos de chita. (p.27-28)</span><br /><br />Conceição e Vicente são marcados positivamente em relação a todas as demais personagens e a sedução entre ambos reforça esse dado, o que faz com que a pessoa leitora acabe sendo cooptada pelos dois protagonistas e por todos os valores que carregam. Mesmo que não intencionalmente, o caráter e as ações das duas personagens – bem como suas palavras, evidentemente, como reflexo desses dois aspectos – passam a ser assinalados por um sinal de exemplo afirmativo.<br />Porém, por uma informação não de todo confirmada no texto, Conceição, por uma questão de ciúme, desconfia da fidelidade de Vicente e os dois acabam se afastando. O ideal para quem faz a leitura e já se embebeu da positividade daqueles dois caracteres seria que as duas personalidades especiais se completassem. Mas as escolhas da escritora são as escolhas da escritora. Desde a primeira página do romance se vê que o tema não é suave e que não é um texto romântico, semelhante aos do século XIX, bem longe disso. Assim como a seca vem mudar todo planejamento e a esperança daqueles que trabalham a terra, assim também os acidentes sentimentais, os enganos afastam aqueles que deveriam ficar juntos.<br /><br /><br /><span style="font-size: small;">O bonde chegou.<br />Ainda sob a impressão da conversa com a Chiquinha Boa, a moça pensava em Vicente. E novamente sofreu o sentimento de desilusão e despeito que a magoara quando a mulher falava.<br />“Sim, senhor! Vivia de prosear com as caboclas e até falavam muito dele com a Zefa do Zé Bernardo!”<br />E ela, que o supunha indiferente e distante, e imaginava que, aos olhos dele, todo o resto das mulheres deste mundo se esbatia numa massa confusa e indesejada... <br />Que julgara ter sido ela quem lhe acordara o interesse arisco e desdenhoso do coração!...<br />“Uma cabra, uma cunhã à toa, de cabelo pixaim e dente podre!...” (p. 37)</span><br /><br /><span style="font-size: small;">Mas voltou, sacudindo os cabelos soltos, com os grampos na mão.<br />– A Chiquinha me contou também uma coisa engraçada... Engraçada, não... tola... Diz que estão falando muito do Vicente com a Josefa do Zé Bernardo...<br />A avó levantou os olhos:<br />– Eu já tinha ouvido dizer... Tolice de rapaz!<br />A moça exaltou-se, torcendo nervosamente os cabelos num coque no alto da cabeça:<br />– Tolice, não senhora! Então Mãe Nácia acha uma tolice um moço branco andar se sujando com negras? (p. 39)</span><br /><br />Mas é aqui que o problema surge, não na “tolice” de Vicente, mas nas palavras de Conceição, em sua avaliação, em sua argumentação – “uma cabra”, “uma cunhã à toa”, “cabelo pixaim” – arrematada pela frase: “um moço branco andar se sujando com negras?”. Sua indignação vai além de uma cena de ciúme e o texto acaba revelando o que até então escondera: o real sentimento de superioridade da moça em relação às classes desfavorecidas que os donos de fazenda da época exploravam, um sentimento de desprezo de pessoa branca em relação ao negro, que, não por acaso, estava preso nessas mesmas classes das quais se tirava partido. Surpreendida fica a pessoa leitora com uma faceta de Conceição que não tinha sido suspeitada. Se Vicente estivesse mesmo cometendo um erro, não seria o de se sujar com negras, mas o de aproveitar-se de sua condição de superioridade econômica e de patrão para obter favores de sua colona. Sabia disso a mesma Zefa do Zé Bernardo, como se vê no trecho: <br /><br /><span style="font-size: small;">Conceição estranhou a história e não se pôde conter:<br />– E ele tem alguma coisa com ela?<br />A mulata encolheu os ombros:<br />– O povo ignora muito... Se tiver, pior para ela... Que moço branco não é pra bico de cabra que nem nós... (p. 36)</span></span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"> </span><br />Entretanto, com a continuação da leitura, mais surpresa fica essa mesma pessoa por não ver nenhum abalo na condição de Conceição como personagem de peso estrutural da narrativa. Não terá o narrador – limitemo-nos ao narrador, figura estritamente literária – nenhuma consciência do choque em que se vê essa testemunha leitora do conteúdo do discurso preconceituoso da protagonista? E o alcance que esse discurso pode ter, estando quem lê já exemplarmente “cooptado” pela personagem, verbo que foi usado anteriormente?<br />Na verdade, sobre toda essa dúvida anterior, há que se trazer um dado extremamente relevante para consideração, ou seja, o ambiente sociocultural da primeira publicação: o romance de Rachel de Queiroz saiu em 1930 e é necessário que o texto, então, seja analisado sob aquelas condições. Provavelmente para o público que recebeu o romance, à época, o discurso de Conceição não deve ter parecido paradoxal em relação a suas ideias, não deve nem ao menos ter chamado sua atenção, possivelmente sua indignação tendo sido encarada como perfeitamente natural e cabível, ao contrário da receptora/do receptor atual, imbuído já de um espírito crítico em relação às posições preconceituosas. Lembremo-nos dos livros para o público infantil de Monteiro Lobato, como <i>Caçadas de Pedrinho</i>, lançado em 1933, aplaudidos, então, e que hoje indignam um outro público. <br />A “Teoria da Recepção” ou “Estética da Recepção” reflete exatamente sobre esse fato: segundo essa teoria, as interpretações estão profundamente ligadas ao momento histórico, ou seja, na leitura de uma obra do passado, em um outro momento, há a possibilidade de surgirem novos significados para o texto, antes não revelados e que dependem da nova posição histórica de quem lê. O encontro dos horizontes de expectativas da obra (ver esclarecimentos <a href="http://literaturaemvida2.blogspot.com.br/2010/08/o-novo-tom-das-narrativas-de-mulheres.html">aqui</a>) com a da/do agente dessa nova leitura em momento histórico diferente do de sua criação vai produzindo novos sentidos.<br />Dessarte, o contorno da personagem Conceição pode ter mudado, por uma leitura de século XXI. Quem sabe o que lhe descobrirá – afinidade ou rejeição – outro ser leitor, nesses tempos tão contraditórios de redes sociais?</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"></span></span><br />
<br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;">QUEIROZ, Rachel.</span><i><span style="font-size: small;"> </span><span style="font-size: small;">Obra reunida</span></i><span style="font-size: small;"><i>. V.I (O quinze, João Miguel, Caminho de pedras</i>). Rio de Janeiro: José Olympio, 1989.</span></span></span><br />
<br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"> <span style="font-size: large;">Visite também meus blogues <span style="color: purple;"><b><i>Poema Vivo</i></b></span> (<a href="http://poemavida.blogspot.com/">link</a>) e <span style="color: purple;"><i><b>Conto-gotas</b></i></span> (<a href="http://conto-gotas.blogspot.com/">link</a>). </span> </span><i><br /></i><br /></span></span></div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-4693888947341578582015-02-06T10:16:00.005-02:002015-04-07T15:25:32.859-03:00"O QUINZE": testemunho da seca, da exploração social e da ultrapassagem dos limites ficcionais de uma mulher - PARTE I<div align="justify" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-weight: normal;"></span></span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;"></span></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;"></span></span><span style="font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">Eliane
F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais – RJ)</span></span>
</span></span></div>
<div align="justify" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></span>
<br />
<div align="justify" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">Com
a seca que o Sudeste vem enfrentado, neste ano de 2015 – o país
tem ignorado o sofrimento do Nordeste todos esses anos –, me veio à
lembrança o romance</span></span><i><span style="font-weight: normal;">
O Quinze </span></i><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">(publicado
em 1930)</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">,
de Rachel de Queiroz (1910 - Ceará - 2003 - Rio de Janeiro), a primeira mulher a ser eleita para a Academia Brasileira de Letras, em 1977. O tema subjacente, através da ficção, é a
terrível seca de 1915 que fez com que milhares de nordestinos,
abandonados à própria sorte por aqueles que os exploravam durante o
resto do tempo, tivessem de abandonar suas casas – a maioria
trabalhava como colono em terras de pequenos proprietários ou
latifundiários – e fugir para a capital, onde havia alguma ajuda
do governo. Praticamente isolados em guetos </span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">(remeto
para o <a href="http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/ceara-campos-seca-434018.shtml">link</a>, onde há notícia mais detalhada sobre isso.)</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">,
muitos continuavam a passar a fome e a morte, as quais enfrentaram na
fuga, sob o sol abrasante. </span></span><i><span style="font-weight: normal;">A
bagaceira</span></i><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">,
de José Américo de Almeida (</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">publicado
em 1928</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">)
trata do mesmo tema, bem como, mais tarde, </span></span><i><span style="font-weight: normal;">Vidas
secas </span></i><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">(1938)</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">,
de Graciliano Ramos.</span></span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></span>
<br />
<div align="justify" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">O
</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">ro</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">mance
da escritora, escrito aos 19 anos, foi recebido com aplausos, mas uma
sociedade ainda muito mais machista do que hoje, </span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">gostou
do texto e, por isso, </span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">duvidou
da autoria de mulher. </span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">A
autora fugia dos temas intimistas que as escrito</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">r</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">as
de então perseguiam. </span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">O
próprio Graciliano Ramos confessa que, quando leu, imaginou que
fosse “pseudônimo de sujeito barbado.” </span></span></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></span>
<br />
<div align="justify" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">A
explicação literal e sem rodeios esta</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">ria</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">
nas palavras de outro </span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">analista,
Augusto Frederico Schmidt, que elogiando o romance diz: </span></span></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></span>
<br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></span>
<br />
<div align="justify" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif; font-size: small;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">Nada
há no livro de D. Rachel de Queiroz que lembre, nem de longe, o
pernosticismo, a futilidade, a falsidade da nossa literatura
feminina. É o livro de uma criatura simples, grave e forte, para
quem a vida existe. </span></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></span>
<br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">Numa
penada só, elogia a escritora, mas ofende todo um segmento enorme da
sociedade, o das mulheres e de suas representantes escritoras.
Observe-se que, seu critério e definição de “vida” passa,
exclusivamente, pela maneira masculina de ver o mundo, o mais não
“existe”. </span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">Como
bom representante da sociedade patriarcal que é, para Schmidt, é o
universo feminino que não existe.</span></span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">Adiante,
</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">é
possível se surpreender, </span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">sem
possibilidade de dupla interpretação de seu pensamento, </span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">q</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">u</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">e
conceito tem sobre </span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">uma
mulher, </span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">pois
vai bastante</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">
além de refletir sobre escritoras:</span></span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></span>
<br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></span>
<br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></span>
<br />
<div align="justify" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif; font-size: small;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">Vê-se
bem que a Autora ficou dentro da sua experiência – contentou-se
com o que podia fazer –, não foi além das suas possibilidades
psicológicas e por isso foi feliz. </span></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></span>
<br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></span>
<br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></span>
<br />
<div align="justify" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">É
revoltante o encontro de quem lê </span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">com
</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">as
expressões “ficou dentro”, “contentou-se”, “</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">podia”,
</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">“não
foi além”: o elogio à escritora se deve, justamente, por ela não
ter pretendido ultrapassar os limites que a sociedade rigidamente
estabelecia para as mulheres e que ele aplaude com veemência. E esse
home</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">m</span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">
é um formador de opinião, </span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">cuja
publicação saiu em “As novidades literárias, artísticas e
científicas”, publicação da época. A avaliação dele a
respeito das mulheres é tão depreciativa que, sem muito esforço,
pode-se pressentir que ele exorta escritoras – lembremo-nos do que
ele achava sobre a literatura feminina de uma maneira geral – a não
irem além de “sua experiência “ – de mulher? – e de “suas
possibilidades psicológicas” – as mulheres seriam limitadas
nesse quesito!</span></span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></span>
<br />
<div align="justify" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;">Por
outro lado, embora, segundo ele, a autora se prendesse a seus limites
psicológicos – ela deve ter percebido que “não passava de uma
mulher”, segundo a letra da canção de Martinho da Vila (recomendo
a leitura da letra e crítica sobre ela no <a href="http://letras.mus.br/martinho-da-vila/47333/">link</a>.) –, seu tema não é o mesmo da literatura intimista e subjetiva
das escritoras de então, fase fundamental e compreensível no começo
da assunção das mulheres da reflexão sobre si mesmas. Segundo ele,
ela pega um tema masculino – a reflexão sobre a vida social, ou
seja, fora dos limites femininos do </span><i>domus</i><span style="font-style: normal;">
(da casa) –, daí o estranhamento de Graciliano, que “existe”
na “vida”, mas o trata sem a arrogância que, de acordo com Schmidt, uma mulher não
deve ter. Que diria ele hoje sobre um romance como <i>O matador</i>, de Patrícia Melo?</span></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></span>
<br />
<div align="justify" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;">Na
próxima postagem, iremos refletir sobre certos aspectos do texto da
escritora.</span></span></span></div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></span>
<br />
<div align="justify" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span></span>
<br />
<div align="justify" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;">Visite
também meus blogues <span style="color: purple;"><b>Poema Vivo</b></span> (<a href="http://poemavida.blogspot.com/">link</a>) e <span style="color: purple;"><b>Conto gotas</b></span> (<a href="http://conto-gotas.blogspot.com/">link</a>).</span></span></span></div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-52047429353333180212015-01-04T16:40:00.000-02:002015-01-04T16:44:35.411-02:00Os diversos caminhos do discurso da poesia: Murilo Mendes<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"></span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Murilo Mendes (1901- Juiz de Fora/ 1975 – Portugal) foi um poeta brasileiro. Participou do Movimento Modernista. </span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Passou
muitos anos de sua vida pela Europa, divulgando a cultura e a
literatura brasileiras. Embora possam ser identificadas em sua poesia
várias tendências, percebe-se em grande parte delas muitos traços do
surrealismo. Recomendo a visita, neste mesmo blogue, a duas postagens
que contém poemas e reflexões sobre o poeta (<a href="http://literaturaemvida2.blogspot.com.br/2010/07/palavras-sobre-palavras-18.html">link1</a> e <a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2031185551019928038#editor/target=post;postID=1636607743596857281;onPublishedMenu=posts;onClosedMenu=posts;postNum=0;src=link">link2</a>). Vamos ler uma poesia sua agora e refletir sobre ela. </span></span><br />
<br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Solidariedade<br /><br />Sou ligado pela herança do espírito e do sangue<br />Ao mártir, ao assassino, ao anarquista,<br />Sou ligado<br />Aos casais na terra e no ar,<br />Ao vendeiro da esquina,<br />Ao padre, ao mendigo, à mulher da vida,<br />Ao mecânico, ao poeta, ao soldado,<br />Ao santo e ao demônio,<br />Construídos à minha imagem e semelhança.<br />(MENDES, Murilo. Murilo Mendes – poesia. Rio de janeiro: Agir, 1983. Coleção “Nossos Clássicos. )<br /><br />Vamos
dar uma olhada no texto, analisando os elementos presentes e que
serão o roteiro para nossa compreensão. Nele, entramos em contato com um
ser poético que, segundo o título, se solidariza com outros seres. Tais
seres, embora pertençam ao universo poético, podem ser reconhecidos
também numa realidade extratexto. São não só elementos comuns – casais
na terra; vendeiro na esquina; mendigo; mecânico; soldado –, mas podem
pertencer a um mundo marcado por uma divisão maniqueísta entre Bem –
santo; mártir; padre e quase todos os outros elementos anteriormente
citados – e Mal – demônio; assassino; anarquista; mulher da vida (a qual
dos dois lados pertenceria “poeta”?). Pode-se identificar em “casais no
ar” uma presença nitidamente surrealista, um tributo a essa tendência
forte de outros textos do autor. <br />Porém há mais do que solidariedade:
esse sujeito poético reconhece em si uma ligação profunda – uma herança, espiritual e carnal, física, do sangue – com tais seres. Desse modo,
ele está ligado aos outros seres, tanto no Bem, quanto no Mal. Seu
discurso, em resumo, leva à constatação de que, através de uma herança
comum a todos, há nele, carnal e espiritualmente, esses dois atributos.
