Pesquisar este blog

sábado, 5 de dezembro de 2015

Os fenômenos fundamentais da Criação Literária - parte I

(Imagem da Internet)
Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - Rio de Janeiro)
Conforme anunciei, vou começar a postar alguns comentários sobre a teoria de Käte Hamburger (1896/1992), filóloga, filósofa e teórica literária alemã – primeira mulher a ganhar um grau de pós-doutorado em estudos literários alemães –, desenvolvida no livro A lógica da criação literária, 2.ed, de 2013, da Editora Perspectiva. Minha tentativa será exemplificar com escritores da Literatura Brasileira, para maior entendimento e aproveitamento. Para maiores informações sobre a estudiosa, remeto ao link (Atenção: este link pode levar a um site com cookie./Please: this link can lead to a site with cookie). 
Para conhecer os critérios da linguagem poética, a autora reconhece uma “lógica da criação literária” e opta pelo estudo desse caminho, visitando, indiretamente, uma lógica da poiesis aristotélica, destacando-a da estética da Arte Literária, diferentemente do que sói acontecer com os teóricos dessa área. Vale a pena ler seus trechos abaixo.  


A lógica da Arte Literária tem por objeto a relação da obra com a linguagem , mas relação diferente daquela compreendida pelas teorias acima [a Lógica, a Filosofia, a Teoria do pensamento etc]. Não considera a linguagem em sua função descritiva e expressiva nem por conseguinte o fato mais ou menos trivial de que a Literatura é a arte da linguagem no sentido verbal. É antes desenvolvida a partir da circunstância de que a linguagem como material configurativo da criação literária é ao mesmo tempo o veículo através do qual se realiza a vida humana propriamente dita. (VIII) 

 
A lógica ou lógica linguística da criação literária (…) pode ser designada com maior precisão como teoria da linguagem, que tem por objetivo examinar se e até que ponto a linguagem que produz as formas literárias (afirmação que por ora aceitamos) é funcionalmente diferente da linguagem usual de pensamento e de comunicação. (VIII)


A lógica literária deve ser compreendida, portanto, no sentido de teoria linguística, sendo que esta teoria linguística será desenvolvida a seguir como teoria do enunciado (...)(IX). 


 
Esse afastamento que Käte faz da “estética”, optando pelo estudo da estrutura “lógica”, da regularidade da criação literária, fica claro quando a autora mostra que as leis lógicas de tal criação são absolutas, ou seja, a linguagem origina literatura tanto numa obra como O Otelo, de Shakespeare, como num conto ruim, por exemplo, sem se prender ao sentido estético. As leis lógicas são objeto do conhecimento e desconhecem a noção de positivo ou negativo. Nisso se afastam das leis estéticas, que, ao contrário, são relativas. São conceitos de valor.

O tema fundamental da “lógica” estudada pela teórica alemã é a tensão conceitual entre “criação literária” e “realidade”, que sempre serviu de base às considerações da Teoria Literária. A novidade é que, no livro em questão, “realidade” aparecerá apenas em seu sentido de confronto ou relação com a ficção: de um lado, o modo da realidade da vida humana e, de outro, o modo criado e representado pela Literatura, o “conteúdo” das obras literárias.

Começa aqui um dado interessante do texto em questão: Käte Hamburger, inicialmente, chama a atenção para o fato de que essa tensão “criação literária X “realidade” aponta na direção da literatura narrativa (romance, conto etc) e dramática (teatro), não incluindo o gênero lírico. A justificativa está no estudo de Aristóteles, a sua Poética. Ao contrário do que modernamente se entende, para o filósofo grego, o gênero lírico, a que costumamos chamar de “poesia”, não pertenceria à poieses, mas a outro domínio das obras literárias.

