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domingo, 7 de agosto de 2011

"Brasil feminino"

Eliane F.C.Lima

Fui visitar a exposição “Brasil Feminino”, na Biblioteca Nacional, que continua a comemorar seu aniversário de 200 anos de criação e 100 no prédio da Avenida Rio Branco. A exposição, cujos responsáveis declaram não ter intenção sexista, é bastante interessante, porque focaliza a ascensão das mulheres em todos os setores, passando por Menininha do Gantois a Dilma Roussef, analisando as circunstâncias das mulheres desde os séculos anteriores ao XXI.
Mas não se deixa de manter a posição crítica, no encaminhamento, ao serem exibidos jornais de época como, por exemplo, o assassinato da jovem Aída Curi, que morreu por despencar do alto de um edifício de luxo, onde subira, atraída por dois jovens bem colocados na vida, violência que não perdeu sua força e que continua a ser uma constante até hoje.
A exposição utiliza, como mecanismo de comunicação com o público e comprovação dos fatos, jornais, revistas e toda e qualquer publicação de época. A diversidade do que é exposto é bem atraente para o visitante.
O que me chamou bastante a atenção, no entanto, foram vários estandartes, dispostos como uma cortina a separar dois ambientes, onde ditos e quadrinhas populares, transcrições de trechos de artigos de livros de séculos anteriores, que, de uma forma resumida, mas contundente, dão testemunho do pensamento dominante, no passado, a respeito das mulheres, suas funções e direitos, pensamento que, como se vê sobre o número atualmente crescente de acontecimentos violentos em relação a elas, parece não ter mudado tanto assim.
Em várias dessas transcrições, pude observar a constante de se enunciar que a educação feminina era um fator em que se deveria colocar bastante cuidado. Às mulheres deveriam ser ensinadas, exclusivamente, noções que as tornassem competentes como donas de casa e mães. E o que me pareceu mais claro: a educação redentora, aquela que leva as pessoas a se tornarem críticas, com capacidade analítica deveria ser evitada para essa parcela da população, a todo custo, como um mal corruptor. Uma das frases populares dizia algo mais ou menos assim: “Não confie em mula que faz 'hiiimmm', nem em mulher que fala latim.” Claro que a equiparação da mulher ao explorado e “desimportante” animal não é por acaso e que a expressão “latim” aparece ali, tão somente, como sinônimo de cultura e erudição, traduzindo uma mulher que fosse capaz de se expressar com profundidade, perceber o tipo de vida a que era condenada e, finalmente, defender-se, o que a tornaria não confiável. Isso desestabilizaria uma cultura patriarcal, cujo principal sustentáculo era a opressão dos outros segmentos.
Saí da exposição com a certeza de que a educação é redentora, certeza que eu já tinha, revigorada. A cultura popular lá dentro, ao temer o crescimento das mulheres sob essa batuta, mostra que é sábia.

Já estou postando também em Poema Vivo (link) e Conto-gotas (link).


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Um comentário:

ju rigoni disse...

É inegável a importância da ação da mulher na construção da identidade do nosso país. Algumas, (ainda hoje!), caladas à força pela sua coragem de intervir para transformar. Um belo post, amiga! Uma pena não haver tempo, neste momento, para ver a exposição.

E perdoa a demora. Estou com um volume de trabalho acima do normal e, porque preciso cumprir os prazos, estou entrando muito pouco na net. Logo que possa, envio um e-mail. Bjs, querida. Inté!