Pode-se ousar além e dizer que, mais do que uma análise de outros caracteres, é
a si mesmo que o eu poético analisa, usando os demais elementos como
analogia palpável de si. Esse dado é muito importante e não deve ser
esquecido ou desprezado, pois será reconvocado adiante.<br />A palavra
“herança” levanta um outro aspecto indispensável para a discussão do
texto: é um “patrimônio” - no caso algo espiritual e carnal – legado ao
sujeito lírico (e a todos os citados por ele) por alguém. O enunciador
do discurso poético estaria, então, como involuntário beneficiário de algo
transmitido a ele por um outro ser. <br />Essa constatação é importante,
visto que se torna contraditória em relação ao último verso, o qual,
fechando o poema e não estando ali por acaso, apresenta um aspecto
significativo fundamental. É um claro aproveitamento de uma das mais
importantes ações de Deus, no Gênesis, primeira parte da Bíblia, livro
considerado sagrado por grande parte da humanidade e que faz parte do
conjunto cultural e religioso do homem ocidental: “... e, (por fim)
disse: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gn, 1, 26).
Observemos aqui o chamado “plural deliberativo” (nós), segundo a versão
bíblica que consultei. Esse “nós”, no entanto, tem encontrado outras
interpretações bem mais polêmicas, mas aqui não vem ao caso. <br />Desse
modo, esse sujeito que enuncia o discurso acaba agregando a si uma dupla
– e dúbia – função de agente divino (o doador da herança, pelo verso
final, enfaticamente resumido no “minha”) e, no sentido contrário, de
paciente (seu beneficiário espiritual e carnal, pelos versos anteriores)
de uma ação divina, de criatura ligada a seus pares e, ao mesmo tempo,
de seu criador.<br />E o que mais enriquece o texto é a possibilidade
entrevista por quem lê de que esse criador divino faça-se confessor de
sua vulnerabilidade, de sua solidariedade espiritual e carnal com suas
criaturas, de sua ambivalência entre o Bem e o Mal. <br /></span></span></div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-38542829653515293932014-12-17T18:12:00.001-02:002014-12-17T18:24:54.333-02:00A perfeita arte de amar: uma lição de Manuel Bandeira e Marina Colasanti<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Eliane F.C.Lima</span></span><br />
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-UCUmGf_s33o/VJHmbU50LfI/AAAAAAAAAv8/PBQ1VnmavtE/s1600/colasanti.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-UCUmGf_s33o/VJHmbU50LfI/AAAAAAAAAv8/PBQ1VnmavtE/s1600/colasanti.jpg" /></a><span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"> </span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Até que a palavra fosse possível</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"></span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Marina Colasanti</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"></span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Brigavam, se digladiavam, sofriam. E ainda assim se queriam. Razão pela qual decidiram viver em separação de corpos.</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Da
estrutura aparentemente compacta de carne, ossos, músculos trancados na
elasticidade da pele, separaram um a um os sentimentos, embora alguns,
entretecidos nas fibras como invisíveis ligaduras daquele palpitar,
parecessem indispensáveis para a sustentação do todo. Mesmo com esses,
com firmeza de bisturi foram retirados, amputando-se também aquelas
partes do sentir mais entranhadas, cujos limites já não mais se
distinguiam, afogados em sangue.</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Por
fim, livres de tudo o que lhes provocava atrito e desencontro,
deitaram-se lavados sobre a cama, brancos corpos possuindo-se sem
nenhuma pergunta. E sem qualquer perigo de resposta. </span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">(<i>Contos de amor rasgados</i>. Rio de Janeiro: Rocco, 1986)</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"></span></span><span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /><br />Quando
li o texto acima, imediatamente me veio à memória um poema de Manuel
Bandeira, que até parece um texto interpretativo do conto, o que seria
impossível, por ter sido publicado antes, em 1948, na coletânea <i>Belo, belo</i>. Mas
há, é inegável, um diálogo que se estabelece entre os dois textos. Pelo
menos na cabeça de quem lê e conhece as duas obras. Vamos ao texto de
Bandeira.<br /><br />Arte de amar<br /><br />Manuel Bandeira <br /><br />Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua [alma,<br />A alma é que estraga o amor. <br />Só em Deus ela pode encontrar satisfação.<br />Não noutra alma.<br />Só em Deus – ou fora do mundo.<br /><br />As almas são incomunicáveis.<br /><br />Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.<br />Porque os corpos se entendem, mas as almas não. <br />(<i>Estrela da vida inteira</i>. 20 ed.Rio de Janeiro/São Paulo: Record, [s.d.])<br /><br />Constata-se
no texto a presença do dualismo corpo (matéria) X alma, que, vindo
desde os filósofos gregos, se vê fortalecido por Descarte. E sempre,
nessa disputa filosófica e ideológica, a alma tem levado a melhor, assinalada como verdadeira marca da superioridade do ser humano, sendo o corpo encarado
como reles depósito aprisionador da primeira. <br />Mas, se o eu poético
do texto de Bandeira recorre a tal dicotomia, percebe-se, logo, que sua
posição vai por caminho diferente: se não discute a hierarquia entre os
dois, enfatiza o sentido pouco funcional da alma, como se pode
salientar no verso “Só em Deus ela pode encontrar satisfação”. A
realização plena da alma está, pois, “Só em Deus – ou fora do mundo”, ou
seja, no mundo, onde a vida realmente se realiza, a alma não tem
nenhuma praticidade. <br />E quando se trata de sentimentos mais que
humanos, o eu lírico é radical: “A alma é que estraga o amor.” É com
este mesmo mote que podemos voltar ao texto de Marina Colasanti.<br />Se,
no conto, não encontramos nenhuma alusão explícita à alma, vários
elementos textuais nos ajudam a surpreender o elemento metafísico
adivinhado em vários de seus atributos: as personagens protagonistas
sofriam, tinham sentimentos, os quais provocavam atritos e desencontros
entre elas e perguntas – inquietantes? –, que recebiam respostas
perigosas. Depois que, através de um processo detalhado de amputação
daquelas “partes do sentir mais entranhadas”, livraram-se de sua alma,
“lavados”, deitaram-se sobre a cama e seus finalmente “brancos corpos”
possuíram-se. Resume-se no apenas corpos se entendendo a “Arte de amar”.<br /><br />Pareceu-me
válida ainda a postagem de outro poema bastante conhecido do mesmo
Bandeira, pela ligação com o tema aqui investigado. Neste, o poeta
subverte inteiramente e sem disfarce a presunção cartesiana. Vale a pena
conferir.<br /><br />Momento num café<br /><br />Manuel Bandeira<br /><br />Quando o enterro passou<br />Os homens que se achavam no café<br />Tiraram o chapéu maquinalmente<br />Saudavam o morto distraídos<br />Estavam todos voltados para a vida<br />Absortos na vida<br />Confiantes na vida.<br /><br />Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado<br />Olhando o esquife longamente<br />Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade<br />Que a vida é traição<br />E saudava a matéria que passava<br />Liberta para sempre da alma extinta<br />(Mesma obra)<br /><br />Visite ainda meus blogues <i><span style="color: #274e13;"><b>Poema Vivo</b></span></i> (<a href="http://poemavida.blogspot.com/">link</a>) e <i><span style="color: #274e13;"><b>Conto-gotas</b></span></i> (<a href="http://conto-gotas.blogspot.com/">link</a>).<br /><br /><br /><br /><br /></span></span></div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-75462991880181487432014-10-11T14:49:00.001-03:002014-10-20T16:26:26.832-02:00 Parte III - Brasileira, negra, pobre... e humana: o retrato de uma escritora em sua obra.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-SxCLPIfi4iY/VDlsrAeiRQI/AAAAAAAAAvk/sdHcJrNQ_8w/s1600/CAROLINA.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-SxCLPIfi4iY/VDlsrAeiRQI/AAAAAAAAAvk/sdHcJrNQ_8w/s1600/CAROLINA.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Eliane F.C.Lima </span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">(Registrado no Escritório de Direitos Autorais)</span></span><br />
<br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">A última parte do estudo de <i>Quarto de despejo </i>seleciona alguns aspectos inportantes do texto da escritora, os quais, embora sejam sempre apenas tangenciais, apontam para um sentimento já de reflexão sobre as injustiças sociais sedimentadas e que a circundavam como forças invencíveis. <br />Uma delas é sua condição de negra.<br /><span style="font-size: small;"><br />… Sentei ao sol para escrever. A filha da Silvia, uma menina de seis anos, passava e dizia: <br />- Está escrevendo, negra fidida! (p. 20)<br /><br />Quiz saber o que eu escrevia. Eu disse ser o meu diario.<br />- Nunca vi uma preta gostar tanto de livro como você. (p. 20)</span><br /><br />Embora essa relação de etnia negra x branca seja tratada algumas vezes com ingenuidade – hoje os grupos negros organizados têm uma visão mais ostensiva –, sua condição de população subjugada não é esquecida. Hoje em dia, com o advento da Internet e as posições francamente racistas que têm se evidenciado e que afloram pelos motivos menos palpáveis, percebe-se que pouca coisa mudou.<br /><br /><span style="font-size: small;">Conversei com uma senhora que cria uma menina de cor. É tão boa para a menina... Lhe compra vestidos de alto preço. Eu disse:<br />- Antigamente eram os pretos que criava os brancos. Hoje são os brancos que criam os pretos. (p. 19)<br /><br />… Nas prisões os negros eram os bodes espiatorios [sic]. Mas os brancos agora são mais cultos. E não nos trata com despreso. Que Deus ilumine os brancos para que os pretos sejam feliz. (p. 23) <br /><br />Eu estava pagando o sapateiro e conversando com um preto que estava lendo um jornal. Ele estava revoltado com um guarda civil que espancou um preto e amarrou numa arvore. O guarda civil é branco. E há certos brancos que transforma preto em bode expiatorio. Quem sabe se guarda civil ignora que já foi extinta a escravidão e ainda estamos no regime da chibata? (p. 92)<br /><br /><span style="font-size: large;">Em certas passagens, percebe-se que tem dentro de si, ainda que negra, a visão equivocada que os brancos têm de sua etnia e que é reproduzida em seu discurso: </span><br /><br />A Rosalina dizia que ela é sosinha e sustenta 3 filhos. É que ela não sabe que o seu filho Celso anda dizendo que quer fugir de casa porque tem nojo dela. Acha a mãe muito barbara e avarenta. Ele diz que queria ser meu filho. Então eu lhe digo:<br />- Se você fosse meu filho, você era preto. E sendo filho de Rosalina você é branco. (p. 88) <br /><br />A Florenciana é preta. Mas é muito diferente dos pretos por ser muito ambiociosa. (p. 64) </span><br /><br />Outra questão que perpassa todo o texto é a firme posição que mantém como mulher. Solteira e sozinha, cria seus três filhos, lutando por eles mesmo dentro da pobreza extrema em que vive, sem abrir mão de sua independência. Apesar de as questões feministas não terem sido formuladas, naquela época, em certos momentos, seu discurso atinge argumentos inacreditáveis de lucidez, em tal aspecto. <br /><span style="font-size: small;"><br />Elas alude que eu não sou casada. Mas eu sou mais feliz do que elas. <br />…............................................................................................................<br />Os meus filhos não são sustentados com pão de igreja. Eu enfrento qualquer espécie de trabalho para mantê-los. E elas, tem que mendigar e ainda apanhar. Parece tambor. A noite enquanto elas pede socorro eu tranquilamente no meu barraco ouço valsas vienenses. Enquanto os esposos quebra as tabuas do barracão eu e meus filhos dormimos socegados. Não invejo as mulheres casadas da favela que levam vida de escravas indianas. (p. 11) <br /><br />Há as mulheres que os esposos adoece e elas no penado da enfermidade mantem o lar. Os esposos quando vê as esposas manter o lar, não saram nunca mais. (p. 15)</span><br /><br /><span style="font-size: small;">… As mulheres que eu vejo passar vão nas igrejas buscar pães para os filhos. Que o Frei Luiz lhes dá, enquanto os esposos permanecem debaixo das cobertas. Uns porque não encontram emprego. Outros porque estão doentes. Outros porque embriagam-se. (p. 29)<br /><br />O senhor Manuel aparaceu dizendo que quer casar-se comigo. Mas eu não quero porque já estou na maturidade. E depois, um homem não há de gostar de uma mulher que não pode passar sem ler. E que levanta para escrever. E que deita com lapis e papel debaixo do travesseiro. Por isso é que eu prefiro viver só para o meu ideal. (p. 41) </span><br /><br /><span style="font-size: small;">Eu pensava nas roupas por lavar. Na Vera. E se a doença fosse piorar? Eu não posso contar com o pai dela. Ele não conhece a Vera. E nem a Vera conhece ele.<br />Tudo na minha vida é fantastico. Pai não conhece filho, filho não conhece pai. (p. 55)</span><br /><br /><span style="font-size: small;">Tem hora que eu revolto comigo por ter iludido com os homens e arranjado estes filhos. (p. 74)<br /><br />O pai da Vera é rico, podia ajudar-me um pouco. Ele pede para eu não divulgar-lhe o nome no Diario, não divulgo. Podia reconhecer o meu silêncio. (p. 149)</span><br /><br />Embora não tenha plena consciência de que quase todos os chamados “comportamentos” femininos e masculinos são uma construção cultural e não um dado inato – feministas, hoje em dia, já argumentam até que aspectos sexuais, como a heterossexualidade, são impostos a todo ser humano que nasce -, pode-se surpreender que o discurso da escritora vislumbra a solidificação social e de gênero embutido em manuais canônicos, como os livros de História. </span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /> <span style="font-size: small;">… Quando eu era menina o meu sonho era ser homem para defender o Brasil porque eu lia a Historia do Brasil e ficava sabendo que existia guerra. Só lia os nomes masculinos como defensor da patria. Então eu dizia para a minha mãe: <br />- Porque a senhora não faz eu virar homem? (p. 44-45)</span><br /><br />Dentre muitos outros dados que podem ser examinados no texto de Carolina de Jesus, ressalte-se seu senso de reflexão crítica sobre a natureza da ação da religião juntos às comunidades desfavorecidas ou o inócuo e adulterado papel do poder instituído que deveria servir social e efetivamente a essas mesmas comunidades e que não o faz.