A tênue separação entre agressor e vítima
Eliane F.C.Lima
Ler jornais ou assistir a eles na TV é deparar-se, até a exaustão, com a violência. Ao eterno ressuscitar da pena de morte vêm juntar-se outros mecanismos tão punitivos quanto inócuos, como a redução da maioridade penal. Os tolos de plantão não se colocam a questão: se para os maiores lei e cadeia não faz efeito, por que funcionaria com os menores? Não querem corrigir um problema, querem sumir com ele. Mas não é esse o tema de discussão deste artigo. Quer tratar, isso sim, de uma violência sutil que não tem espaço nas páginas de jornais e nem sequer é percebida pela sociedade: a violência do cidadão comum. O desavisado que desejar sair, por exemplo, às seis da manhã para caminhar, correrá o risco concreto de ser atropelado em todos os sinais fechados onde tentar atravessar. Reclamando, será xingado por motoristas atrevidos, todos "cidadãos de bem." A cena se repetirá com frequência até sobre as calçadas, onde os "honestos", ora estacionam, impedindo a passagem de pedestres, ora manobram seus carros. O perigo piora se ele dirigir uma das motos, que transitam na calçada a toda velocidade, mormente se for um dos muitos entregadores do comércio. Sem falar nos "pacíficos trabalhadores", que, com todas as rodas sobre as calçadas, descarregam seus caminhões; ou nos "chefes de família", que, nesse caso, descarregam suas crianças na escola. o que mais chama a atenção é que esse "pacato cidadão", que se autodenomina "vítima da violência" tem, na maioria dos casos, mais de trinta anos. Não são jovens se exibindo, coisa natural da idade. E com certeza, também, seu comportamento não é guiado pelo propósito deliberado de incomodar. O que ocorre, no entanto, é que o outro não existe para ele, que só enxerga a si e à sua própria satisfação. Pais e filhos andando sobre a calçada, atravessando sinais fechados não são considerados; família é só a sua. A preocupação aumenta ao se ver que tal comportamento desviante não é encontrado em um estrato específico da sociedade, domina-a como um todo. São essas mesmas pessoas, que ao primeiro sinal de agressão daquele a quem ignora todo dia e o dia inteiro, cinicamente, pede a pena de morte ou veste uma camisa branca com a palavra PAZ e vai fazer passeata no Leblon.
Eliane F.C.Lima
Ler jornais ou assistir a eles na TV é deparar-se, até a exaustão, com a violência. Ao eterno ressuscitar da pena de morte vêm juntar-se outros mecanismos tão punitivos quanto inócuos, como a redução da maioridade penal. Os tolos de plantão não se colocam a questão: se para os maiores lei e cadeia não faz efeito, por que funcionaria com os menores? Não querem corrigir um problema, querem sumir com ele. Mas não é esse o tema de discussão deste artigo. Quer tratar, isso sim, de uma violência sutil que não tem espaço nas páginas de jornais e nem sequer é percebida pela sociedade: a violência do cidadão comum. O desavisado que desejar sair, por exemplo, às seis da manhã para caminhar, correrá o risco concreto de ser atropelado em todos os sinais fechados onde tentar atravessar. Reclamando, será xingado por motoristas atrevidos, todos "cidadãos de bem." A cena se repetirá com frequência até sobre as calçadas, onde os "honestos", ora estacionam, impedindo a passagem de pedestres, ora manobram seus carros. O perigo piora se ele dirigir uma das motos, que transitam na calçada a toda velocidade, mormente se for um dos muitos entregadores do comércio. Sem falar nos "pacíficos trabalhadores", que, com todas as rodas sobre as calçadas, descarregam seus caminhões; ou nos "chefes de família", que, nesse caso, descarregam suas crianças na escola. o que mais chama a atenção é que esse "pacato cidadão", que se autodenomina "vítima da violência" tem, na maioria dos casos, mais de trinta anos. Não são jovens se exibindo, coisa natural da idade. E com certeza, também, seu comportamento não é guiado pelo propósito deliberado de incomodar. O que ocorre, no entanto, é que o outro não existe para ele, que só enxerga a si e à sua própria satisfação. Pais e filhos andando sobre a calçada, atravessando sinais fechados não são considerados; família é só a sua. A preocupação aumenta ao se ver que tal comportamento desviante não é encontrado em um estrato específico da sociedade, domina-a como um todo. São essas mesmas pessoas, que ao primeiro sinal de agressão daquele a quem ignora todo dia e o dia inteiro, cinicamente, pede a pena de morte ou veste uma camisa branca com a palavra PAZ e vai fazer passeata no Leblon.
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