Eliane F.C.Lima
Aos cinquenta e nove anos, conhecendo pessoas de todos os tipos, o ser humano, contudo, ainda tem me surpreendido. Vejo que, nesse aspecto, ainda morrerei menina.
Primeiro: surpreendi um de meus textos deste espaço, adulterado, numa suposta brincadeira, no blogue de uma pessoa com quem me correspondia por e-mail e a quem tinha em grande consideração intelectual – será isso a que chamam “fogo amigo”? Mesmo assim, aguardei desse “quem”, sabedor ele de que eu reconheci meu texto, até hoje, um e-mail, que, pelo menos explicasse o fato, coisa que fazem pessoas adultas, para usar um atributo bem isento, o que teria amenizado a decepção no campo das ideias e, provavelmente, teria alimentado nossa amizade, levando-a adiante.
Se imagino, ainda agora que tal pessoa não me respeita profissionalmente, o mesmo sentimento sobre ela me ficou e acabará se sedimentando, o que é lamentável. Nenhum desapontamento me cala mais fundo do que o intelectual.
Segundo: tendo declarado em meus três blogues meu voto a Dilma Rousseff, coisa que o farei de novo, no dia 31-10, a maioria de meus frequentadores assíduos desapareceu. Numa certa época, isso era chamado de “patrulhamento ideológico”. No respeitável blogue Céu aberto (vá por aqui), há uma postagem, na qual se diz a mesma coisa, para se verificar que não é apenas uma vazante de maré deste meu blogue ou sensaboria de meus textos.
Ainda me recuperando da decepção virtual, fui surpreendida por uma decepção ao vivo e a cores, principal motivo daquele título lá em cima. No último dia 20 de outubro, estando eu no Rio de Janeiro – grande saudade! – e tendo recebido um botom do PT de presente – não acho os meus depois da mudança de casa –, coloquei-o imediatamente em meu peito.
Ao entrar em um restaurante de autosserviço – ora do almoço, ninguém sabia ainda da famosa história da bolinha de papel –, fui até a banca de comida, prato na mão, aproximando-me, involuntariamente, de duas pessoas. Uma delas, uma senhora bem idosa e muito bem vestida, acompanhada de outra com o mesmo requinte, mas um pouco mais nova, e que talvez tenha me confundido – do lado em que estava não via meu botom –, mostrou-me à segunda, indicando-me como “amiga” da outra. O sorriso meigo dela me mostrava o engano. Retribui o sorriso. Então fui surpreendida com o maior ataque de que já fui vítima: sem nenhum motivo, sem eu ter aberto minha boca em momento nenhum, a “requintada” senhora começou a me agredir, dizendo que não era minha amiga, que jamais seria amiga de uma pessoa do PT, que tinha alergia a “essa gente”, que não gostava das atitudes do pessoal do PT. E começou a falar alto com a idosa, a empurrá-la, dizendo que a outra fosse sentar à mesa, visivelmente furiosa, quando eu lhe respondi que também não queria ser amiga dela e que estava claro que ela era amiga do outro candidato.
Vi a volta de um vocabulário de que eu havia me esquecido e que pensei que estava sepultado após o governo Lula, época em que mostrou que o partido não é insensato nem toma nenhuma atitude radical. Pelo contrário, a esquerda mais inflexível, por assim dizer, andou acusando seu governo de estar se dirigindo para o centro, imaginem. A prova da seriedade e confiança no partido foi todo o capital estrangeiro aqui aplicado, não havendo aqui nenhum elogio meu a esse fato, apenas a prova de que os de fora superaram a desconfiança “nessa gente”. A agressão me horrorizou, sentimento que já vinha me dominando pelas tentativas de algumas pessoas mostrarem ainda o partido como terrorista em todos os e-mails falaciosos que circularam pela rede e pela farsa montada sobre o ataque ao tucano, endossada pela mídia mais perigosa, que morre de medo de ter regulamentada a lei que tira de suas mãos o cartel e o direito de decidir sobre a república (do termo latino res – coisa – pública) e a democracia, mídia que recorreu a um autoproclamado “perito” – ver no site do jornalista Luiz Carlos Azenha , reprodução das declarações dos verdadeiros peritos no trecho intitulado “Desafio de peritos” (este é o caminho).