<br /><br /><span style="font-size: small;">Fico pensando na vida atribulada e pensando nas palavras do Frei Luiz que nos diz para sermos humildes. Penso: se o Frei Luiz fosse casado e tivesse filhos e ganhasse salario minimo, aí eu queria ver se o Frei Luiz era humilde. Diz que Deus dá valor só aos que sofrem com resignação. Se o Frei visse os seus filhos comendo generos deteriorados, comidos pelos corvos e ratos, havia de revoltar-se, porque a revolta surge das agruras. (p. 72)</span></span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"> </span><br /><span style="font-size: small;">Percebi que no Juizado as crianças degrada a moral. Os Juizes não tem capacidade para formar o carater das crianças. O que é que lhes falta? interesse pelos infelizes ou verba do Estado? (p. 75)<br /><br />… Em 1952 eu procurava ingressar na Vera Cruz e fui no Juizado falar com o Dr. Nascimento se havia possibilidade de internar os meus filhos. Ele disse-me que se os meus filhos fossem para o Abrigo que ia sair ladrões.<br />Fiquei horrorisada ouvindo um Juiz dizer isto. (p. 75) <br /><br />Quando o carro capela vem na favela surge vários debates sobre a religião. As mulheres dizia que o padre disse-lhes que podem ter filhos e quando precisar de pão podem ir buscar na igreja.<br />Para o senhor vigario, os filhos de pobres criam só com pão. Não vestem e não calçam. (p. 120)<br /><br />… De manhã teve missa. O padre disse para nós não beber, porque o homem que bebe não sabe o que faz. Que devemos beber limonada e agua. Varias pessoas veio assistir a missa. Ele disse que sente prazer de estar entre nós. <br />Mas se o padre residisse entre nós, havia de expressar de outra forma. (p. 121) </span><br /><br />Por fim, parece interessante serem citadas algumas passagens que têm verdadeiro valor de axiomas e que servem para fechar o interessante texto da escritora. Recomendo a leitura do livro, que se tornou um verdadeiro documento testemunhal de uma época brasileira – final dos anos 1950 e princípio dos 1960 -, época que, embora pareça pretérita, ainda faz eco nos acontecimentos de agora.<br /><br /><span style="font-size: small;">… O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora. (p. 23)<br /><br />Talvez ela não mais tem ilusão. Entregou sua vida aos cuidados da vida. (p.38)<br /><br />Cheguei a conclusão que quem não tem de ir pro céu, não adianta olhar para cima. (p.34)<br /><br />Pretere os filhos e prefere os homens.<br />O homem entra pela porta. O filho é raiz do coração. (p.40) <br /><br />… a revolta surge das agruras. ( p.72)</span><br /><span style="font-size: small;"><br />Enfim, o mundo é como o branco quer. Eu não sou branca, não tenho nada com estas desorganizações. (p. 59)</span></span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"> </span><br />Recomendo visita a meus blogues<span style="color: purple;"><b><i> Poema Vivo</i></b></span> (<a href="http://poemavida.blogspot.com/">link</a>) e <i><span style="color: purple;"><b>Conto-gotas</b></span></i> (<a href="http://conto-gotas.blogspot.com/">link</a>). Embora com postagens antigas, não estão esquecidos e há muito texto lá para ser lido. </span></span></div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-19166083914180115182014-08-07T13:31:00.003-03:002014-10-20T16:23:46.675-02:00Carolina Maria de Jesus: brasileira, negra, pobre... e humana: o retrato de uma escritora em sua obra – parte II<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)</span></span><br />
<br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Nossa segunda postagem sobre<i> Quarto de despejo</i> pretende refletir sobre o olhar que Carolina Maria de Jesus tem sobre o ambiente que a cerca e a relação que parece manter com esse ambiente. <br />Essa reflexão, a princípio, pode ser comparada com o olhar que hoje em dia tem grande parte dos moradores dessas favelas – hoje denominadas eufemisticamente de “comunidades” – sobre si mesma. Nos depoimentos a que se assiste na grande mídia pode-se ver que há já um sentimento, se não de orgulho, mas de apaziguamento com o lugar onde vive toda essa população. Por coincidência, acaba de sair uma pesquisa que mostra exatamente isso: a maioria das pessoas desses locais não deseja se mudar dali. Como exemplo concreto, pode-se, ainda, citar um rap que foi lançado há poucos anos atrás – 1995 – e que fez muito sucesso. Desde o título, já se antevê que a relação desse morador com seu entorno é de pertencimento, de aceitação, de sentimento de acolhimento ao local onde nasceu e vive. A letra indica a necessidade de melhora, sim, mas nunca de rejeição ou estranhamento a esse lugar de pobreza, como se comprova no refrão:<br /><br />Rap da Felicidade<br /><br />Compositores: Cidinho e Doca (nota 1)<br /><br />Eu só quero é ser feliz,<br />Andar tranqüilamente,<br />Na favela onde eu nasci.<br />É...<br />E poder me orgulhar<br />E ter a consciência<br />Que o pobre tem seu lugar<br /><br />Ver a letra toda no <a href="http://www.vagalume.com.br/mcs-cidinho-e-doca/rap-da-felicidade.html#ixzz35gQmED69">link</a>. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;"><br />Inicialmente deve-se chamar a atenção, é verdade, para o fato de que as favelas mudaram: já não se encontram praticamente “barracos” de madeira, como à época de lançamento do livro, e quase todas as moradias são de “alvenaria”, símbolo maior do sonho dos moradores das favelas de então, como se vê nas palavras de Carolina:</span><br /><br />(…) O José Carlos disse:<br />- Não fique triste mamãe! Nossa Senhora Aparecida há de ter dó da senhora. Quando eu crescer eu compro uma casa de tijolos para a senhora. (p. 11-12)<br /><br />… Eu estou contente com os meus filhos alfabetizados. Compreendem tudo. O José Carlos disse-me que vai ser um homem distinto e que eu vou tratá-lo de Seu José.<br />Já tem pretensões: quer residir em alvenaria. (p. 119).<br /><span style="font-size: large;"><br />Outra reflexão que pode ser feita, é que a escritora, embora sempre muito pobre, não teve, entretanto sua origem numa favela. E assim o texto do livro marca uma avaliação inteiramente contrária que a autora tem sobre o que a letra da canção chama de “seu lugar”:</span><br /><br />…Estou residindo na favela. Mas se Deus me ajudar hei de mudar daqui. Espero que os políticos estingue as favelas. (p.15)<br /><br />É que eu estou escrevendo um livro, para vendê-lo. Viso com esse dinheiro comprar um terreno para eu sair da favela. (p. 21)<br /><br />…Lavei o assoalho porque estou esperando a visita de um futuro deputado e ele quer que eu faça uns discursos para ele. Ele disse que pretende conhecer a favela, que se for eleito há de abolir as favelas. (p.27)<br /><br />O dia que eu mudar da favela vou acender uma vela para São Sebastião. (p.76)<br /><br />(…) Se eu fosse homem não deixava meus filhos residir nessa espelunca. Se Deus auxiliar-me hei de sair daqui, e não hei de olhar para trás. (p.159)<br /><br /><span style="font-size: large;">Outro dado, de não pouca importância e que deve ser levado em consideração, é que na época da publicação do livro começa a se sedimentar a oposição da cidade contra as favelas, ainda incipientes e em muito menor número, acrescentando-se o fato bastante relevante de que a visão das classes mais favorecidas economicamente sempre é a visão dominante, a tal ponto, que as minorias, como os moradores de favelas, como os negros em relação aos brancos, como as mulheres em relação à sociedade patriarcal, acabam se enxergando como o “outro” em relação a um “eu” dominador. Então o morar em uma casa de alvenaria, mais do que ser o desejo de alcance de um conforto, passa a ser traço valorativo de inclusão no mundo reconhecido. <i>Quarto de despejo</i> traduz, aos poucos, esse discurso dominante:</span><br /><br />…Os visinhos ricos de alvenaria dizem que nós somos protegidos pelos politicos. É engano. Os politicos só aparece aqui no quarto de despejo, nas epocas eleitorais. (p. 37) <br /><br />…Os visinhos de alvenaria olha os favelados com repugnancia. Percebo seus olhares de odio porque eles não quer a favela aqui. Que a favela deturpou o bairro. Que tem nojo da pobreza. Esquecem eles que na morte todos ficam pobres. (p.46)<br /><br />Uma tarde de terça-feira. A sogra de Dona Ilda estava sentada e disse:<br />- Podia dar uma enchente e arrazar a favela e matar estes pobres cacetes. Tem hora que eu revolto contra Deus por ter posto gente pobre no mundo, que só serve para amolar os outros. (p.47)<br /><br />Quando alguém nos insulta é só falar que é da favela e pronto. Nos deixa em paz. Percebi que nós da favela somos temido. (p.70) <br /><br />E se o discurso da cidade vem bastante claro nas páginas do diário, indiretamente ele acaba se realizando também na avaliação testemunhal dessa moradora da favela, que, assim, se enxerga como o “outro” em relação à cidade, apartada de seu direito de moradora de São Paulo. <br /><br />...Eu classifico São Paulo assim: o Palacio, é a sala de visita. A Prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos. (p.25)<br /><br />Devo incluir-me, porque eu tambem sou favelada. Sou rebotalho. Estou no quarto de despejo, e o que está no quarto de despejo ou queima-se ou joga-se no lixo. (p.29)<br /><br />Oh! São Paulo rainha que ostenta vaidosa a tua coroa de ouro que são os arranha-céus. Que veste viludo e seda e calça meias de algodão que é a favela. (p. 33)<br /><br />Aqui nesta favela a gente vê coisa de arrepiar os cabelos. A favela é uma cidade esquisita e o prefeito daqui é o Diabo. (p.77)<br /><br />Percebo que todas as pessoas que residem na favela, não aprecia o lugar. (p.77)<br /><br />Favela, sucursal do Inferno, ou o proprio Inferno. (p. 139) <br /><span style="font-size: large;"><br />Percebe-se que a autora constrói seu discurso de um lugar antagônico à favela. E esse lugar torna-a uma estranha em relação a seus pares. Percebe-se que essa avaliação hostil em relação ao entorno e seus habitantes é devolvido pelos demais da mesma forma; seus vizinhos, conscientes do sentimento que despertam, pela atuação sempre crítica de Carolina, sua tentativa de influir nas ações que desaprova, têm por ela, muitas vezes, um profundo senso de rejeição.</span><br /><br />Aqui, todas impricam comigo. Dizem que falo muito bem. Que sei atrair os homens. (…) Quando fico nervosa não gosto de discutir. Prefiro escrever. Todos os dias eu escrevo. Sento no quintal e escrevo. (p. 17)<br /> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">(…) Só interfiro-me nas brigas onde prevejo um crime. Não sei a origem desta antipatia por mim. Com os homens e as mulheres eu tenho um olhar duro e frio. O meu sorriso, as minhas palavras ternas e suaves, eu reservo para as crianças. (p.29-30)<br /><br />Não tenho força física, mas as minhas palavras ferem mais do que espada. E as feridas são incicatrisaveis. Ele deixou de aborrecer-me porque eu chamei a radio patrulha para ele, e ele ficou 4 horas detido. Quando ele saiu andou dizendo que ia matar-me. (p. 39-40)<br /><br />Se eu gastasse todo o dinheiro que já gastei telefonando para a Radio Patrulha, eu podia comprar um quilo de carne! (p.95)<br /><br />Mas até ele anda atrás da I. e da C. Apareceu tantos jovens de 15 e 16 anos aqui na favela, que vou dar parte as autoridades. (p. 116)<br /><br />(…) Telefonei para as Folhas para mandar uns reporteres na favela para expulsar uns ciganos que estão acampados aqui. Eles jogam excrementos na rua. As pessoas que reside perto dos ciganos estão queixando que eles falam a noite toda. E não deixam ninguem dormir. Eles são violentos e os favelados tem medo deles. Mas eu já preveni que comigo a sopa é mais grossa. (p.118) <br /><br />…Eu percebo que se este Diário for publicado vai maguar muita gente. Tem pessoa que quando me vê passar saem da janela ou fecham as portas. Estes gestos não me ofendem. (p. 66)<br /><span style="font-size: large;"><br />Dada a riqueza de faces que o testemunho de Carolina Maria de Jesus apresenta se fará necessária uma terceira postagem posteriormente.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;">Nota 1: algumas informações sobre os compositores em <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Cidinho_%26_Doca">link</a>. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;">Visite também meus blogues <span style="color: #274e13;"><i><b>Poema Vivo</b></i></span> (<a href="http://poemavida.blogspot.com/">link</a>) e <span style="color: #274e13;"><i><b>Conto-gotas</b></i></span> (<a href="http://conto-gotas.blogspot.com/">link</a>).</span></span></div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-63943274925666015852014-07-04T13:07:00.000-03:002014-10-20T16:24:23.531-02:00Carolina Maria de Jesus: brasileira, negra, pobre... e humana. O retrato de uma escritora em sua obra – parte I<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-O1g4Whb4w8s/U7bNdhar3cI/AAAAAAAAAu0/8rUzQH0PPKk/s1600/FOTO+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-O1g4Whb4w8s/U7bNdhar3cI/AAAAAAAAAu0/8rUzQH0PPKk/s1600/FOTO+1.jpg" height="240" width="320" /></a></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">Da esquerda para a direita: Carolina Maria de Jesus, Audálio Dantas e Ruth de Souza na Favela do Canindé / Divulgação/<b>Acervo IMS. </b>(<b>Ver nota 1 abaixo.</b>)</span></span><br />
<br />