O argumento está em que Aristóteles usava, com identidade de sentido, os termos poiesis e mimeses, uso idêntico, segundo a autora, na obra de Auerbach, Mimesis. Para o grego, a palavra mimesis não significaria apenas “imitação” da realidade, mas a introdução de personagens com seus caracteres, paixões e ações: o escritor deveria falar o menos possível e dar voz livre às personagens, que assumiriam, por si mesmas, suas falas. Isso seria mimesis: o autor narraria de maneira mimética, quando os deixasse falar por si.

Como já se antecipa, o gênero lírico não se utiliza de personagens e que falam prioritariamente por si. A natureza de tal gênero, segundo ela, seria bem outra.

Então já se deve registrar aqui uma primeira conclusão: uma forma literária – literatura ficcional ou mimética, entenda-se –, que faz agentes que falam por si, ou seja, seres fictícios vivendo no modo da mimesis e não da realidade (diferentemente da “lírica”), está no sistema global da Arte Literária. Essa diferença entre narrativa-drama X lírica tem significado para a estrutura lógica do sistema literário.

Como se disse a princípio, a estudiosa alemã escolhe estabelecer os critérios da linguagem poética:


Mas, conforme já o estabelecemos como um problema na introdução, é de fato o material linguístico da criação literária que estabelece finalmente o conceito de realidade e ficção e, através disso, o conceito e o sistema da criação literária em si. (p. 6)

 
Käte propõe que se estude e estabeleça a diferença entre a linguagem da criação literária e a linguagem da realidade para que surja a estrutura que denunciará de que maneira a ficção se distingue da realidade. É aí que se estabelece a tensão conceitual entre criação literária e realidade. Isso propicia tanto a iluminação da fenomenologia da criação literária quanto a da própria realidade.

Então, há um dado a que se deve prestar uma atenção fundamental neste momento e daqui para a frente: como a teórica deseja estabelecer a estrutura da linguagem poética – entendida, veja bem, como da ficção e do drama – começa a examinar os critérios da linguagem não poética – da linguagem comprometida com a realidade –, ou seja, o sistema enunciador da linguagem, conforme declara na página 22:



toda enunciação é uma expressão da realidade, obtendo-se um fundamento para determinar exatamente a relação da linguagem, e, com ela, da criação literária, com a realidade.



Acrescenta adiante “que não é a noção de realidade em si, mas a do enunciado de realidade que fornece o critério decisivo para a classificação dos gêneros literários. (p. 29 – grifo meu).

Em nossa próxima postagem, fixaremos algumas noções, como a de enunciado, a de enunciação, a de sujeito-de-enunciação e de objeto-de-enunciação, todas referentes a esse primeiro conceito de realidade. 



Gostaria de receber comentários dos visitantes. Saber quem são e os motivos que os trouxeram aqui. Como não posso atender a esclarecimentos pessoais pelo blogue, peço que estudantes de Letras, que desejarem, postem seus e-mails, que não serão, claro, publicados.



I would like receiving comments of the visitors. To know who they are and the motives that brought them here. Students of Letters can leave e-mails.

 
Convido à visitação de meus blogues Poema Vivo (link) e Conto-gotas (link).


Gostaria de receber comentários dos visitantes. Saber quem são e os motivos que os trouxeram aqui. Estudantes de Letras podem deixar e-mails. I would like receiving comments of the visitors. To know who they are and the motives that brought them here. Students of Letters can leave e-mails. Convido à visitação de meus blogues Poema Vivo (link) e Conto-gotas (link). Copy the BEST Traders and Make Money : http://bit.ly/fxzulu

Copy the BEST Traders and Make Money : http://bit.ly/fxzulu



Gostaria de receber comentários dos visitantes. Saber quem são e os motivos que os trouxeram aqui. Estudantes de Letras podem deixar e-mails. I would like receiving comments of the visitors. To know who they are and the motives that brought them here. Students of Letters can leave e-mails. Convido à visitação de meus blogues Poema Vivo (link) e Conto-gotas (link). Copy the BEST Traders and Make Money : http://bit.ly/fxzulu

Copy the BEST Traders and Make Money : http://bit.ly/fxzulu