Eliane F.C.Lima
Quero neste domingo refletir sobre a tal TPM – Tensão pré-menstrual. Não quero negar a possibilidade de haver, realmente, um desequilíbrio hormonal nesse período. Mas não aceito nem mesmo a argumentação de que a ciência tem provado isso. Já é sabido que a “Ciência”, desde seu princípio, colaborou ativamente para a opressão das mulheres. Essas sempre foram classificadas como histéricas – vide Freud e a psicanálise da qual fez parte -, loucas, desequilibradas e com grande ligação com as coisas da malignidade. Sílvia Alexim Nunes, em seu revelador livro O Corpo do Diabo Entre a Cruz e a Caldeirinha: Estudos Sobre Mulher, Masoquismo e Feminilidade, Editora Civilização Brasileira, livro que recomendo como leitura obrigatória, faz um excelente estudo sobre o envolvimento da medicina com o compromisso em manter a mulher presa à maternidade e ao lar.
Quando li o livro para minha dissertação de mestrado – pelo título de meu estudo já se vê o motivo: O eco das vozes profundas - silêncio e voz em Ondina Ferreira. Um discurso de autoria feminina –, por volta do ano 2000, respirei aliviada, imaginando que esse tipo de coisas tinha ficado para trás. Ingenuidade minha pensar que a sociedade patriarcal tinha aceitado com tranquilidade – e sem reação – a entrada da mulher no mercado de trabalho, competindo em igualdade de condições com o homem, a ponto de fazer-lhe concorrência e ameaçá-lo, quando se trata de vagas oferecidas.
Tenho me deparado, cada vez com mais intensidade, com o crescimento desse mito da TPM. Chamo mito à série de sintomas que são descritos como de tal período. Aos poucos, essa síndrome funesta e fictícia foi se radicalizando em suas características e me deparo com ela descrita e afirmada, em reportagens televisivivas ou impressas, em séries de televisão, ou seja, entrando pelos “sete buracos de minha cabeça”, como disse o Caetano, e pela de toda a sociedade, que passa não só a aceitar o fato como verdadeiro, como a fazer, de novo, uma imagem depreciativa sobre as mulheres. Que empresário, em sã consciência, vai dar emprego a um ser que literalmente “enlouquece” em certo período, a cada mês? Essa empregada mulher é realmente de segunda categoria e não pode receber o mesmo salário que um homem, normal, tranquilo e que tem um só tipo de comportamento equilibrado o mês inteiro.
O mais lamentável é ver as mulheres sendo enganadas e passando a fazer papel de cúmplices, a cada vez que dão depoimento sobre os desvarios que imaginam sofrer na ocasião, ecoando o que ficou na moda repetir. E vejo gente, cujo discurso tem peso e larga penetração, se divertindo em narrar sua transformação, como se isso fosse um grande mérito.
Pode o leitor perguntar: se há tantos depoimentos, não será isso verdade mesmo? De todas as mulheres que conheci até hoje, passando por mim, nunca vi ninguém que correspondesse, em época nenhuma do mês, àquele quadro descrito, que beira à transformação em lobisomem. Sendo professora, como é que eu poderia entrar em sala metamorfoseada em ser demente?
Tenho percebido que a mídia influencia de forma assustadora o comportamento e as crenças de um modo geral, em vez de retratá-las apenas, como querem os defensores da liberdade de informação. Está aí o filósofo Foucault a provar que é formação o que se imagina informação, no pior sentido em que a primeira pode ser usada. E a gravidade está em que tudo se dá de forma sutil, como se a Ciência estivesse se interessando pelo bem estar das mulheres e as defendendo, e passando longe, muito longe, das discussões sobre a emancipação feminina e sua ascensão aos postos de comando. Mas é uma estratégia certeira: se, de um lado é um discurso benevolente, do tipo "nós, homens, precisamos ser compreensivos e aceitar nossas mulheres na TPM", por outro lado, incita ao "por isso mesmo, não podemos confiar a elas os postos de responsabilidade." Perfeito... e indiscutível e incontrolável.
O ponto de vista e a polêmica que levanto são os mesmíssimos levantados pelo estudioso francês: está claro que a “Ciência”, visto o risco que o establishment masculino, seu velho e querido amante, anda correndo com a emancipação da mulher, tirou da manga da camisa a sua velha carta coringa para colocar as emancipadas em seu devido e restritivo lugar.
Quero neste domingo refletir sobre a tal TPM – Tensão pré-menstrual. Não quero negar a possibilidade de haver, realmente, um desequilíbrio hormonal nesse período. Mas não aceito nem mesmo a argumentação de que a ciência tem provado isso. Já é sabido que a “Ciência”, desde seu princípio, colaborou ativamente para a opressão das mulheres. Essas sempre foram classificadas como histéricas – vide Freud e a psicanálise da qual fez parte -, loucas, desequilibradas e com grande ligação com as coisas da malignidade. Sílvia Alexim Nunes, em seu revelador livro O Corpo do Diabo Entre a Cruz e a Caldeirinha: Estudos Sobre Mulher, Masoquismo e Feminilidade, Editora Civilização Brasileira, livro que recomendo como leitura obrigatória, faz um excelente estudo sobre o envolvimento da medicina com o compromisso em manter a mulher presa à maternidade e ao lar.
Quando li o livro para minha dissertação de mestrado – pelo título de meu estudo já se vê o motivo: O eco das vozes profundas - silêncio e voz em Ondina Ferreira. Um discurso de autoria feminina –, por volta do ano 2000, respirei aliviada, imaginando que esse tipo de coisas tinha ficado para trás. Ingenuidade minha pensar que a sociedade patriarcal tinha aceitado com tranquilidade – e sem reação – a entrada da mulher no mercado de trabalho, competindo em igualdade de condições com o homem, a ponto de fazer-lhe concorrência e ameaçá-lo, quando se trata de vagas oferecidas.