<br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: large;">Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)</span> </span></span><br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"> </span><br /><span style="font-size: large;">Como o prometido, vamos conversar sobre a escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1977), que nasceu em Sacramento, Minas Gerais, numa comunidade rural, onde sua mãe era meeira. Em março, completou-se cem anos de seu nascimento. Estudou durante dois anos em uma escola paga pela mulher de um fazendeiro, mas não teve contato com seu pai, porque ele era um homem casado. <br />Como sua mãe morresse em 1937, resolveu emigrar para São Paulo e passou a residir na Favela do Canindé, hoje inexistente, onde construiu um precário barraco. <br />Teve três filhos de pais diferentes, mas se negou a casar e a ficar dependente de qualquer homem. Criou os filhos, catando papel e tudo mais que encontrasse para vender. <br />Apesar do pouco estudo, Carolina revelou logo sua tendência: era inteligente, tinha um apurado senso crítico, lia os livros que encontrava no lixo e passou a escrever um diário – trechos de 1955, 1958, 1959 e fim em 1960 –, que foi o material que deu ensejo à publicação do livro <i>Quarto de despejo</i>, metáfora criada por ela para referir-se à favela em relação à metrópole, nome escolhido pelo jornalista Audálio Dantas, que casualmente a conheceu e conseguiu publicar seu livro em 1960. Alguns acusam o jornalista de ter agido sobre a obra, embora ele alegasse que apenas suprimira trechos repetitivos. <br />A quem se interessar, há muito material sobre a escritora na Internet, inclusive no Youtube, mas remeto a um vídeo naquele site, denominado "Diário de Bitita", mesmo nome de seu livro póstumo, onde se pode ver a filha Vera Eunice, já adulta – personagem presente na obra –, o que ilustraria o estudo sobre a escritora: <a href="http://www.youtube.com/watch?v=yg0XT6-rnQs.">link</a>. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;">Além do famoso diário, Carolina M. de Jesus também escreveu <i>Pedaços de fome </i>(1963), <i>Provérbios</i> (1963) e o já citado <i>Diário de Bitita</i> (1982), que não conseguiram o sucesso do primeiro.<br /><i>Quarto de despejo</i>, além de todas as características que serão analisadas a seguir, é o testemunho de seres sobreviventes, que lutam para não morrer de fome, embora vivam dentro de uma cidade importante como São Paulo. Sob esse aspecto, então, o assunto perde sua feição de questão particular – população brasileira, pobre e quase toda negra –, e passa a ser uma narrativa de qualquer ser submetido a condições subumanas de vida, suas reações, seus mecanismos de sobrevivência, ou seja, é uma reflexão sobre a condição humana diante da adversidade.<br />Mas há outras questões a serem levantadas. Uma delas é o aspecto documental da história brasileira, que se reflete nas vidas individuais de cada elemento do povo. Nas páginas do livro, a pessoa leitora encontra o mesmo enfoque que a coleção <i>História da vida privada</i> defende: através da escrita testemunhal de uma mulher pertencente à fatia mais pobre da população, alijada das decisões, traça-se um perfil e uma perspectiva radicalmente opostos aos pontos de vista elitistas que tradicionalmente marcam os momentos históricos do país e são a eles diretamente ligados. Assim, os mesmos fatos que frequentam as análises históricas dos intelectuais, em seus aspectos sociais, econômicos e políticos, são desnudados através de um viés tanto mais inocente, quanto mais cruel da realidade da época. <br /><i>Quarto de despejo</i> aponta como a história não é algo abstrato, porém, como apontou Marx, extremamente concreto em seus efeitos, principalmente sobre as camadas mais desfavorecidas como a que pertencia Carolina de Jesus. Transcrevo os trechos sem modificações gráficas, a não ser a atualização de alguns acentos. </span><br /><span style="font-size: small;"><br />[…] O tenente interessou-se pela educação dos meus filhos. Disse-me que a favela é um ambiente propenso, que as pessoas tem mais possibilidades de delinquir do que tornar-se util a patria e ao pais. Pensei: Se ele sabe disto, porque não faz um relatório e envia para os politicos? O Senhor Janio Quadros, o Kubstchek e o Dr. Adhemar de Barros? Agora falar para mim, que sou uma pobre lixeira. Não posso resolver nem as minhas dificuldades. <br />… O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora. (p. 22-23)</span><br /><br />… Chegou um caminhão aqui na favela. O motorista e o seu ajudante jogam umas latas. É linguiça enlatada. Penso: É assim que fazem esses comerciantes insaciáveis. Ficam esperando os preços subir na ganancia de ganhar mais. E quando apodrece jogam fora para os corvos e os infelizes favelados. (p. 26)<br /><br />… Nas ruas e casas comerciais já se vê as faixas indicando os nomes dos futuros deputados. Alguns nomes já são conhecidos. São reincidentes que já foram preteridos nas urnas. Mas o povo não está interessado nas eleições, que é o cavalo de troia que aparece de quatro em quatro anos. (p. 35 - Ver nota 2 abaixo.)<br /><br />… Mas eu já observei os nossos políticos. Para observá-los fui na Assembleia. A sucursal do Purgatorio, porque a matriz é a sede do Serviço Social, no palacio do Governo. Foi lá que eu vi ranger de dentes. Vi os pobres sair chorando. E as lagrimas dos pobres comove os poetas. Não comove os poetas de salão. Mas os poetas do lixo, os idealistas das favelas, um expectador que assiste e observa as trajedias que os politicos representam em relação ao povo. (p. 44)<br /><br />… Os preços aumentam igual as ondas do mar. Cada qual mais forte. Quem luta com as ondas? Só os tubarões. Mas o tubarão mais feroz é o racional. É o terrestre. É o atacadista. (p.50)<br /><br />Que dilema triste para quem presencia. As pobres querendo ganhar. E o rico não queria dar. Ele dá só os pedaços de bolacha. E elas saem contentes como se fossem a Rainha Elizabethe da Inglaterra quando recebeu os treze milhões em joias que o presidente Kubstchek lhe enviou como presente de aniversario. (p.52 – Ver nota 3 abaixo.) <br /><br />[…] Encontrei o Sansão. O carteiro. Ele ainda não cortou os cabelos. Ele estava com os olhos vermelhos. Pensei: será que ele chorou? Ou está com vontade de fumar ou está com fome. Coisas tão comuns aqui no Brasil. Fitei o seu uniforme descorado. O senhor Kubstchek que aprecia pompas devia dar outros uniformes para os carteiros. (p. 66)<br /><br />[…] Todos falavam. A conversa não me interessava, mas eu fiquei. Falavam nas brigas. No jogo de foot-bol na Suissa. E na pretenção do homem ir na lua. Uns diziam que o homem vai. Outros que não vai. E eu quando ouvi o vai não vai, já fiquei pensando numa briga, porque aqui na favela tudo inicia bem e termina com brigas. (p. 65) <br /><br />Parei para conversar com a Dona Anita. Ela está preocupada com as notícias de guerra. Que a guerra é ingrata para os jovens. Que é pungente a condição dos pracinhas. Que herois são os jogadores de fut-bol. Os pracinhas são venerados pelas mulheres. É que os pracinhas são nossos filhos. (p.80) </span><br />
<br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;">O último trecho transcrito, embora provavelmente não tenha sido essa a intenção da escritora, contém uma ironia profunda e rascante entre a realidade de todos e a realidade individual. </span> </span><br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"></span><br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Hoje amanheceu chovendo. A Vera, ontem pois dois vermes pela boca. Está com febre. Hoje não vai ter aulas, em homenagem ao Príncipe do Japão. (p.55) <br /><br /><span style="font-size: large;">Em próxima postagem, o estudo sobre essa escritora tão especial em seu papel de mulher e pobre continuará.</span></span><br />
<br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;"><b>Nota 1</b>: Em 1961, o livro <i>Quarto de despejo</i> foi adaptado para o teatro pela escritora gaúcha Edy Lima. A peça, dirigida por Amir Haddad, teve Ruth de Souza no papel de Carolina. </span></span><br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;"><b>Nota 2</b>: É surpreendente a metáfora do "cavalo de Troia" criada pela escritora: o cavalo de Troia teria sido um presente que, na verdade, continha a traição dentro dele. </span></span><br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: large;"><b>Nota 3</b>: Comentários diferentes sobre esse "presente" do ex- presidente Kubitschek podem ser vistos no <a href="http://www.morrodomoreno.com.br/materias/rainha-elizabeth-ii-usa-pedras-de-itarana.html">link </a>e no <a href="https://www.facebook.com/permalink.php?id=160110460813846&story_fbid=243310852493806%20.">link</a>. <br /><br />Visite, também, os blogues<i> </i><span style="background-color: white;"><i><span style="color: purple;"><b>POEMA VIVO</b></span></i> </span>(<a href="http://poemavida.blogspot.com/">LINK</a>) E <i><span style="color: purple;"><b>CONTO-GOTAS</b></span></i> (<a href="http://conto-gotas.blogspot.com/">link</a>). </span></span></div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-56005325995450894182014-06-07T12:19:00.001-03:002014-12-17T18:21:04.837-02:00ATENÇÃO<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"> Num futuro bem próximo, devo fazer uma postagem sobre a escritora Carolina Maria de Jesus e seu conhecido livro diário <i>Quarto de despejo.</i> Até breve.</span></span></div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-52219141663646425982014-03-22T16:58:00.001-03:002014-10-20T16:22:34.203-02:00Parte III: A pseudo “alma feminina”: Senhora e o olhar do século XIX sobre a mulher.<div style="text-align: justify;">
<style type="text/css">P { margin-bottom: 0.21cm; direction: ltr; color: rgb(0, 0, 0); }P.western { font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; }P.cjk { font-family: "Droid Sans Fallback"; font-size: 12pt; }P.ctl { font-family: "Lohit Hindi"; font-size: 12pt; }A:link { }</style>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">A
heroína silenciada e a evolução do herói</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Eliane
F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">A
terceira parte do estudo – reenfatize-se a leveza dele – sobre
<i>Senhora</i><span style="font-style: normal;">, de José Alencar,
como caracterização da mulher do século XIX, usará como foco a
personagem romântica personificada em Aurélia </span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">Camargo,
a protagonista do romance. </span></span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Em primeiro lugar, é necessário se
ressaltar que tais protagonistas seguem um padrão de idealização,
que, de forma geral, enquadram as mulheres de então, ficcionais ou
não. </span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">É indispensável também ser
ressaltado que a palavra “idealização” não traz em si uma
fixidez significativa, como aliás, a maioria dos termos: o ideal
para uma época pode não ser para outra.</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">Assim,
o ideal de mulher do século referido e compartilhado pela trama de
S</span><i>enhora </i><span style="font-style: normal;">seria um ser
recatado, guardião da sacralidade do lar, consciente de seus
limites, principalmente intelectuais, cujo extremismo sentimental
faria dele só coração. Esses atributos comporiam um tipo
romântico. </span></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;">
</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: large;"><span style="font-style: normal;">Quem
lê o romance em questão imagina que Alencar faz, portanto, de sua
personagem um ser ímpar por desenhá-la diferente de tais padrões:
submete todos os seus pretendentes a sua vontade, é mais senhora de
seu tutor do que regida por ele, traça um plano racionalizado em
seus mínimos detalhes para sujeitar seu marido comprado a toda a
sorte de humilhações. Em vez de uma personagem “tipo” –
aquela que está submetida a um padrão comportamental, no caso, a
que seguisse fielmente o projeto romântico –, Aurélia seria uma
personagem “indivíduo” – aquela personagem que tem
características próprias e não pode ser identificada em outras
personagens. </span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-size: large;">A alusão ao
termo “senhora”, que inclusive, dá título ao romance, refere-se
a esse aparente perfil da personagem principal: </span></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.38cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;"><span style="font-style: normal;">Aurélia
tomou o braço do marido, e afastou-se lentamente ao longo da
alameda.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.38cm;">
<span style="font-size: small;">– <span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-style: normal;">Por
que me chama </span><i>senhóra</i><span style="font-style: normal;">?
perguntou ela fazendo soar o </span><i>ó </i><span style="font-style: normal;">com
a voz cheia?</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.38cm;">
<span style="font-size: small;">– <span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-style: normal;">Defeito
de pronúncia.</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.38cm;">
<span style="font-size: small;">– <span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-style: normal;">Mas
às outras diz senhora. Tenho notado; ainda esta noite.</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.38cm;">
<span style="font-size: small;">– <span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-style: normal;">Esta
é, creio eu, a verdadeira pronúncia da palavra; mas nós, os
brasileiros, para distinguir da fórmula cortês, a relação de
império e domínio, usamos da variante que soa mais forte, e com
certa vibração metálica. O súdito diz à soberana, como o servo à
sua dona, senhóra. Eu talvez não reflita e confunda.</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.38cm;">
<span style="font-size: small;">– <span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-style: normal;">Quer
isso dizer que o senhor considera-se meu escravo? – perguntou
Aurélio fitando Seixas. (p. 197)</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">Enganar-se-á,
porém, essa pessoa leitora, se não reparar em alguns detalhes
bastante importantes, que podem ser inferidos dos exemplos baixo e
que serão comentados a seguir e vão compondo uma personagem, que,
ao final do romance, se mostra a heroína romântica, por excelência.
