Eliane F.C.Lima
O poeta e professor Luiz Gonzaga da Silva me foi apresentado por outra poeta, Francisca Júlia, morta em 1920, por cujo nome ele procurava em pesquisa na Internet. Chegou a este blogue e encontrou a postagem que fiz sobre ela em 05-01-2010. Contatou-me e nasceu uma correspondência e admiração de minha parte por sua produção poética, que ele fez a gentileza de me enviar e autorizar para a presente publicação.
O professor Luiz Gonzaga da Silva é Mestre em Letras pelo CESJF e Professor Titular de Literatura Brasileira e História da Arte nos Cursos de Letras e de História da FAFISM, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santa Marcelina, de Muriaé, em Minas Gerais, onde reside há muitos anos. A par de seus poemas, há também uma produção acadêmica pela qual é responsável.
Tive de fazer uma difícil seleção entre seus poemas dedicados à cidade natal, Guarani, produzidos pelo olhar saudoso de um adulto para sua infância e juventude, publicados em três livros abaixo relacionados. Neles, se destacam os lugares sacralizados pela memória dessa cidade, por onde caminhamos através de sua linguagem lírica. A recuperação desses locais pela imaginação poética faz o leitor, então, se envolver em um caminho mágico, porque mnemônico, longe da realidade, que nunca é o objetivo daquele que busca seu lugar idealizado. Que importa a pequenez da realidade diante da grandeza do sonho?
E todos esses cantos estão povoados pelas personagens que viveram e falaram e coloriram, transitoriamente, mas para sempre na lembrança daquele que revive, um lugar e um tempo do passado, mas eterno no presente.
É bom ser citada a linguagem especial para construir esse ambiente relembrativo, que me trouxe de volta Manuel Bandeira, outro poeta, sua palavra sabiamente lírica, porque simples, ambos atingindo o preciso e o poético, justamente por acharem o valor exato na fuga ao preciosismo.
Quero chamar a atenção, antes de irmos para os poemas, que tentei manter, o mais próximo que pude, a diagramação dos poemas nas obras, o que nem sempre foi possível, limitada que estou pela fixidez dos recursos do blogue. Tive de abrir mão de dois poemas magníficos por este motivo.
O poeta e professor Luiz Gonzaga da Silva me foi apresentado por outra poeta, Francisca Júlia, morta em 1920, por cujo nome ele procurava em pesquisa na Internet. Chegou a este blogue e encontrou a postagem que fiz sobre ela em 05-01-2010. Contatou-me e nasceu uma correspondência e admiração de minha parte por sua produção poética, que ele fez a gentileza de me enviar e autorizar para a presente publicação.
O professor Luiz Gonzaga da Silva é Mestre em Letras pelo CESJF e Professor Titular de Literatura Brasileira e História da Arte nos Cursos de Letras e de História da FAFISM, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santa Marcelina, de Muriaé, em Minas Gerais, onde reside há muitos anos. A par de seus poemas, há também uma produção acadêmica pela qual é responsável.
Tive de fazer uma difícil seleção entre seus poemas dedicados à cidade natal, Guarani, produzidos pelo olhar saudoso de um adulto para sua infância e juventude, publicados em três livros abaixo relacionados. Neles, se destacam os lugares sacralizados pela memória dessa cidade, por onde caminhamos através de sua linguagem lírica. A recuperação desses locais pela imaginação poética faz o leitor, então, se envolver em um caminho mágico, porque mnemônico, longe da realidade, que nunca é o objetivo daquele que busca seu lugar idealizado. Que importa a pequenez da realidade diante da grandeza do sonho?
E todos esses cantos estão povoados pelas personagens que viveram e falaram e coloriram, transitoriamente, mas para sempre na lembrança daquele que revive, um lugar e um tempo do passado, mas eterno no presente.
É bom ser citada a linguagem especial para construir esse ambiente relembrativo, que me trouxe de volta Manuel Bandeira, outro poeta, sua palavra sabiamente lírica, porque simples, ambos atingindo o preciso e o poético, justamente por acharem o valor exato na fuga ao preciosismo.