Tenho me deparado, cada vez com mais intensidade, com o crescimento desse mito da TPM. Chamo mito à série de sintomas que são descritos como de tal período. Aos poucos, essa síndrome funesta e fictícia foi se radicalizando em suas características e me deparo com ela descrita e afirmada, em reportagens televisivivas ou impressas, em séries de televisão, ou seja, entrando pelos “sete buracos de minha cabeça”, como disse o Caetano, e pela de toda a sociedade, que passa não só a aceitar o fato como verdadeiro, como a fazer, de novo, uma imagem depreciativa sobre as mulheres. Que empresário, em sã consciência, vai dar emprego a um ser que literalmente “enlouquece” em certo período, a cada mês? Essa empregada mulher é realmente de segunda categoria e não pode receber o mesmo salário que um homem, normal, tranquilo e que tem um só tipo de comportamento equilibrado o mês inteiro.
O mais lamentável é ver as mulheres sendo enganadas e passando a fazer papel de cúmplices, a cada vez que dão depoimento sobre os desvarios que imaginam sofrer na ocasião, ecoando o que ficou na moda repetir. E vejo gente, cujo discurso tem peso e larga penetração, se divertindo em narrar sua transformação, como se isso fosse um grande mérito.
Pode o leitor perguntar: se há tantos depoimentos, não será isso verdade mesmo? De todas as mulheres que conheci até hoje, passando por mim, nunca vi ninguém que correspondesse, em época nenhuma do mês, àquele quadro descrito, que beira à transformação em lobisomem. Sendo professora, como é que eu poderia entrar em sala metamorfoseada em ser demente?
Tenho percebido que a mídia influencia de forma assustadora o comportamento e as crenças de um modo geral, em vez de retratá-las apenas, como querem os defensores da liberdade de informação. Está aí o filósofo Foucault a provar que é formação o que se imagina informação, no pior sentido em que a primeira pode ser usada. E a gravidade está em que tudo se dá de forma sutil, como se a Ciência estivesse se interessando pelo bem estar das mulheres e as defendendo, e passando longe, muito longe, das discussões sobre a emancipação feminina e sua ascensão aos postos de comando. Mas é uma estratégia certeira: se, de um lado é um discurso benevolente, do tipo "nós, homens, precisamos ser compreensivos e aceitar nossas mulheres na TPM", por outro lado, incita ao "por isso mesmo, não podemos confiar a elas os postos de responsabilidade." Perfeito... e indiscutível e incontrolável.
O ponto de vista e a polêmica que levanto são os mesmíssimos levantados pelo estudioso francês: está claro que a “Ciência”, visto o risco que o establishment masculino, seu velho e querido amante, anda correndo com a emancipação da mulher, tirou da manga da camisa a sua velha carta coringa para colocar as emancipadas em seu devido e restritivo lugar.
5 comentários:
Concordo com seu texto, Eliane. Nunca tive TPM e acho isso uma baboseira criada para inferiorizar a mulher. As mulheres são mais centradas do que os homens e, se analisarmos com cuidado, veremos o sexo masculino apresentar mais desníveis de humor e comportamento.
Beijos,
Marise
Como você, também não rejeito a possibilidade de alteração hormonal em determinado período entre uma e outra menstruação. Em mim, ela se manifestou sempre
claramente de algumas formas; inchaços, dor nos seios, dor de cabeça, e, sim, alguma irritação.
Entretanto, e após tantas luas cheias, rsrs nunca experimentei a tal monstruosa transformação.
Certamente, os sintomas da tpm alardeados pelos especialistas médicos, vigorosamente divulgados através de jornais e revistas, nunca serão tão violentos para a mulher quanto o fato dela viver exposta a essa mídia cada vez mais comprometida comercialmente, - em esforço contínuo para transformar a mulher numa fiel seguidora de suas "verdades", - em alguém que reproduza inercialmente um padrão de comportamento.
Sem dúvida, a mídia age como um deus. E em nome de certos deuses, há milênios, são extirpados clitóris de meninas em tenra idade. Evolução?...
Lembrei-me, inclusive, que há uma tendência entre muitos médicos a aconselhar a mulher a não mais menstruar, (para aliviar o desconforto da tpm), exceto durante o período em que esteja tentando engravidar.
Vai-se criando um novo pensamento, (que posso questionar, mas não como médica porque não o sou), que certamente gera novos lucros; um nicho de mercado diferenciado, pílulas de última geração com o objetivo não apenas de evitar a gravidez. Lembra um pouco o que ocorreu no mercado com o surgimento da pílula anticoncepcional, da qual a mulher precisa fazer uso por toda vida fértil, se não desejar engravidar.
É comum, hoje, abrir um jornal ou revista e encontrar a "contrapartida" comercial por detrás de qualquer nova descoberta, de qualquer matéria, inclusive aquela que, de tão inocente, aparentemente, só traz benefícios...
Nossa, já falei muito...
Bjs, Eliane, e inté!
ººº
Essa TPM é phoda.
Abç's___incongruentes
Acho que meu caríssimo JOTA ENE não entendeu o texto.
Eliane F.C.Lima
ººº
Caríssima Eliane, toda a razão p'lo seu lado... apenas me baseio nos relatos que encontro aqui e ali ... nesta blogosfera.
E não são tão poucos como isso, agora se me disser que há mulheres que controlam esse estado de ansiedade melhor que outras, não sou tecnico para avaliar tal desiderato.
Fique bem e Carpe Diem
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