</span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.53cm;">
<span style="font-size: small;">– <span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-style: normal;">É
verdade! Desculpe-me, Aurélia, a precipitação... </span><i>Ele
</i><span style="font-style: normal;">exige vinte contos de réis à
vista, até amanhã, sem o que não aceita. </span></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.53cm;">
<span style="font-size: small;">– <span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Pague-os!</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.53cm;">
<span style="font-size: small;">…<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">.................................................................................................</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.53cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Cobria-se-lhe
o semblante de uma palidez mortal; e por momentos parecia que a vida
tinha abandonado aquele formoso vulto, congelado em uma estátua de
mármore. (p. 57) </span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.53cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0.03cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Nesse trecho, o tutor
informa à Aurélia que Seixas havia não só aceitado casar-se com
ela por um dote maior, desfazendo o arranjo matrimonial e financeiro
anterior que tinha com outra moça, mas exigia um adiantamento. É
importante se observar o transe emocional por que passa a personagem:
o que deveria ter sido recebido com alegria – o sucesso em
casar-se, por fim, com o antigo amado –, indica um sentimento
oposto: “uma palidez mortal”. </span><span style="font-size: large;">
</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0.03cm;">
<span style="font-size: large;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A personagem principal
já tinha, desde o início da trama, quando não possuía ainda
fortuna e entregara seu amor a Seixas em vão, fornecido pistas
concretas de suas características tão caras ao estilo de época: </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0.03cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.51cm;">
<span style="font-size: small;">– <span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A
sua promessa de casamento o está afligindo, Fernando; eu lha
restituo. A mi basta-me o seu amor, já lho disse uma vez; desde que
mo deu, não lhe pedi nada mais. (p.104)</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.53cm;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.53cm;">
<span style="font-size: small;">– <span style="font-family: Verdana, sans-serif;">[…]
Mas Deus nos deu uma missão neste mundo, e temos de cumpri-la [disse
Seixas]. </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.53cm;">
<span style="font-size: small;">– <span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A
minha é amá-lo. A promessa que o aflige, o senhor pode retirá-la
tão espontaneamente como a fez. Nunca lhe pedi, nem mesmo simples
indulgência, para esta afeição; não lha pedirei neste momento em
que ela o importuna. (p. 107)</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0.03cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Abandonando-a Seixas
por vender-se a primeira vez, a comoção por que passa a personagem
principal já aponta seu apego à idealização com que são
configuradas as mulheres de então, como se evidencia na passagem
adiante: </span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.51cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Recebeu
uma carta anônima. Comunicavam-lhe que Seixas a havia abandonado por
um dote de trinta contos de réis. Acabando de ler essas palavras
levou a mão ao seio, para suster o coração que se lhe esvaía. </span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.51cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Nunca
sentira dor como esta. Sofrera com resignação e indiferença, o
desdém e o abandono, mas <b>o rebaixamento do homem</b>, a quem
amava, era suplício infindo, de que só podem fazer ideia os que já
sentiram apagarem-se os lumes d'alma, ficando-lhes a inanidade.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.51cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Debalde
Aurélia refugiou-se nos primeiros sonhos de seu amor. <b>A
degradação de Seixas repercutia no ideal que a menina criara em sua
imaginação</b>, e imprimia-lhe o estigma. Tudo ela perdoou a seu
volúvel amante, <b>menos o tornar-se indigno de seu amor. </b></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.51cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Que
pungente colisão! Ou expelir do coração esse amor que tinha
decaído, e deixar a vida para sempre erma de um afeto; ou
humilhar-se adorando <b>um ente que se aviltara</b>, e associando-se
à sua vergonha. (grifo meu. p. 108)</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.51cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: -0.05cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Não é a lacuna do
amado que faz Aurélia sofrer, mas a lacuna do amor que desapareceria
por aquele não corresponder a esse.</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Na noite das núpcias,
o marido descobre todas as motivações anteriores de sua mulher para
escolhê-lo dentre outros pretendentes mais legítimos. Ao conseguir
comprá-lo por um valor mais alto – Fernando aceita a proposta
feita anonimamente pelo tutor de Aurélia –, retomando-o da noiva
pela qual tinha sido preterida e que lhe oferecera também um dote, a
protagonista irá se decepcionar pela segunda vez, sendo esse um
golpe irrecuperável na idealização do amor. Na verdade, o fato
revelado por ela é o verdadeiro mote para o desenvolvimento da
narrativa.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.53cm;">
<span style="font-size: small;">– <span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Conheci
que não amava-me, como eu desejava e merecia ser amada. Mas não era
sua a culpa e só minha que não soube inspirar-lhe a paixão, que eu
sentia. Mais tarde, o senhor retirou-me essa mesma afeição com que
me consolava e transportou-a para outra, em quem não podia encontrar
o que eu lhe dera, um coração virgem e cheio de paixão com que eu
o adorava. Entretanto, ainda tive forças para perdoar-lhe e amá-lo.
</span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A
moça agitou então a fronte com uma vibração altiva:</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.51cm;">
<span style="font-size: small;">– <span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Mas
o senhor não me abandou pelo amor de Adelaide e sim pelo seu dote,
um mesquinho dote de trinta contos! Eis o que não tinha o direito de
fazer, e que jamais lhe podia perdoar. <b>Desprezasse-me embora, mas
não descesse da altura em que o havia colocado dentro de minha alma.
Eu tinha um ídolo; o senhor abateu-o de seu pedestal e atirou-o no
pó. </b><span style="font-weight: normal;">Essa degradação do homem
a quem eu adorava, eis o seu crime; a sociedade não tem leis para
puni-lo, mas há um remorso para ele. Não se assassina assim um
coração que Deus criou para amar, incutindo-lhe a descrença e o
ódio.</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.51cm;">
<span style="font-size: small;">…<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">.................................................................................................</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.51cm;">
<span style="font-size: small;">– <span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-weight: normal;">[…]
Entretanto, ainda eu afagava uma esperança. Se ele recusa nobremente
a proposta aviltante, eu irei lançar-me a seus pés. Suplicar-lhe
que aceite a minha riqueza, que a dissipe se quiser; mas </span><b>consinta
que eu o ame</b><span style="font-weight: normal;">. Esta última
consolação o senhor a arrebatou. Que me restava? Outrora atava-se o
cadáver ao homicida, para expiação da culpa; </span><b>o senhor
matou-me o coração</b><span style="font-weight: normal;">; era justo
que o prendesse ao despojo de sua vítima. (grifos meus. p. 120-121)</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Após onze meses de vilipêndio, o
marido comprado restitui o dinheiro que recebera, conseguido com seu
trabalho e honestamente e, por esse modo, libera-se da palavra dada,
terminando com um casamento que, podia ser, então, uma prática
social, mas contrariava o idealizado casamento por amor. Nesse
momento, Seixas é alçado à condição de herói romântico,
situação a qual não correspondera até então. Diferentemente da
personagem protagonista, que tem um comportamento sempre preso aos
parâmetros da heroína literária epocal e, portanto, uma postura
estática, como constatam as mesmas passagens do romance, a
personagem masculina central evolui em direção ao papel que lhe
cabe na estética romântica. É nessa condição que ele,
finalmente, sobe a seu “pedestal”, à sua condição de ídolo e
tem, portanto, um lugar no coração ressuscitado da heroína.</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.46cm;">
<span style="font-size: small;">– <span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Pois
bem, agora <b>ajoelho-me</b> a teus pés, Fernando, e suplico-lhe que
aceites meu amor, este amor que nunca deixou de ser teu, ainda quando
mais cruelmente ofendia-te. (grifo meu, p. 234)</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.46cm;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.46cm;">
<span style="font-size: small;">– <span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Aquela
que te humilhou, aqui a tens <b>abatida</b>, no mesmo lugar onde
ultrajou-te, nas iras de sua paixão. Aqui a tens implorando seu
perdão e feliz porque te adora, como o senhor de sua alma. (grifo
meu, p. 234-235)</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.46cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: -0.03cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Duas particularidades
dos trechos, nem um pouco desprezíveis, ao
contrário, bastante significativas, saltam aos olhos de quem lê:
primeiro a subserviência
a que se entrega Aurélia – o vocábulo “abatida” pode ter o
significado de “diminuído em suas forças físicas e/ou morais”
–, ela sempre tão orgulhosa e altiva, ajoelhada, numa posição de
inferioridade frente ao marido. Pode-se
até imaginar uma ave que, acostumada a altos e grandes voos, é
caçada e se faz ao chão. A imagem é forte, mas corresponde
bastante ao trecho. Para
mostrar-se digna do amor de Fernando, ela tem de descer à condição
estabelecida para a mulher do século XIX. Se ele tem de subir em seu
pedestal, como ídolo, como herói, ela tem de ser rebaixada, para
corresponder a essa mesma idealização. </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Segundo
– e confirmando essa primeira particularidade –, a oposição que
se estabelece na troca de posições entre Aurélia e Fernando –
inadequadas até então, de acordo com os preceitos do Romantismo,
caros ao século. O termo que é escolhido no texto não é apenas
uma coincidência: ela, que era “senhóra” (rever p. 197)),
abdica de sua posição e pede ao amado que se torne “o senhor de
sua alma”. Invertem-se os papéis. Mais do que uma questão
amorosa, evidencia-se uma submissão prevista pela sociedade. O fecho
do romance indica, finalmente, que essa era a condição “essencial”
para a paz e desejava desde o princípio pela própria Aurélia: “As
cortinas cerraram-se, acariciando o seio das flores, cantavam o hino
misterioso do santo amor conjugal.” (p. 235)</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: -0.03cm;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">Visite
ainda os blogues </span><b><i>Conto-gotas</i></b><span style="font-style: normal;">
(<a href="http://conto-gotas.blogspot.com/">link</a>) e </span><b><i>Poema Vivo</i></b><span style="font-style: normal;">
(<a href="http://poemavida.blogspot.com/">link</a>).</span></span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
</div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-2498720529598132412014-03-09T13:35:00.006-03:002014-05-08T08:43:04.290-03:00Parte II: A pseudo “alma feminina”: Senhora e o olhar do século XIX sobre a mulher.<div style="text-align: justify;">
<style type="text/css">P { margin-bottom: 0.21cm; direction: ltr; color: rgb(0, 0, 0); }P.western { font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; }P.cjk { font-family: "Droid Sans Fallback"; font-size: 12pt; }P.ctl { font-family: "Lohit Hindi"; font-size: 12pt; }A:link { }</style><br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Eliane
F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<span style="font-size: large;">
</span><span style="font-size: large;">
</span><br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Antes de se iniciarem
os comentários sobre certos aspectos da narrativa propriamente dita
– esses dados são levantados na terceira parte –, chama-se a
atenção para o fato de que, na primeira parte do estudo sobre o
romance S<i>enhora</i>, foi citado o aproveitamentos dos costumes
sociais de meados do século XIX presentes no romance. Os exemplos
citados são tirados da 5.<sup>a</sup> edição da Editora Martin
Claret, da “Coleção a obra-prima de cada autor”.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.48cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Mas
essa parenta não passava de mãe de encomenda, para condescender com
os escrúpulos da sociedade brasileira, que naquele tempo não tinha
ainda admitido ainda certa emancipação feminina.” (p.17) </span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.48cm;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.48cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Riam-se
todos destes ditos de Aurélia e os lançavam à conta de gracinhas
de moça espirituosa; porém a maior parte das senhoras, sobretudo
aquelas que tinham filhas moças, não cansavam de criticar esses
modos desenvoltos, impróprios de meninas bem-educadas. (p. 19-20)</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.48cm;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.48cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Por
isso cresciam as tristezas e inquietações da boa mãe, pensar que
também esta filha estaria condenada <span style="font-weight: normal;">à
mesquinha sorte do aleijão social, que se chama celibato. </span>(p.45)</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.48cm;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.48cm;">
<span style="font-size: small;">– <span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Vendido!
– exclamou Seixas, ferido dentro d'alma.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.48cm;">
<span style="font-size: small;">– <span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Vendido
sim: não tem outro nome. Sou rica, muito rica, sou milionária;
<span style="font-weight: normal;">precisava de um marido, traste
indispensável às mulheres honestas.</span><b> </b><span style="font-weight: normal;">O
senhor estava no mercado; comprei-o. Custou-me cem contos de réis,
foi barato; não se fez valer. Eu daria o dobro, o triplo, toda a
minha riqueza por este momento. (p.81)</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.48cm;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.48cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: small;">Nessas
circunstâncias, a mãe só via para a filha o natural e eficaz apoio
de um marido. (p. 90)</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.48cm;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.48cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">No
primeiro ensejo interrogou o moço acerca de suas intenções. Fez
valer o argumento formidável da sombra que um galanteio ostensivo
projeta sobre a reputação de uma menina, quando não o perfumam os
botões de laranjeira a abrir em flor. Lembrou também que a
preferência exclusiva afugentava os pretendentes, sem garantia do
futuro. (p.99)</span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Apesar da aparente
crítica dos costumes sociais da época em que se desenvolve a trama
literária – “Sou rica,
muito rica, sou milionária; <span style="font-weight: normal;">precisava
de um marido, traste indispensável às mulheres honestas.” </span><span style="font-weight: normal;">–,
</span><span style="font-weight: normal;">u</span>ma
observação mais atenta dá a perceber que muitos dos conceitos que
são destilados por toda a obra acabam fazendo coro a esses mesmos
costumes, principalmente em relação à posição da mulher naquela
sociedade.</span><span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Para observar esse
aspecto, começa-se a chamar a atenção para a posição do
narrador, personagem criado como responsável pela enunciação,
que, se parece estar em um <span style="font-weight: normal;">ponto de
vista</span><b> </b>externo, em algumas passagens se mostra uma
presença subjetiva: </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.43cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Suspeito
eu porém que a explicação dessa singularidade já ficou
assinalada. Aurélia amava mais seu amor do que seu amante; era
mais poeta do que mulher; preferia o ideal ao homem. (p.106)</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.43cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">E essa presença
subjetiva, responsável, portanto, pelos conceitos ali expostos, se
trai não somente pela presença explícita do pronome de primeira
pessoa. Os articuladores textuais escolhidos pelo narrador vão dando
conta de suas posições frente ao objeto narrado, como tão bem
descreveu os aspectos teóricos da análise do discurso. Como se
comprova no exemplo abaixo, se, à primeira vista, o trecho parece
apenas conter uma constação de época, o advérbio “felizmente”,
de natureza afetiva, mas francamente axiológico (que se manifesta
com um caráter de valor para o enunciador do discurso), tão bem
descrito pela teoria citada, abre, significativamente, o parágrafo:
o narrador se posiciona claramente a favor da “antiga educação
brasileira”, bem como pelas opiniões que recheiam toda a trama.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-left: 1.48cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;"><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><b>Felizmente</b></span></span><span style="font-style: normal;">
D. Camila tinha dado a suas filhas a mesma rigorosa educação que
recebera; </span><span style="font-style: normal;"><span style="text-decoration: none;"><b>antiga
educação brasileira, já bem rara em nossos dias</b></span></span><span style="font-style: normal;">,
que, se não fazia donzelas românticas, </span><span style="font-style: normal;"><b>preparava
a mulher para as sublimes abnegações</b></span><span style="font-style: normal;">
que protegem a família e fazem da humilde casa um santuário. </span><span style="font-style: normal;">(</span><span style="font-style: normal;">O
grifo é meu – </span><span style="font-style: normal;">p.44)</span></span><br />
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Ainda,
refletindo sobre o exemplo anterior, pode-se argumentar que o termo
“abnegação” (renúncia, desprendimento, altruímo, sacrifício
de direitos), intensificado pelo atributo “sublime” (quase
sagrado), já permite a quem lê prever as concepções que esse
narrador tem – e o que valoriza – do papel social da mulher: o
silêncio, o recato, a não intervenção no processo social público.
