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terça-feira, 29 de setembro de 2009

Quando o preconceito surge desde a escola - Comentando...4

Eliane F.C.Lima

O patinho feio


Um ovo de cisne, por engano, é chocado por uma pata, junto de seus próprios ovos. Ao nascer a avezinha, claro, revela-se diferente e é maltratada por todos, desde sua família, até os outros animais do terreiro.
Humilhado, acaba se afastando de casa e passa por vários dissabores, durante algum tempo.
Um dia, sem querer, encontra um bando de cisnes e vê, surpreso e feliz, que são todos iguais a ele. Na verdade, ele é um cisne e o mais belo de todos.

O preconceito ensinado na escola
Eliane F.C.Lima

A história acima, com um final supostamente feliz, é contada a muitas crianças, sem a menor avaliação crítica, mesmo nas escolas.
Na verdade, ao ouvi-la, instaura-se na criança, a discriminação ao diferente. O patinho feio só deixa de ser triste, quando se junta a seus iguais. E todos os outros bichos têm suas atitudes validadas por estarem negando, com justa razão, prova a história, a inclusão, no meio deles, de alguém que não está dentro dos padrões. Um cisne não é feio, mas, ao imaginar-se pato, ele se mostrava diferente.
E a história aponta para um final apaziguador, até vitorioso para o patinho, que era o cisne mais bonito. Todos ficam contentes e ninguém se revolta pelo fato do patinho, realmente, ter sido expulso pela opinião pública. "Cada qual com seu igual" - desde que não seja mulher e mulher ou homem e homem - ou "Cada macaco no seu galho": é a louvação dos velhos ditados preconceituosos, ensinados desde a mais tenra idade para as crianças.
Por que ninguém se faz a pergunta crucial: e se ele não fosse um cisne, mas simplesmente um patinho realmente feio e diferente? Nesse caso, ratifica a mensagem do continho infantil, pau nele! E os jornais continuam a estampar a morte de homossexuais, em um mundo heterossexual, de mulheres em um mundo feito para homens, de negros, em um mundo de brancos, de imigrantes, em um continente feito para Europeus.

4 comentários:

Sonia Schmorantz disse...

A história do patinho feio, visto deste modo, ficou muito interessante!
Beijo, ótima quarta

L. Rafael Nolli disse...

Eliane, gosto muito desse ponto de vista. Dessa análise que vai além do superficial e revela toda a trama escondida no texto - que infelizmente é aceita de forma inconteste. Fora com essas concepções eurocêntricas! Agora o que me pegou mesmo foi a seguinte frase em seu perfil: "É urgente modificar o cânone, feito por e para homens." Já é hora!, pra ontem se possível! Prazer em conhecê-la! Abraços!

Anônimo disse...

É mesmo, Eliane!
Você é uma danada de inteligente que fica pensando profundamente sobre as coisas da vida e da literatura e eu ... A-do-ro isso!
Obrigada por abrir meus olhos!
Beijão

ju rigoni disse...

Pois é, Eliane! Duas excelentes publicações (Comentando 4 e 5)que abrem esse estranho leque que deixa as crianças sem ar...

Histórias que de infantis não tem nada. É mesmo uma sacanagem! Conversa colorida de gente grande, com objetivo único de que as crianças assumam suas rejeições, suas posturas diante da vida. "Meu filho não pode pensar/ser diferente de mim... Ora, é o MEU filho!"

Infelizmente, e ainda que as histórias sejam bem outras, isto ainda é uma realidade.

bjs, Eliane. Inté!