Eliane F.C.Lima
Ontem fez um ano da morte do escritor português José Saramago. E, como todo o mundo já percebeu, estamos há um ano mais pobres. De cultura. De amor ao próximo. De verdade.
Logo após a sua morte, compus o poema abaixo, onde eu imaginava a chegada de Saramago ao céu, ele que era ateu. Não é um poema religioso ou de negação das ideias do escritor. Ao contrário. Vali-me do tema para reafirmar o pensamento do homem.
Ontem fez um ano da morte do escritor português José Saramago. E, como todo o mundo já percebeu, estamos há um ano mais pobres. De cultura. De amor ao próximo. De verdade.
Logo após a sua morte, compus o poema abaixo, onde eu imaginava a chegada de Saramago ao céu, ele que era ateu. Não é um poema religioso ou de negação das ideias do escritor. Ao contrário. Vali-me do tema para reafirmar o pensamento do homem.
Hosana
Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)
Sentado estava Deus, e absorto
– que Deus também tem dúvida e anseio.
E chega-lhe, de manso, em pleno horto,
um magro homem e senta ali no meio.
De imediato o deus o reconhece,
é Saramago, dele não se esquece.
O homem, mesmo vendo, não acredita
e se exaltar, à toa, ainda evita.
Mas o outro – a espera não foi vã –,
mesmo Deus, o coração aos pulos,
sorri de si, e mais dos homens fulos
que, no lodo, cospem ira anã.
Mostra as guirlandas postas pelos cestos,
a festa preparada ao José,
declama, decorados, os seus textos,
demonstra com clareza sua fé.
Diz-lhe que agradece a cada dia
a negação daquele deus cruento,
do que foi só malévolo invento,
daquilo que – por Deus! – não existia.
Negando as hipócritas mentiras,
o uso da falácia e do poder,
falsa verdade que sempre o traíra,
Saramago o estava a defender.
Manso poeta, o abraço às costas,
vê ao redor de si um outro homem,
e, sem se importar por quem o tomem,
envolve-lhe, cálido, as mãos postas.
3 comentários:
Viva Eliane.
Gostei imenso do seu poema a Saramago, Hosana.
«Sentado estava Deus, e absorto / – que Deus também tem dúvida e anseio.» /...
Será mesmo que O veremos?
Um forte abraço.
Que belo exercício de poesia, repleto de uma cândida ironia que nos rouba sorrisos de verso em verso. Muito bom Eliane!
Um bjin de Portugal,
LB
Os meus parabéns! Que poema lindíssimo.
Beijinhos,
Sandra Pinto
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