À mulher estavam reservadas as <span style="font-weight: normal;">“</span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">sublimes
abnegações que protegem a família e fazem da humilde casa um
santuário.”, </span></span><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">ou
seja, o papel privado.</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.56cm;">
<br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;"><span style="font-style: normal;">Era
realmente para causar pasmo aos estranhos e susto a um tutor, a
perspicácia com que essa moça de dezoito anos apreciava as questões
mais complicadas; o perfeito conhecimento que mostrava dos negócios,
e a facilidade com que fazia, muitas vezes de memória, qualquer
operação aritmética por mais complicada e difícil que fosse. </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.56cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Não
havia porém em Aurélia nem sombra <span style="text-decoration: none;">do
</span><span style="text-decoration: none;"><b>ridículo pedantismo</b></span><span style="text-decoration: none;">
de certas moças que, tendo colhido em leituras superficiais certas
noções vagas, </span><span style="text-decoration: none;"><b>se
metem a tagarelar de tudo.</b></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.56cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;"><span style="text-decoration: none;"><b>Bem
ao contrário</b></span><span style="text-decoration: none;">, ela
recatava sua experiência, de que só fazia uso, q</span>uando o
exigiam seus próprios interesses. Fora daí ninguém lhe ouvia falar
de negócios e <b>emitir opinião acerca de coisas que não
pertencessem à sua especialidade de moça solteira.</b> ( O grifo é
meu – p. 30)</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.56cm;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">E
a justificativa desse comportamento social não intervencionista é
equacionado claramente no delineamento da características do ser
“Mulher” – emocionais, presas ao coração, ao contrário dos
homens, </span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">presos
à razão</span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">
–, ser singularizado através do enquadramento de todas as mulheres
dentro de uma pretensa essência feminina, por assim dizer, essência
da qual, não foge nem a personagem Aurélia, mesmo com as
especificidades que apresenta como heroína do romance e, portanto,
um ser especial. Os exemplos são abundantes nas palavras do
narrador. Alguns trechos foram colocados em negrito para realce do
que se quer apresentar.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-left: 1.56cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.56cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;"><span style="font-style: normal;">Era
uma expressão fria, pausada, inflexível, que jaspeava sua beleza,
dando-lhe quase a gelidez da estátua. Mas no lampejo de seus grandes
olhos pardos, brilhavam a irradiação da inteligência. Operava-se
nela uma revolução.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.56cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;"><b>O
princípio vital da mulher</b> abandonava seu foco natural, <b>o
coração,</b> para concentrar-se no cérebro, onde residem as
faculdades especulativas do homem.(p. 30)</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.56cm;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.56cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Via-se
bem que essa altiva e gentil cabeça não carregava um fardo, talvez
o <b>espólio de um crânio morto, jugo cruel que a moda impõe às
moças vaidosas</b>. O que ela ostentava era a coma abundante de que
a tocara a natureza, como às árvores frondosas, era a juba soberba
de que a galanteria moderna coroou a mulher como emblema de sua
realeza. (p.64) </span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.56cm;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-left: 1.56cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">No
altivo realce da cabeça e no enlevo das feições cuja formosura se
toucava de lumes esplêndidos, estava-se debuxando a soberba
expressão do triunfo, <b>que exalta a mulher quando consegue a
realidade de um desejo férvido e longamente ansiado. </b>(p.74) </span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.53cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;"><span style="font-style: normal;">Seixas
ajoelhou aos pés da noiva, tomou-lhe as mãos que ela não retirava;
e modulou o seu canto de amor, </span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;"><span style="font-style: normal;"><b>essa
ode sublime do coração</b></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;"><span style="font-style: normal;">,
</span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;"><span style="font-style: normal;"><b>que
só as mulheres entendem, como somente as mães percebem o balbuciar
do filho.</b></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">
(p. 80)</span></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;"><span style="font-style: normal;">
</span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.56cm;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.59cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;"><span style="font-style: normal;">A
natureza dotara Aurélia com a inteligência viva e brilhante da
mulher de talento, </span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;"><span style="font-style: normal;"><b>que
se não atinge ao vigoroso raciocínio do homem</b></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">,
tem a preciosa ductilidade de prestar-se a todos os assuntos, por
mais diversos que sejam. O que o irmão não conseguira em meses de
prática foi para ela estudo de uma semana. (p. 89) </span></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.64cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.64cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Esse
fenômeno devia ter uma razão psicológica, de cuja investigação
nos abstemos; <b>porque o coração, e ainda mais o da mulher que é
toda ela</b>, representa o caos do mundo moral. Ninguém sabe que
maravilhas ou que monstros vão surgir desses limbos. (p.104) </span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.64cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0.05cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Desse modo, percebe-se
que a leitura de um texto literário está longe de se constituir
apenas na fruição inocente de uma obra artística. Há muito mais a
ser revelado.</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"> </span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Mas, a despeito dos
comentários anteriores sobre as particularidades sociais levantadas,
quem leu a obra em questão se deparou com a magnificência da
habilidade narrativa alencariana e foi envolvido por uma história da
qual não conseguiu fugir até chegar a seu final surpreendente.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Convido a quem me lê a
voltar para acompanhar a terceira parte, que fala mais
abrangentemente dessa trama de <i>Senhora</i>, observada então a
força que o texto tem. </span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">ESTE ESTUDO CONTINUA NA POSTAGEM
SEGUINTE.</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">Visite
ainda os blogues </span><b><i>Conto-gotas</i></b><span style="font-style: normal;">
(<a href="http://conto-gotas.blogspot.com/">link</a>) e </span><b><i>Poema Vivo</i></b><span style="font-style: normal;">
(<a href="http://poemavida.blogspot.com/">link</a>).</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
</div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-87812174506874018332014-03-05T10:16:00.000-03:002014-03-05T10:34:47.134-03:00A pseudo alma feminina: "Senhora" e o olhar do século XIX sobre a mulher <div style="text-align: justify;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-LYbkLqia2EY/Uxcnh7WoZQI/AAAAAAAAAtw/jzQbpVYAAYI/s1600/Imagem+148.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-LYbkLqia2EY/Uxcnh7WoZQI/AAAAAAAAAtw/jzQbpVYAAYI/s1600/Imagem+148.jpg" height="240" width="320" /></a></span></span></div>
<br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"> <span style="font-size: x-small;">PRAÇA JOSÉ DE ALENCAR - FLAMENGO - RIO DE JANEIRO </span></span></span><br />
<br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />Parte I</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br />A postagem que ora se inicia é um superficial estudo sobre o magnífico romance <i>Senhora</i>, do escritor romântico José Martiniano de Alencar, que, nascido em 1829, no Ceará, falece muito jovem ainda, aos 48 anos (1877), o que permite ao público imaginar – uma vasta obra escrita em tão pouco tempo e mais de um romance em um mesmo ano –, que obra não teríamos, se nos fosse dada a sorte de ele ter vivido mais anos: os romances indianistas <i>O guarani</i> (1857), <i>Iracema</i> (1865) e <i>Ubirajara </i>(1874); os urbanos ou de costumes <i>Cinco minutos </i>(1856), <i>A viuvinha </i>(1857), <i>Lucíola </i>(1862), <i>Diva</i> (1864), <i>A pata da gazela </i>(1870), <i>Sonhos d'ouro </i>(1872), <i>Senhora</i> (1875) e <i>Encarnação </i>(1877 - publicação póstuma); os regionalistas <i>O gaúcho </i>(1870) <i>O tronco do Ipê </i>(1871), <i>Til </i>(1871) e <i>O sertanejo</i> (1875); os históricos <i>As minas de prata</i> (1865-1866) e <i>A guerra dos mascates</i> (1871-1873). O <i>guarani</i> é um verdadeiro romance épico.<br />Num olhar atento, percebe-se o plano nacionalista que Alencar seguiu de abarcar o Brasil em todas as suas variações geográficas, culturais e históricas, desde sua origem. Comparece-se apenas, por exemplo, <i>O sertanejo</i> (região Nordeste), <i>O gaúcho </i>(região Sul) e os vários romances urbanos, cujas tramas transcorrem no Rio de Janeiro. <br /><i>Senhora</i> é uma análise da sociedade brasileira urbana do século XIX. No romance, são abordadas, com olhar crítico, várias instituições sociais da época, como o casamento das classes favorecidas economicamente através de uma transação comercial. A par deste aspecto, outros costumes sociais vêm à tona. <br />Aurélia, a heroína-título, a príncipio paupérrima, que, ao contrário das mocinhas da época – à primeira vista, a protagonista parece contrariar o perfil de mulher de então –, não treme por um casamento, vê frustrado, no entanto, seu desejo de realização puramente amorosa, justamente subjugado aos ditames sociais do contrato de núpcias comercial, o que dá ensejo ao enredo envolvente do romance. A herança que recebe – no Romantismo quase sempre havia uma inesperada herança – permite realizar uma vingança contra o amado vendido para outra. Desse modo, a trama é dividida em quatro partes e os títulos procuram denunciar, não só a intenção de Aurélia ao “comprar” Fernando Seixas, como mostrar a crítica feroz que a mesma empreende contra a sociedade que a maltratara, usando seu próprio veneno: “Primeira parte: O preço”; “Segunda parte: Quitação”; “Terceira parte: Posse” e “Quarta parte: Resgate”. <br />O estudo ora iniciado e continuado em postagens posteriores tem como finalidade, na verdade, mostrar como, apesar das intenções de análise e crítica social, Alencar não consegue fugir da visão da época – está preso a ela, como qualquer um, pois é a “sua” época – e submerge nas comuns concepções de então sobre a mulher, concepções, aliás, que ainda continuam a ser repetidas até hoje.<br /><br /><b><span style="color: red;">ESTE ESTUDO CONTINUA NA POSTAGEM SEGUINTE</span></b>.<br /><br />Visite ainda os blogues <b><i>Conto-gotas</i></b> (<a href="http://conto-gotas.blogspot.com/">link</a>) e <b> <i>Poema Vivo</i> </b>(<a href="http://poemavida.blogspot.com/">link</a>).</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-19320817735532957412014-01-05T14:13:00.002-02:002014-01-05T14:43:26.654-02:00O bem-aventurado mundo da poesia<div style="text-align: justify;">
<style type="text/css">P { margin-bottom: 0.21cm; direction: ltr; color: rgb(0, 0, 0); }P.western { font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; }P.cjk { font-family: "Droid Sans Fallback"; font-size: 12pt; }P.ctl { font-family: "Lohit Hindi"; font-size: 12pt; }A:link { }A:visited { }</style>
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Eliane
F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais)</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-OOJX4YsLjHk/UsmFl5KIyrI/AAAAAAAAAsk/PlV_bXuluHA/s1600/Mario+Quintana.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-OOJX4YsLjHk/UsmFl5KIyrI/AAAAAAAAAsk/PlV_bXuluHA/s320/Mario+Quintana.jpg" width="198" /></a><span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">O
estudo de hoje é sobre Mário Quintana.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Além
de poeta (1906-1994), foi tradutor e jornalista. Por sua importância
na literatura – em 1980, recebeu o prêmio Machado de Assis e em
1981, o prêmio Jabuti –, chegou a ser indicado para a Academia
Brasileira de Letras, embora a justiça não tenha sido feita. A
literatura perdeu pouco, pois seus textos não ficaram menos
magníficos por isso. </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Se
seus poemas encantam, famosas ficaram, do mesmo modo, frases que
deliciam gerações:</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Dos
grilos</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Toda
a noite os grilos fritam não sei o quê. A madrugada chega, destampa
o panelão: a coisa esfria.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Da
relativa igualdade</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Democracia?
É dar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada,
isso depende de cada um. </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">O
trágico dilema</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Quando
alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos
dois é burro.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Camuflagem</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">A
esperança é um urubu pintado de verde</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">O
pior</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">O
pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso. </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Incorrigível</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">O
fantasma é um exibicionista póstumo.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Mentira?