Então eu vejo que não era à toa que Adriana Calcanhoto cantava “eu não gosto do bom gosto,/eu não gosto do bom senso”, numa franca ironia aos que se sentem “finos” e donos da verdade. Elite, enfim. Que perde a pose, desce do salto e mostra seus mais vis instintos humanos, quando imagina que está sendo ameaçada naquilo que é seu direito: manter o povo longe do poder... e de si. Quantas vezes não ouvi eu, cinicamente, "dessa gente", que afinal, a sociedade precisa de “garis e empregadas domésticas”?
Podemos ver que o epíteto era atribuído ao grupo errado e “essa gente raivosa”, da qual aquela senhora bem vestida é uma sinédoque (a parte pelo todo; o indivíduo pela espécie), havia estado calada durante oito anos, mas está apenas aguardando para mostrar-se novamente, se possível, ainda nesta eleição ou de qualquer outra forma – alguns têm mencionado um golpe, agora explícito, quando as forças que se mostram midiaticamente perderiam a vergonha – para continuar a sequestrar pessoas, levá-las para os porões, torturá-las, seviciá-las, esquartejá-las. Estava lá a operação OBAN – operação Bandeirantes (ver maiores esclarecimentos no site da Wikipédia), que não me deixa mentir, tendo os militares, sozinhos, levado a culpa daquilo que a sociedade civil ajudou a construir.
Enfim, o meio não importa, o ser humano sempre arranjará um jeito de mostrar sua verdadeira natureza. Já dizia um sábio amigo meu que “essa gente raivosa” usa roupas caras, frequenta lugares elegantes e não usa botom.
Aos cinquenta e nove anos, conhecendo pessoas de todos os tipos, o ser humano, contudo, ainda tem me surpreendido. Vejo que, nesse aspecto, ainda morrerei menina.
Primeiro: surpreendi um de meus textos deste espaço, adulterado, numa suposta brincadeira, no blogue de uma pessoa com quem me correspondia por e-mail e a quem tinha em grande consideração intelectual – será isso a que chamam “fogo amigo”? Mesmo assim, aguardei desse “quem”, sabedor ele de que eu reconheci meu texto, até hoje, um e-mail, que, pelo menos explicasse o fato, coisa que fazem pessoas adultas, para usar um atributo bem isento, o que teria amenizado a decepção no campo das ideias e, provavelmente, teria alimentado nossa amizade, levando-a adiante.
Se imagino, ainda agora que tal pessoa não me respeita profissionalmente, o mesmo sentimento sobre ela me ficou e acabará se sedimentando, o que é lamentável. Nenhum desapontamento me cala mais fundo do que o intelectual.
Segundo: tendo declarado em meus três blogues meu voto a Dilma Rousseff, coisa que o farei de novo, no dia 31-10, a maioria de meus frequentadores assíduos desapareceu. Numa certa época, isso era chamado de “patrulhamento ideológico”. No respeitável blogue Céu aberto (vá por aqui), há uma postagem, na qual se diz a mesma coisa, para se verificar que não é apenas uma vazante de maré deste meu blogue ou sensaboria de meus textos.
Ainda me recuperando da decepção virtual, fui surpreendida por uma decepção ao vivo e a cores, principal motivo daquele título lá em cima. No último dia 20 de outubro, estando eu no Rio de Janeiro – grande saudade! – e tendo recebido um botom do PT de presente – não acho os meus depois da mudança de casa –, coloquei-o imediatamente em meu peito.
Ao entrar em um restaurante de autosserviço – ora do almoço, ninguém sabia ainda da famosa história da bolinha de papel –, fui até a banca de comida, prato na mão, aproximando-me, involuntariamente, de duas pessoas. Uma delas, uma senhora bem idosa e muito bem vestida, acompanhada de outra com o mesmo requinte, mas um pouco mais nova, e que talvez tenha me confundido – do lado em que estava não via meu botom –, mostrou-me à segunda, indicando-me como “amiga” da outra. O sorriso meigo dela me mostrava o engano. Retribui o sorriso. Então fui surpreendida com o maior ataque de que já fui vítima: sem nenhum motivo, sem eu ter aberto minha boca em momento nenhum, a “requintada” senhora começou a me agredir, dizendo que não era minha amiga, que jamais seria amiga de uma pessoa do PT, que tinha alergia a “essa gente”, que não gostava das atitudes do pessoal do PT. E começou a falar alto com a idosa, a empurrá-la, dizendo que a outra fosse sentar à mesa, visivelmente furiosa, quando eu lhe respondi que também não queria ser amiga dela e que estava claro que ela era amiga do outro candidato.