Quero chamar a atenção, antes de irmos para os poemas, que tentei manter, o mais próximo que pude, a diagramação dos poemas nas obras, o que nem sempre foi possível, limitada que estou pela fixidez dos recursos do blogue. Tive de abrir mão de dois poemas magníficos por este motivo.
(Des) pedaços
Luiz Gonzaga da Silva
Fico a procurar
pedaços de mim,
pelas ruas
da cidade amada,
onde andei.
(Encontro-me aqui e ali
e os junto com amor
costurando-os com
a linha da saudade.)
Frankenstein de hoje,
vejo, ao final,
ter alivanhado
só pedaços do que fui.
Choro sem saber por que.
E me desfaço, novamente,
nos pedaços que juntei,
atirando-os ao fundo do Pomba,
que os levará
– quem sabe? –
ao mar sem fim
sem lembranças
ao mar, ao grande mar...
(2003)
A pracinha, às 20 h
Luiz Gonzaga da Silva
Uma que outra luz
invade o escuro aconchegante
da pracinha.
Não há ninguém por lá.
As casas enfurnam
pessoas e novelas.
O coreto – iluminado –
está lá, perplexo,
– vazio –
parece um útero inútil,
sem serventia.
Há silêncio e estranhas sombras
à volta dele.
Nem um carrinho de pipoca
nem um grito de criança
apenas uma placidez inconfortável
de imobilidade estática...
(E a noite. A noite. A noite.)
(2003)
Cansaço de Chronos
Luiz Gonzaga da Silva
Neste frio mês de julho,
cá no bar do Zanovelli,
tomando uma cervejinha,
sinto o tempo decrescendo,
como um velho, com chinelos.
Até as nuvens do céu,
aqui, neste Guarani,
são lerdas, por sob o azul.
Será que o tempo parou?
Ou o céu que descorou?
Será que o vento cansou?
Ou o sol, que desmarelou?
Ou foi Deus que bocejou?
Vejo, observo, sinto
haver um cansaço em tudo.
Me recolho, quase mudo,
neste silêncio felpudo,
de miúdas lembranças
que o tempo, já tartamudo,
aprofundou
dentro de mim.
(2006)
haver um cansaço em tudo.
Me recolho, quase mudo,
neste silêncio felpudo,
de miúdas lembranças
que o tempo, já tartamudo,
aprofundou
dentro de mim.
As cartas não mentem, jamais!...
Luiz Gonzaga da Silva
A Maria da Sá Zinha
punha cartas.
Lia a vida da gente,
sobre muletas,
altiva.
(Quanta gente
saiu de lá, capenga,
quase a rolar,
escorregando,
no
Morro
das
Pedrinhas... )
(2008)
Mas nosso poeta, introduzido, talvez pelo destino do nome Gonzaga, que o levou ao Tomás Antônio, do século XVIII, arcádico, e à sua Marília de Dirceu, dedica seus poemas a uma Lavínia, que lhe frequenta a imaginação poética. Aqui a linguagem, de uma delicadeza amorosa, alcança a mesma precisão dos poetas daquele tempo, cansados do requinte e volteios do Barroco. Fazer uma seleção foi quase uma dolorosa e impossível escolha, porque flutua o encanto de uma voz enamorada, enamoradoradamente tomado também o leitor. De forma bastante subjetiva, me encantei com os textos.
Chegança
Luiz Gonzaga da Silva
Reparaste, Lavínia,
reparaste a tarde?
Tão cinzenta,
Lavínia,
tão cinzenta...
(De repente,
o sol.)
Sabes bem
a hora de chegar...
(2007)
a hora de chegar...
Gosto de domingo
Luiz Gonzaga da Silva
Tens gosto
tão gostoso
de domingo,
Lavínia!
Me deixa
Lavínia,
me deixa
descansar-me
em ti.
(2007)
Lavínia,
me deixa
descansar-me
em ti.
Compra
Luiz Gonzaga da Silva
Lavínia,
tesouro meu,
moedinha minha,
te tento comprar
com a poesia.
Concordas?
Me sinto feliz.
(2007)
Possessão
Luiz Gonzaga da Silva
A tua dimensão,
Lavínia,
é azul.
És assim
como uma rosa-dos-ventos
desfolhada.