</span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">A
mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer. </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Provérbio</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">O
seguro morreu de guarda-chuva. </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Mas
há um poema a ser estudado, que aprecio muito, e que se estrutura
sobre um tema que, como se verá adiante, tem, não só ligações
literárias, mas, ouso dizer, psicológicas, através dos sujeitos
líricos, com outro poema transcrito em seguida. Vamos lê-lo,
inicialmente.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Eu
nada entendo</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Mário
Quintana</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Eu
nada entendo da questão social.</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Eu
faço parte dela simplesmente...</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">E
sei apenas do meu próprio mal,</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Que
não é bem o mal de toda gente,</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Nem
é deste Planeta... Por sinal</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Que
o mundo se lhe mostra indiferente!</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">E
o meu Anjo da Guarda, ele somente,</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">É
quem lê os meus versos afinal...</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">E
enquanto o mundo em torno se esbarronda,</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Vivo
regendo estranhas contradanças</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">No
meu vago País de Trebizonda...</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Entre
os Loucos, os Mortos e as Crianças,</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">É
lá que eu canto, numa eterna ronda,</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Nossos
comuns desejos e esperanças!... </span></span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">(<i>In
Nariz de vidro</i><span style="font-style: normal;"> – São Paulo:
Moderna, 1984, p.17)</span></span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;">A
primeira observação a ser feita é de que há, nitidamente, uma
ruptura entre o mundo indiferente de toda gente, que se posta de um
lado, e aquele “eu” e seu Anjo da Guarda, que se postam no mesmo
lado que os Loucos, os Mortos e as Crianças. </span></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;">E
há até a fixação de espaços diferentes para esses dois mundos:
um está neste “Planeta”; mas o sujeito poético constrói para
si e seus pares um “vago País de Trebizonda”, um “lá”, onde
é possível cantar, “numa eterna ronda,/Nossos comuns desejos e
esperanças”, sentimentos – “E sei apenas do meu próprio mal”
– a que o mundo se mostra indiferente. </span></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;">É
importante observar que esse vago país é um local de exceção,
onde pode penetrar o Anjo da Guarda, que, afinal, é o único que lê
os versos desse sujeito poético, compartilhando-lhe o mal e, </span><span style="font-style: normal;">ainda,</span><span style="font-style: normal;">
seus desejos. Um local subjetivo onde é possível a realização de todas as ações e sonhos interditos no Planeta de onde o eu poético se evade.</span></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;">Mas
a porta secreta dessa terra particular – seria</span><span style="font-style: normal;">m</span><span style="font-style: normal;">
</span><span style="font-style: normal;">os versos </span><span style="font-style: normal;">a
chave </span><span style="font-style: normal;">incógnita? – </span><span style="font-style: normal;">é
aberta a outr</span><span style="font-style: normal;">as entidades</span><span style="font-style: normal;">
excepcionais, como os mortos, as crianças e os loucos, </span><span style="font-style: normal;">porque
</span><span style="font-style: normal;">sempre exclusos dos limites
do senso comum. </span><span style="font-style: normal;">A poesia –
e poetas, como seres igualmente de exceção –, como se conclui,
transita, igualmente, muito além dos padrões aceitos nas “questões
sociais”.</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Vale a pena ler, agora, o poema de
Manuel Bandeira, citado no início e se verificar como tange,
similarmente, o tema do território inatingível da bem-aventurança,
só alcançado através da poesia. </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Vou-me
Embora pra Pasárgada </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Manuel
Bandeira </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Vou-me
embora pra Pasárgada </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Lá
sou amigo do rei </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Lá
tenho a mulher que eu quero </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Na
cama que escolherei </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Vou-me
embora pra Pasárgada </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Vou-me
embora pra Pasárgada</span></span></div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Aqui
eu não sou feliz </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Rainha
e falsa demente </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Vem
a ser contraparente </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Da
nora que nunca tive </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">E
como farei ginástica </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Andarei
de bicicleta </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Montarei
em burro brabo </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Subirei
no pau-de-sebo </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Tomarei
banhos de mar! </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">E
quando estiver cansado </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Deito
na beira do rio </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Mando
chamar a mãe-d'água </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Pra
me contar as histórias </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Que
no tempo de eu menino </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Rosa
vinha me contar </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Vou-me
embora pra Pasárgada </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Em
Pasárgada tem tudo </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">É
outra civilização </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Tem
um processo seguro </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">De
impedir a concepção </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Tem
telefone automático </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Tem
alcaloide à vontade </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Tem
prostitutas bonitas </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Para
a gente namorar </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">E
quando eu estiver mais triste </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Mas
triste de não ter jeito </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Quando
de noite me der </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Vontade
de me matar </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">—
Lá sou amigo do rei — </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Terei
a mulher que eu quero </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Na
cama que escolherei </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Vou-me
embora pra Pasárgada. </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">(<i>In Estrela da vida Inteira</i>.
Rio de Janeiro, S. Paulo: Record, /s.d./, <span style="font-weight: normal;">p.143-144)</span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Não é coincidência o fato de aqui
também surgir a presença do Louco - “Que Joana a Louca de Espanha
–, entrelaçado ao sujeito poético, apontando, novamente, para o
ser excêntrico, aqui empregado no sentido mesmo de “afastado ou
desviado de fora do centro”, numa terra subjetiva, um País de
Trebizonda, ora nomeado Pasárgada: “ Em Pasárgada tem tudo/É
outra civilização”.</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Como se pode perceber, Trebizonda e Pasárgada são o território de todas as possibidades, a terra prometida do eu lírico doada a si mesmo. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Para fechar a argumentação, novo e
belíssimo texto do mesmo Mário Quintana. </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Mário
Quintana</span></span></div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Se
eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,</span></span></div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">não
falaria em Deus nem no Pecado</span></span></div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">–
muito menos no Anjo Rebelado</span></span></div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">e
os encantos das suas seduções,</span></span></div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">não
citaria santos e profetas:</span></span></div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">nada
das suas celestiais promessas</span></span></div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">ou
das suas terríveis maldições...</span></span></div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Se
eu fosse um padre eu citaria os poetas,</span></span></div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Rezaria
seus versos, os mais belos,</span></span></div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">desses
que desde a infância me embalaram</span></span></div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">e
quem me dera que alguns fosse meus!</span></span></div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Porque
a poesia purifica a alma</span></span></div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">…
e um belo poema – ainda que Deus
se aparte –</span></span></div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">um
belo poema sempre leva a Deus!</span></span></div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">(Na
mesma obra de Mário Quintana, p. 44) </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
<div class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Visite, igualmente, meus blogues <span style="color: purple;"><b><i>Conto-gotas</i></b></span> (<a href="http://conto-gotas.blogspot.com/">link</a>) e <i><span style="color: purple;"><b>Poema Vivo</b></span> </i>(<a href="http://poemavida.blogspot.com/">link</a>). </span></span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span>
</div>
</div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-69743526232277601512013-12-28T17:18:00.000-02:002013-12-28T17:20:12.363-02:00FELIZ ANO NOVO<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"> Desejo a todas as pessoas que têm visitado meu blogue em 2013 que o ano de 2014 seja pleno de realizações e muita paz. Teremos muitos compromissos como cidadãos, no próximo ano, e a sensatez, aliada à informação segura, deverão ser nosso norte. Nada de ouvir apenas a mídia comprometida com seus próprios interesses. A Internet está repleta de sites isentos e sérios. Vamos a eles. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"> Não me esqueci das novas postagens sobre literatura, mas, como estou escrevendo um livro de análise literária, conforme informei anteriormente, não tenho podido vir com muita frequência. Não imaginem, de forma alguma, que abandonei meus estudos aqui. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"> Há, no entanto, muita matéria a ser consultada neste espaço, se alguém se interessar, em postagens mais antigas. Convido, desse modo, minhas fiéis amigas e meus fiéis amigos a uma viagem para trás no blogue.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"> Comprometo-me a achar um tempo em meu afazer principal e postar mais em 2014. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Continuo a convidar para uma visita a meus blogues <b><i><span style="color: #274e13;">Poema Vivo</span> </i></b>(<a href="http://poemavida.blogspot.com/">link</a>)<b><i> <span style="color: #274e13;">Conto-gotas</span> </i></b>(<a href="http://conto-gotas.blogspot.com/">link</a>). </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-4312465669031209432013-09-13T17:22:00.000-03:002013-09-19T09:06:26.423-03:00Estudo de Escobar: desagravo a Capitu - PARTE II<style type="text/css">P { margin-bottom: 0.21cm; direction: ltr; color: rgb(0, 0, 0); }P.western { font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; }P.cjk { font-family: "Droid Sans Fallback"; font-size: 12pt; }P.ctl { font-family: "Lohit Hindi"; font-size: 12pt; }</style>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Eliane F.C.Lima (Registrado no
Escritório de Direitos Autorais - RJ)</span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;">Na
primeira parte desse estudo sobre </span><i>Dom Casmurro</i><span style="font-style: normal;">,
de Machado de Assis, foram feitas considerações sobre o caráter da
personagem Escobar, suposto lado de um triângulo amoroso, </span><span style="font-style: normal;">traçado</span><span style="font-style: normal;">
</span><span style="font-style: normal;">pel</span><span style="font-style: normal;">as
palavras de um marido, Bentinho, que se supõe traído, o que torna o
depoimento passível de dúvida. Foi chamada a atenção de quem lê
para dois fatores: a complacência com que o narrador vai enumerando
detalhes sobre o outro, que vão formando um</span><span style="font-style: normal;">a
índole</span><span style="font-style: normal;"> no mínim</span><span style="font-style: normal;">o</span><span style="font-style: normal;">
suspeit</span><span style="font-style: normal;">a</span><span style="font-style: normal;">,
ânimo bastante diferente que mantém em relação a ex-mulher
Capitu; a vocação “comercial” de Escobar, que será mais
detalhadamente explicitada neste segmento. </span></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-style: normal;">Quando
começa a frequentar a casa de Bentinho, </span>o ainda postulante a
padre, impressiona a família do amigo. Apenas a velha prima,
extremamente crítica, enxerga nele o que os demais não veem. Mas a
observação que faz vem ao encontro daquilo que já vinha sendo
suspeitado por quem lê: </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;">… <span style="font-family: Verdana, sans-serif;">e
prima Justina não achou tacha que lhe pôr; depois, sim, no segundo
ou terceiro domingo, veio ela confessar-nos que o meu amigo Escobar
era um tanto metediço e tinha uns olhos policiais a que não
escapava nada. (cap. XCIII)</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">Ao
contrário da prima, ao companheiro de seminário</span>
surpreende o carinho e admiração com que o visitante se refere
sempre à D.<sup><span style="font-style: normal;">a</span></sup><span style="font-style: normal;">
Glória, sua mãe: </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">-
Também eu fiquei gostando de todos, mas é possível fazer
distinção, confesso-lhe que sua mãe é uma pessoa adorável. (cap.
LXXVIII )</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Nem
de outro modo se explica a opinião de Escobar, que apenas trocara
com ela quatro palavras. (cap. LXXIX)</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Insistia
na educação, nos bons exemplos, na “doce e rara mãe” que o céu
me deu... Tudo isso com a voz engasgada e trêmula. </span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Todos
ficaram gostando dele. (cap. XCIII)</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Escobar
confessou esse acordo do interno com o externo, por palavras tão
finas e altas que me comoveram; depois, a propósito da beleza moral
que se ajusta à física, tornou a falar de minha mãe, “um anjo
dobrado”, disse ele. (mesmo capítulo)</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Aos poucos, Escobar vai
amiudando a conversa sobre a viúva e Bentinho, ingenuamente,
vai dando as explicações.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">-
Já fez quarenta, respondi eu vagamente por vaidade.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">-
Não é possível! exclamou Escobar. Quarenta anos! Nem parece
trinta; está muito moça e bonita. Também a alguém há de você
sair, com esses olhos que Deus lhe deu; são exatamente os dela.
Enviuvou há muitos anos?</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Contei-lhe
o que sabia dela e de meu pai. Escobar escutava atento, perguntando
mais, pedindo explicação das passagens omissas ou só escuras. […]
E não contávamos voltar à roça? <span style="font-weight: normal;">(cap.
</span><span style="font-weight: normal;">XCIII</span><span style="font-weight: normal;">)</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Mas os detalhes que vai
arrancando de Bentinnho não se limitam a aspectos pessoais da
senhora. Aos poucos, Bentinho acaba fazendo um verdadeiro inventário
dos bens da mãe: o número de escravos que tinha, todas as casas que
possuía alugadas, além da casa de Mata-Cavalos – hoje Rua do
Riachuelo – e a da roça:</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">-
O que me admira é que D. Glória se acostumasse logo a viver em casa
da cidade, onde tudo é apertado; a de lá é grande naturalmente.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">-
Não sei, mas parece. Mamãe tem outras casas maiores que esta; diz
porém que há de morrer aqui. As outras estão alugadas. Algumas são
bem grandes, como a da Rua da Quitanda... <span style="font-weight: normal;">(cap.
</span><span style="font-weight: normal;">XCIII</span><span style="font-weight: normal;">)</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">O interesse de Escobar
– travestido de qualquer outra coisa, como supõe o Bentinho da
época, mas do qual desconfia a pessoa que lê – vem como golpe
final, algumas páginas adiante:</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Nem
ele sabia só elogiar e pensar, sabia também calcular depressa e
bem. […] Não se imagina a facilidade com que ele somava ou
multiplicava de cor. <span style="font-weight: normal;">(cap. </span><span style="font-weight: normal;">XCIV</span><span style="font-weight: normal;">)</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">-
Por exemplo... dê-me um caso, dê-me uma porção de números que eu
não saiba nem possa saber antes... olhe, dê-me o número das casas
de sua mãe e os aluguéis de cada uma, e se eu não disser a soma
total em dous, em um minuto, enforque-me! (cap. XCIV)</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">O Dom Casmurro, o homem
já maduro que resolve narrar suas memórias, vai assim desenvolvendo
um perfil de Escobar, que se harmoniza com aquela guinada, pouco
compreendida, de seminarista a comerciante. É sem surpresa que a
perspicácia do comentário da prima é encontrado adiante: </span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Era
opinião de prima Justina que ele afagara a ideia de convidar minha
mãe a segundas núpcias. (cap. XCVIII)</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">E sem surpresa também
se percebe a natureza do interesse do rapaz pela mãe do amigo e do
motivo de sua desistência, surpreendido em suas próprias palavras:
“D. Glória é medrosa e não tem ambição.”<span style="font-weight: normal;">
(mesmo capítulo)</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Se o matrimônio com
D.<sup>a</sup> Glória não parece possível, a amizade com Bentinho,
o herdeiro, é passível de concretização. É de Escobar a ideia de
que a promessa da mãe do amigo de dar um padre a Deus, seja cumprida
por outro menino, um menino orfão. Assim sairiam os dois do
seminário e o casamento de Bentinho seria possível e a amizade
continuaria.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">E é o que se verifica.
Porque o imprevisto casamento de Escobar com Sancha, a melhor amiga
de Capitu, a eleita de Bentinho e sua esperada futura esposa,
estreita e alicerça a amizade. </span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: small;">Venceu
Escobar; posto que vexada, Capitu entregou-lhe a primeira carta, que
foi mãe e avó das outras. Nem depois de casado suspendeu ele o
obséquio... Que ele casou, – adivinha com quem, – casou com a
boa Sancha, a amiga de Capitu, quase irmã dela, tanto que alguma
vez, escrevendo-me, chamava a esta a “sua cunhadinha”. Assim se
formam as afeições e os parentescos, as aventuras e os livros.<span style="font-weight: normal;">
(</span><span style="font-weight: normal;">mesmo
</span><span style="font-weight: normal;">capítulo)</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">Apesar
de Capitu e o marido terem esperado por um longo tempo a vinda de um
filho que parecia quase impossível – Sancha e Escobar já eram
pais de uma menina –</span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">,
nascidos os filhos de ambos, estabelecia-se a intimidade total </span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;">dos
casais.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">É o filho de Bentinho
e Capitu, entretanto, que, crescendo e teimando em imitar, em todos
os gestos e atitudes o marido de Sancha, que faz o pai levantar a
suspeita da traição de sua mulher com Escobar, mesmo depois da
morte desse. Não há, em toda a narrativa, nenhum dado concreto que
justifique as suspeitas do marido, a não ser suas conclusões
subjetivas, seu enorme sentimento de inferioridade diante de Capitu.
Inclusive, o próprio sentimento de Escobar em relação a sua filha
e o filho do amigo – “Escobar acompanhava muita vez as minhas
criancices; também interrogava o futuro. Chegava a falar da hipótese
de casar o pequeno com a filha”. (Cap. CVIII) – embaça no
espírito de quem faz a leitura a possibilidade de serem irmãos.