Vi a volta de um vocabulário de que eu havia me esquecido e que pensei que estava sepultado após o governo Lula, época em que mostrou que o partido não é insensato nem toma nenhuma atitude radical. Pelo contrário, a esquerda mais inflexível, por assim dizer, andou acusando seu governo de estar se dirigindo para o centro, imaginem. A prova da seriedade e confiança no partido foi todo o capital estrangeiro aqui aplicado, não havendo aqui nenhum elogio meu a esse fato, apenas a prova de que os de fora superaram a desconfiança “nessa gente”. A agressão me horrorizou, sentimento que já vinha me dominando pelas tentativas de algumas pessoas mostrarem ainda o partido como terrorista em todos os e-mails falaciosos que circularam pela rede e pela farsa montada sobre o ataque ao tucano, endossada pela mídia mais perigosa, que morre de medo de ter regulamentada a lei que tira de suas mãos o cartel e o direito de decidir sobre a república (do termo latino res – coisa – pública) e a democracia, mídia que recorreu a um autoproclamado “perito” – ver no site do jornalista Luiz Carlos Azenha , reprodução das declarações dos verdadeiros peritos no trecho intitulado “Desafio de peritos” (este é o caminho).
Então eu vejo que não era à toa que Adriana Calcanhoto cantava “eu não gosto do bom gosto,/eu não gosto do bom senso”, numa franca ironia aos que se sentem “finos” e donos da verdade. Elite, enfim. Que perde a pose, desce do salto e mostra seus mais vis instintos humanos, quando imagina que está sendo ameaçada naquilo que é seu direito: manter o povo longe do poder... e de si. Quantas vezes não ouvi eu, cinicamente, "dessa gente", que afinal, a sociedade precisa de “garis e empregadas domésticas”?
Podemos ver que o epíteto era atribuído ao grupo errado e “essa gente raivosa”, da qual aquela senhora bem vestida é uma sinédoque (a parte pelo todo; o indivíduo pela espécie), havia estado calada durante oito anos, mas está apenas aguardando para mostrar-se novamente, se possível, ainda nesta eleição ou de qualquer outra forma – alguns têm mencionado um golpe, agora explícito, quando as forças que se mostram midiaticamente perderiam a vergonha – para continuar a sequestrar pessoas, levá-las para os porões, torturá-las, seviciá-las, esquartejá-las. Estava lá a operação OBAN – operação Bandeirantes (ver maiores esclarecimentos no site da Wikipédia), que não me deixa mentir, tendo os militares, sozinhos, levado a culpa daquilo que a sociedade civil ajudou a construir.
Enfim, o meio não importa, o ser humano sempre arranjará um jeito de mostrar sua verdadeira natureza. Já dizia um sábio amigo meu que “essa gente raivosa” usa roupas caras, frequenta lugares elegantes e não usa botom.
É à custa dos "que têm fome" que a minoria ainda mantém seu "bom gosto" e seu "bom senso". A canção que você ouviu é de autoria de Adriana Calcanhotto e denomina-se “Senhas”. Está no CD de mesmo nome. Aconselho a compra da obra, como eu fiz. Lá estão também as canções “Mentiras” e “Esquadros”. Custa bem pouco para o enorme valor que tem. E se paga à autora o que ela tem direito. Agradeço ao Youtube o vídeo (está aqui).
Convido meus leitores a meu blogue Conto-gotas (link) e Poema Vivo (link). Estou ainda em Debates Culturais (link), onde passo, agora a publicar alguns artigos, bastando um clique, na lista "Colunistas", à direita, em Eliane Lima. Recomendo ainda, nesse mesmo endereço, a excelente Cintia Barreto, além de todos os outros.