Sul-oeste,
norte-leste
do céu
em minha vida.
Direções totais em ti,
Lavínia.
Lavínia.
Me perco em ti,
Lavínia,
e te possuo
em cada ponto
cardeal.
(2007)
Lavínia,
e te possuo
em cada ponto
cardeal.
(2007)
Como o visitante percebe, a poeta Francisca Júlia nos abençoou, lá onde está. Aguardo outros poemas que estão sendo escritos, promessa feita a mim por Luiz Gonzaga da Silva, que, sem o menor pejo, evidentemente, cobrarei.
Poemas
Idas e vindas. Muriaé: 1. Gonzaga da Silva, 2003;
Idas e vindas II: um olhar sobre a cidade amada. Muriaé: Vanguarda Gráfica, 2006;
O livro de Lavínia. Muriaé/Juiz de Fora: Templo, 2007;
Nem idas nem voltas: desvoltas. Muriaé/Juiz de Fora: Templo,2008.
Poemas para crianças
Criancices; poemas infantis. Muriaé/Juiz de Fora: Templo, 2008/2009;
Chinfrim:versinhos de brinquedo. Muriaé: Do autor, 2011.
Convido quem me visita a ir a meus outros dois blogues Poema Vivo (link) e Conto-gotas (link).
5 comentários:
Ah, que achado, Eliane! Encantadora a lira do poeta...
"Vejo, observo, sinto
haver um cansaço em tudo.
Me recolho, quase mudo,
neste silêncio felpudo,
de miúdas lembranças
que o tempo, já tartamudo,
aprofundou
dentro de mim."
Belíssimo!
Quanto à "Lavínia", feliz a musa que, real ou imaginária, habita, soberana, o reino sagrado do pensamento de um poeta.
"Reparaste, Lavínia,
reparaste a tarde?
Tão cinzenta,
Lavínia,
tão cinzenta...
(De repente,
o sol.)"
Sabes bem
a hora de chegar..."
Que beleza! Como é boa essa certeza de que a ternura ainda não está em extinção...
Bjs, querida, e inté!
ps - por aqui, tudo igual. Mergulhada no trabalho...
Há sempre uma alma rica escondida em alguma arca de letras. Que bom, Eliane, quando a rede virtual nos ajuda a fazer o papel de escafandrista. Belíssima descoberta!
Parabéns ao Poeta Luiz Gonzaga da Silva pelas líricas inspirações e a você por nos proporcionar mais este belo momento poético!
Beijos,
Marise
Oi Eliane, vim agradecer e retribuir tua visita tão rara e tão preciosa para mim!
A poesia de Luiz Gonzaga é, de fato, um verdadeiro achado, coisa que somente uma boa garimpeira literária como tu, consegue encontrar! Gostei muito, e se não
te incomodares, gostaria de postar algumas delas no "cirandeira". Posso?
Um abraço e bom fim-de-semana!
Eliane, sempre um prazer vir aqui! Seus ensaios são preciosos, sobretudo nesses tempos onde os blogs estão fechados sobre os seus próprios umbigos, dialogando com a parede! Aqui sempre há diálogo com outros poetas, que vou garimpando e aprendendo! Viva Francisca Júlia que possibilitou isso tudo!
Abraços!
ps* um dia desses postei um poema que me fez lembrar de ti: pensei, a Eliane deve se interessar por esse tema... Olha o link: http://rafaelnolli.blogspot.com/2011/06/o-silencio-das-bibliotecas.html
Abraços!
Postei um comentário por aqui, logo depois de tua amável visita ao meu blog; também passei pelo teu blog de poesia e lá deixei um comentário. Qual não foi a minha surpresa ao verificar agora que nenhum dos dois ficaram registrados.Gosto demais do teu trabalho, e sempre passo por aqui,e embora não deixe um comentário, considero-o sério e competentíssimo!
Gostei muito do poeta Luiz Gonzaga e chegeui até a pedir-te permissão para publicar alguns dos seus poemas; gostei muito também de tua poesia, aliás, és mesmo uma mestra na arte da Literatura! E fico muito lisonjeada quando me visitas!
Um grande abraço. Espero que dessa vez eu consiga postar meu comentário. eh blogosfera...!?
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