Seria o desejo de Escobar, lançado no meio do discurso do velho
narrador, uma pista para desfazer sua desconfiança paranoica? Ou, ao
contrário, para enfatizar o grau elevado e sem limites de uma jogada
comercial, que envolveria seus próprios filhos e garantiria ao comerciante a fortuna do outro? </span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span style="font-size: large;">De qualquer modo, o que
fica evidente, com uma leitura analítica, é a desigualdade de
tratamento com que são tratados os supostos parceiros de traição.
Apesar de ter seu temperamento esboçado, aos poucos, salva-se
Escobar do julgamento inclemente dado pelo memorialista à sua
mulher. Salva-se, ainda, desse mesmo julgamento feito pela opinião
pública e crítica nesses cem anos de publicação de <i><span style="font-weight: normal;">Dom
Casmurro</span></i><span style="font-weight: normal;">.</span></span> </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Visite também meus
blogues <i><span style="color: #4c1130;"><b>Conto-gotas</b></span> </i>(<a href="http://conto-gotas.blogspot.com/">link</a>) e<i> <span style="color: #4c1130;"><b>Poema Vivo</b></span> </i>(<a href="http://poemavida.blogspot.com/">link</a>).</span></div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-15829004482529977092013-08-10T10:19:00.001-03:002013-09-19T09:06:03.479-03:00Estudo de Escobar: desagravo a Capitu<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)<br /><br />A reflexão de hoje será feita, em duas partes, sobre uma personagem de <i>Dom Casmurro</i> (1899), de Machado de Assis, personagem central na trama, mas que normalmente é relegada a segundo plano em comparação com a controversa personagem Capitu, que se torna o objeto principal da narração, na velhice, feita pelo ciumento marido – Bentinho –, cujo objetivo é sobrepor prova sobre prova da personalidade capciosa da ex-esposa e de sua suposta infidelidade: “olhos de ressaca”; “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”, dentre outras. Tal figura feminina tem frequentado um número enorme de análises do romance, quase sempre com a mesma visão do narrador, indício de que a argumentação daquele atingiu seu intento principal, que era o de tomar quem lê – e desse destino não escapa a maioria dos críticos – como principal cúmplice de sua teoria. <br />Escobar é o amigo de Bentinho, amigo do seminário, que seria o par de Capitu nessa presumida traição, mas que, estranhamente, não tem tido o mesmo prestígio da companheira de ficção. Seria o destino de Capitu o mesmo da Eva bíblica – e sua serpente, como sua versão zoomórfica –, ou seja, ligado à maligna e traiçoeira “essência” feminina?<br />Ao longo de seu discurso, Bentinho também vai, aos poucos, fornecendo a seu destinatário sinais significativos – segundo sua visão parcial de narrador profundamente magoado e envolvido na história – da personalidade do companheiro, embora a aparente inocência com que o faz – ou seria complacência? – possa intrigar a pessoa leitora, se se confrontar com a implacabilidade de sua análise da personagem feminina. A tão somente contínua narração de passagens que dão pistas sobre o caráter de Escobar já faz quem lê suspeitar de que o estado de ingenuidade de Bentinho sobre o antigo camarada é falso, que ele pretende marcar o perfil de sua personagem masculina, o que surpreende sobre seu omisso e condescendente julgamento sobre ela, comparativamente ao inclemente juízo sobre Capitu. Se Escobar conseguiu fugir da condenação da personagem narradora, à época em que os fatos aconteciam, via morte – afoga-se nadando –, por que o sentimento de tolerância persiste, no final da vida de Bentinho, quando resolve fazer um balanço judicativo e implacável?<br />Façamos um breve preâmbulo sobre Escobar, o qual era três anos mais velho que o ingênuo amigo: primeiro é preciso se atentar para o fato de que, tendo se tornado amigos durante sua estada no seminário, o companheiro abandona seu desejo de ordenar-se padre – por quê? – praticamente à mesma época do protagonista, para dedicar-se ao comércio, o que, convenhamos, é uma guinada bem violenta em relação às intenções iniciais. Guardemos essa vocação “comercial” como um traço importante da sequência narrativa – e argumentativa – que está por vir.<br />Durante sua estada ali, fala repetidamente de uma irmã, louvando-lhe em excesso as qualidades, chegando ao ponto de mostrar a Bentinho as cartas que essa lhe envia. Quem lê já começa a estranhar essa porta aberta em sua intimidade – ou na intimidade de Bentinho –, o que não era comum naqueles tempos, ou a desconfiar de sua pretensão. Adiante, no mesmo capítulo, Bentinho completa, a respeito das palavras da irmã do outro, que “tais eram que me fariam capaz de acabar casando com ela se não fosse Capitu.” <br />Comecemos, então, a analisar o discurso de Bentinho sobre Escobar através – a suspeita sobre as palavras do Bentinho ciumento deve ser mantida pelo analista isento – da narrativa. <br /><br /><span style="font-size: small;">Quem não estivesse acostumado com ele podia acaso sentir-se mal, não sabendo por onde lhe pegasse. Não fitava de rosto, não falava claro nem seguido; as mãos não apertavam as outras, nem se deixava apertar delas, porque os dedos, sendo delgados e curtos, quando a gente cuidava tê-los entre os seus, já não tinha nada. (capítulo LVI)<br /><br />Uma coisa não seria tão fugitiva, como o resto, a reflexão: íamos dar com ele, muita vez, olhos enfiados em si, cogitando. (o mesmo capítulo)<br /><br />Quando ele entrou na minha intimidade pedia-me frequentemente explicações e repetições miúdas, e tinha memória para guardá-las todas, até as palavras. Talvez esta faculdade prejudicasse alguma outra. (o mesmo capítulo)</span> </span></span><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">A reflexão dos exemplos acima já configura um ser esquivo, que pouco se deixa revelar – “não sabendo por onde lhe pegasse” –, mas que, ao contrário, tem como costume – pelo menos a Bentinho – investigar o outro. <br />Alguns parágrafos à frente, o narrador completa: </span></span><br />
<br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif; font-size: small;">A princípio fui tímido, mas ele fez-se entrado na minha confiança. Aqueles modos fugitivos cessavam quando ele queria, e o meio e o tempo os fizeram mais pousados.</span><br />
<br />
<br />
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">A impressão que fica é de alguém que quer observar miudamente, sem ser observado. E o resultado dessa observação – “... e tinha memória para guardá-las todas, até as palavras.” – parece estar contemplado naquele “cogitando”, termo cuidadosamente escolhido pelo narrador, pois cogitar é muito mais do que simplesmente pensar. Visto que os trechos anteriores fazem parte do mesmo parágrafo, concluí-se – essa provavelmente é a intenção do narrador no momento de seu relato – que a memória das explicações e repetições miúdas, dadas por Bentinho, devia ser, muita vez, a matéria do cogitar da personagem descrita. <br />Por último, é impossível, igualmente, não se encontrar semelhança entre o “não fitava de rosto”, para Escobar no primeiro exemplo, e “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”, aplicados a Capitu. <br />Do mesmo modo, é igualmente impossível não se reconhecer afinidades entre o “... pedia-me frequentemente explicações e repetições miúdas” e o “olhos enfiados em si, cogitando”, isto é, no costume da “reflexão” sobre as informações persistentemente buscadas, por parte de Escobar e essas mesmas características na menina amada por ele:<br /><br /><span style="font-size: small;">Capitu refletia. A reflexão não era cousa rara nela, e conheciam-se as ocasiões pelo apertado dos olhos. Pediu-me algumas circunstâncias mais, as próprias palavras de uns e de outros, e o tom delas. (cap. XVII)</span><br /><br />Mostrar que Escobar e Capitu eram feitos um para o outro é a intenção do velho dom casmurro? </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">(Este artigo continua na próxima postagem). </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Remeto a meus blogues <span style="color: #274e13;"><b><i>Conto-gotas</i></b></span> (<a href="http://conto-gotas.blogspot.com/">link</a>) e <span style="color: #274e13;"><i><b>Poema Vivo </b></i></span>(<a href="http://poemavida.blogspot.com/">link</a>).</span></span></div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2031185551019928038.post-76966478948900842902013-06-23T16:45:00.002-03:002013-08-14T10:39:21.408-03:00Polifonia: um recurso do engenho poético<style type="text/css">P.sdfootnote-western { margin-left: 0.6cm; text-indent: -0.6cm; margin-bottom: 0cm; font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 10pt; }P.sdfootnote-cjk { margin-left: 0.6cm; text-indent: -0.6cm; margin-bottom: 0cm; font-family: "Droid Sans"; font-size: 10pt; }P.sdfootnote-ctl { margin-left: 0.6cm; text-indent: -0.6cm; margin-bottom: 0cm; font-family: "Lohit Hindi"; font-size: 10pt; }P { margin-bottom: 0.21cm; direction: ltr; color: rgb(0, 0, 0); }P.western { font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12pt; }P.cjk { font-family: "Droid Sans"; font-size: 12pt; }P.ctl { font-family: "Lohit Hindi"; font-size: 12pt; }A:link { }A.sdfootnoteanc { font-size: 57%; }</style>
<br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: large;">Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)</span></span><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: large;">Ainda a propósito dos conceitos bakhtinianos estudados em postagem anterior, solicito a releitura de "Dialogismo" e "polifonia" ali resumidamente transcritos. </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: large;">Hoje é analisado um poema de Adélia Prado, do livro <i>Oráculos de maio</i>, e se verifica o quanto a perícia literária se aproveita das prerrogativas da linguagem comum, qual seja, desses dois aspectos. Dialogando, então, com um texto de domínio público, caro a uma coletividade ocidental, a escritora solicita o concurso de uma voz alheia ao poema, mas essencial para a configuração do discurso do sujeito lírico, suas significâncias e alcance.</span></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: large;"> </span></span>
</div>
<div class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"> Mulher ao cair da Tarde</span>
</div>
<div class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.3cm;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.3cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Adélia Prado</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.3cm;">
<span style="font-size: large;"><br /></span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.3cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Ó Deus, não me castigue se falo</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.3cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">minha vida foi tão bonita!</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.3cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">Somos humanos,</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.3cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">nossos verbos têm tempos,</span></div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.3cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">não são como o Vosso, </span>
</div>
<span style="font-size: large;">
</span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.3cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;">eterno.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.3cm;">
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 1.3cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0.03cm; text-indent: -0.08cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: -0.05cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-weight: normal;"> </span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-weight: normal;">Uma
leitura atenta começa por identificar os termos “Deus” e
“verbo</span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-weight: normal;">s</span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-weight: normal;">”,
o que remete a uma voz que se pronuncia no Gênesis, “No princípio
era o verbo”, que se refere, naturalmente a uma prerrogativa
divina, pejada de sua aura </span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-weight: normal;">de
</span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-weight: normal;">sagrad</span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-weight: normal;">o</span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-weight: normal;">
e sempiternidade. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: -0.05cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-weight: normal;"></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-weight: normal;">Mas</span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-weight: normal;">
essa mesma leitura permite entrever que o locutor se apropria,
sub-repticiamente, dessa sentença narrativa, </span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-weight: normal;">para</span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-weight: normal;">,
</span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">em
seu procedimento, </span></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">apor
a</span></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">o
termo “verbo” </span></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">e
a </span></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">seu
sentido original d</span></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">e</span></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">
</span></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: large;"><i><span style="font-weight: normal;">Logos</span></i></span><span style="font-size: large;"><sup><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-weight: normal;"><a class="sdfootnoteanc" href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2031185551019928038#sdfootnote1sym" name="sdfootnote1anc"><sup>1</sup></a></span></i></span></sup><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">
</span></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">bíblico,
</span></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">seu
significado contemporâneo de termo gramatical, em uma de suas
características, qual seja a temporal, finit</span></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">a:
“nossos verbos têm tempos”. M</span></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">agistralmente,
</span></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">liga
os dois significados e os opõe, ao</span></span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">
apontar em outra direção, justificando, assim, a transitoriedade de
sua condição humana. E o emprego de “foi tão bonita” em lugar
de “é tão bonita”, ou seja o lamento por essa transitoriedade
de aspectos, soa, para o agente do discurso, como uma ingratidão em
relação a esse Deus e, portanto, quase como um pecado. </span></span></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; font-weight: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> <span style="font-size: large;">O entendimento do texto e o alcance
da longitude poética partem e dependem, então, basicamente, do
entendimento da afirmativa dessa outra voz de domínio coletivo, da
identificação do significado primordial da palavra “verbo” ali
empregado, do entrecruzar dessas duas vozes presentes. O diálogo da
voz chamada ao texto e da voz enunciadora, através do jogo entre os
dois significados do termo, constrói o significado geral do texto
poético – há uma nítida distância estabelecida, então, entre
“humanos” e a divindade, embutida naquele “Vosso” – e
delineia o discurso daquela “Mulher ao cair da tarde”, que,
assim, assume sua humana fragilidade e o direito à avaliação
negativa sobre sua própria condição.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; font-weight: normal; margin-bottom: 0cm; margin-left: -0.05cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></div>
<div id="sdfootnote1">
<div align="JUSTIFY" class="sdfootnote-western" style="margin-left: 0cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: small;"><a class="sdfootnotesym" href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=2031185551019928038#sdfootnote1anc" name="sdfootnote1sym">1</a>.
Conforme o dicionário Aulete digital, dentre outros conceitos,
destacam-se: I.“conjunto de leis e conexões que, comandando o
universo, formam uma espécie de inteligência cósmica”, segundo
“o filósofo grego Heráclito (séc. V a.C.)”; II. Para a
filosofia estoica é o princípio que anima e organiza a matéria,
agindo como força determinante do destino e da racionalidade
humanas”. No entanto, acredita-se que um terceiro conceito deste
mesmo dicionário é o mais adequado ao texto da escritora: “No
Evangelho de João, o Deus criador e seu filho, Jesus Cristo, que
representam o poder e o saber absolutos da razão divina”.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="sdfootnote-western" style="margin-left: 0cm; text-indent: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="sdfootnote-western" style="margin-left: 0cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-size: large;">Convido para meus blogues <span style="color: #ea9999;"><i><b>Poema Vivo</b></i></span> (<a href="http://poemavida.blogspot.com/">link</a>) e <span style="color: #ea9999;"><i><b>Conto-gotas</b></i></span> (<a href="http://conto-gotas.blogspot.com/">link</a>). </span> </span></div>
<span style="font-size: small;">
</span><br />
<div align="JUSTIFY" class="sdfootnote-western" style="margin-left: 0cm; text-indent: 0cm;">
<span style="font-size: small;">
</span></div>
</div>
Eliane F.C.Limahttp://www.blogger.com/profile/05562003775645498773noreply@blogger.com1